Capítulo 18 - Penúltimo.

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As festas de final de ano passaram voando, após nosso presente de Natal consumado, Áustria e eu tivemos um belíssimo final de ano, passamos na casa de uns primos dela, foi divertido devo admitir, principalmente na parte que nós dois ficamos bastante porres e acabamos nos jogando na piscina. Sim, você leu bem, ficamos porre, foi a primeira vez dela enfrentando essa triste realidade, apesar de ela não poder beber muito, por conta do câncer, acabou exagerando na cerveja e quando demos por si, estávamos na água nos molhando e vendo os fogos sendo queimado numa noite estrelada do dia 01 de Janeiro.

Dalí a alguns dias, eu iria viajar para Florianópolis, foi uma oportunidade que me surgiu meses atrás de uma palestra com um grande historiador, só que para que eu pudesse assistir e ganhar horas, deveria ter boas notas e nunca faltar, e bem, eu era um bom aluno, isso nunca escondi de ninguém. E em novembro, recebi um e-mail da faculdade dizendo que eu tinha sido contemplado com meu nome nessa palestra e que a viagem seria no dia 18 de Janeiro. Para ser sincero eu não havia comentando com Áustria a respeito dessa viagem, talvez, porque nem eu sabia se iria acontecer de ser aprovado, mas agora só faltava 10 dias e sendo do jeito que sou, precisava avisá-la o mais rápido possível ou iria esquecer e geraria aquela enorme brigas de namorados.

Estávamos almoçando no refeitório quando decidi puxar o assunto. Me sentia um tanto constrangido por conta disso, mas era necessário, só esperava sair vivo dessa conversa, seja o que Deus quiser.

— Aus, preciso te dizer uma coisa. - coloquei o garfo do lado da comida e olhei pra ela.

Ela continou comendo, nem sequer olhou para mim, os olhos estavam voltando para o pedaço da carne que ela tentava cortar com a faca cega que possuía em suas mãos. Estranhei aquela atitude, geralmente Áustria sempre era solicita quando eu falava com ela, isso era um mal agouro. Pigarrei e voltei a falar:

- Aus, sério, preciso falar contigo, pode me olhar? - indaguei. Minha voz era um sussurro.

Quando ela olhou para mim, vi uma fina lágrima descer pelo seu olho direito, levantei a sobrancelha e fiquei perplexo. Por que Áustria estava chorando? Aquilo sem dúvida me deixou muito preocupado, e queria saber logo do que se tratava daquele choro. Peguei em sua mão e com meu dedo acariciei a palma da mesma, fazendo círculos sobre a pele macia que ela possuía.

- Aus?

- Oi? - choramingou.

- O que houve?

- Eu sei o que vai falar, Renato. Eu sei, só não pensei que fosse ser tão rápido e tão perto daquilo.

Então era isso, ela sabia. A única pessoa que sabia da minha viagem era minha mãe, quando eu chegasse em casa eu iria falar poucas e boas para ela, mas no momento eu deveria me preocupar com a reação de Áustria, o fato surpresa já havia acabado, mas ainda pairava no ar a dúvida se ela realmente estava bem. Vi passando a mão sobre o nariz e pegar um lencinho para limpar os dedos. Nos encaramos e um silêncio mórbido se instalou sobre nós dois. Ela não estava preocupada com a minha viagem, estava preocupada com outra coisa, e tinha razão, mais uma vez eu mostrei  ser totalmente egoísta nesse ponto, mas não tinha como voltar atrás, o carro já estava emprestado para o dia 17 e foi difícil conseguir assim em cima da hora, seria uma pena ter que deixar ela aqui, mas eu precisava, dependia dessa palestra para agregar valor ao meu currículo e a minha vida acadêmica.

- Eu sei, sei que fui egoísta em não ter lhe contado no mês de Novembro, mas nem eu sabia que ia dar certo, me desculpa, Aus, sinto muito mesmo. Mas bem, sempre vai ter outro ano, e sempre outra data, não será a última, isso eu te prometo! - sorri de canto para ela.

Mesmo com o meu comentário, Áustria ainda se mostrava resoluta as minhas investidas, parecia que minha namorada havia se fechado dentro de  casulo e não queria sair para mostrar as asas de jeito nenhum, eu deveria ter paciência, nem sempre era do jeito que queríamos, só queria que ela entendesse isso não seria assim tão difícil.

- Aus, é o meu futu...

- Eu sei! E você acha que eu não sei? - sua voz aumentou  e algumas pessoas próximas nos olharam.

- Ei, calma...

- Não me manda ficar calma, Renato! Olha, tudo bem, tudo bem, é o seu futuro, mas poxa, ia ser a primeira vez, e eu estava preparando... - deixou a voz morrer.

- Preparando o que? - abri um largo sorriso.

- Nada, esquece. - falou emburrada.

Então era isso, ela estava preparando alguma surpresa pra mim, e isso me deixou ainda mais feliz princialmente quando as bochechas dela coraram, e olha que é uma coisa bem difícil disso acontecer.

- Eu vou voltar, amor. É apenas 5 horas de viagem de Gramado à Florianópolis, quando perceber vou está de volta quem sabe no mesmo dia, a palestra é no dia 18 de manhã e eu vou fazer de tudo pra tá aqui no mesmo dia, quem sabe posso chegar as 18hrs, bem, isso é possível sim! - falo animado.

Ela abre um sorriso, finalmente tinha acertado em algo naquela menina, era difícil, mas uma hora saia.

- Tudo bem, Rê. Só me promete que vai dá tudo certo, por favor. - falou com uma voz dengosa.

Fiz uma careta com aquela voz, era muito estranho ouvir ela falando com aquela voz nasal e de criança.

- Se brotar essa voz de novo aí da sua garganta, as coisas ficarão sérias! Por favor, não usa mais essa voz não. - caímos na gargalhada.

Quem é você, Áustria?Onde histórias criam vida. Descubra agora