Segunda feira era sempre a mais preguiçosa pra mim, odiava ter que acordar cedo para ir a faculdade, mas alias, quem gosta? Se pudesse todo dia ser feriado na segunda o mundo seria completo e mais feliz, talvez Hitler tenha feito guerra porque odiava segunda feira, toda vez que falava disso algumas pessoas reviravam os olhos, pareciam que não gostavam do meu humor historiográfico, uma pena, pra mim mesmo.Cheguei na faculdade, como sempre, de bicicleta. Olhei para o estacionamento e vi Áustria descendo do seu carro, só agora tinha notado que era uma espécie de mini picape, aquelas que serve para transportar vidros ou armários de lojas, e era da cor branca. Até o seu carro era diferente dos demais, mas o que eu podia falar? Nada.
Caminhei até ela, bem se somos amigos era minha função ao menos ir cumprimentá-la. Ela estava de costa, ajeitando seus livros quando eu cheguei.
- Olá, Áustria. Bom dia. - eu adorava seu nome, a forma que minha língua pronunciava aquele som agudo era no mínimo, divertido.
- Oi Renato. O que faz aqui? Você geralmente nunca vem falar comigo quando chego.
Áustria, sendo fria e grossa. Sorri de canto, seu bloqueio era evidente nas segundas feiras.
- Apenas vim cumprimentá-la. Tudo bem se não quiser, não faz diferença. - revidei da mesma forma, seco e rude, dei de ombro e virei para ir embora.
- Ei, calma, esquentado! Eu só estava sendo a Áustria, desculpa. - vi um sorriso em seus lábios quando me virei.
- E eu estou sendo o Renato, desculpa também. - desdenhei da mesma forma.
Ajudei ela com os livros, já que ela carregava aquele cilindro verde. Olhei diretamente para a sua cânula, era engraçado como aquilo realçava o leve inchaço ao redor dos seus olhos, e a maquiagem dela era algo básico. Como tentasse se esconder do mundo, porém, com aquele cilindro seria impossível.
Estávamos chegando próximo ao meu banco, onde sempre sentava, ainda falta alguns minutos para a aula começar e iriamos para blocos diferentes. Ela sentou, e fechou os olhos, vi que tinha uma leve dificuldade na sua respiração naquele momento, mesmo com a cânula, pois ela inspirava de uma forma bem irregular. Me sentei do seu lado e coloquei a mão em seu ombro, um tanto receoso e ela não pareceu notar.
- Tudo bem? - perguntei.
- Não muito. Meu pulmão tá meio que.. - fez uma pausa, mais uma respiração dificultosa. - queimando.
- Posso ajudar em algo?
- Não. Ah menos que você tenha um pulmão novo e não deseje mais viver, ai sim você pode. - rebateu, de olhos fechados.
- Por que acha que vou dar meu pulmão a uma pessoa que conheci esses dias? Esse lance precisa de mais intimidade, ai sim, posso pensar. - levantei minha sobrancelha e disse de forma irônica.
Eu a vi sorri, e aos poucos els foi conseguindo respirar com uma certa "normalidade", respirei fundo e soltei o ar pela boca. Aquilo pareceu ofender ela, pois me fuzilou com o olhar, e eu apenas rir dando de ombro.
- Quando descobriu que tinha.. câncer?
- Março desse ano. Sabe quando você tem um pokemon e não quer que ele evolua? Tipo o pikachu! Então, o meu evoluiu de benigno para maligno em alguns meses. Foi engraçado, sabe? Todos pensavam que eu tinha anemia, e puf, apenas desmaiei e detectaram um nome é.. "adenocarcinoma", estranho isso né? Pois é! Desde então eu tenho meus pulmão cheios de água e ando com esse cilindro e a cânula para respirar.
Aquilo foi algo chocante e interessante de se ouvir. Chocante porque ela simplesmente confiou em mim em dizer abertamente sobre a sua doença, coisa que eu não esperava tão cedo. Veja bem, quem não tem vontade de perguntar como tudo aconteceu? Bem, até aquele momento realmente não tinha a intenção de entrarmos nesse assunto. E interessante porque ela comparou a doença com um pokémon.
- Sinistro. Eu ia te chamar para correr, mas... - meu humor, preciso controlar.
Ela sorriu, mostrando os dentes brancos e a covinha em seu queixo afundou mais, tinha gostado daquilo. Deu a hora, precisávamos tomar rumos diferentes, eu ia para o campus de ciências humanas e ela para o campus da saúde. Andamos até o corredor, eu ia para a esquerda e ela para a direita. Ao chegarmos no ponto de encontro, encarei ela e levantei a mão, para apertar. Mas, algo aconteceu além e não sei até hoje quem abraçou quem, apenas senti seu corpo no meu e um cheiro de ervas do seu cabelo, seu shampoo também era vegetariano. Áustria me soltou e sorriu de canto, virou de costa e sem dizer uma palavra foi embora.
E eu fiquei ali, parado no corredor, sem entender muito bem o que tinha acontecido. Um turbilhão de pensamentos me atinge naquele momento, minha vontade era de correr até ela e dar um daqueles beijos de cinema, mas o que faço é o inverso. Viro e vou andando para a minha sala.
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Quem é você, Áustria?
RomanceRenato sempre a olhou pelos corredores da escola, todos sabiam o quanto Áustria era uma menina diferente a começar pelo seu cilindro e cânula que usava consigo. A maioria gostava de ignora-la, pois sabiam o quanto ela grossa e de gênio forte. Sem l...