Querido diário...

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...como você bem sabe, eu nunca fui adepta de escrever em diários estúpidos sobre coisas estúpidas, mas as coisas mudaram.

Clarissa disse que escrever poderia me ajudar, até mesmo como uma forma de registro, mas no final eu só escrevo para passar o tempo.

Um ano se passou.

Trezentos e sessenta e cinco dias de agonia, desespero, tristeza e raras risadas.

A parte cômica é que hoje, quando caminhava de volta para casa tive a oportunidade de cruzar com uma rosa vermelha, perdida no meio da vegetação seca que permeia a região nessa época quente do ano.

E como você sabe, foi uma maldita rosa vermelha que trouxe o recado de Lúcifer. Ela deu início a um pesadelo que nunca acaba.

Quando me encontrei sozinha, entrei em um profundo desespero, cavei em cima daquela maldita rosa por horas, mas eu sabia que As Sombras estavam muito longe dali.

Vaguei sozinha por alguns dias, até tomar coragem de pedir um telefone emprestado e ligar para Clarissa. Nem mesmo a doçura da voz de minha irmã conseguiu preencher meu coração desfalecido.

Pelo Anjo! Eu pareço uma adolescente dramática.

Bem... Continuando meu relato...

Jonathan e Clarissa me encontraram o mais breve possível após a ligação, eu não queria conversar naqueles dias, não queria dividir o que sentia e minhas lembranças com absolutamente mais ninguém.

Infelizmente meu querer tinha uma relevância nula em minhas decisões e eu precisava de ajuda para elaborar um plano. Se por um lado a ausência dO Anjo me desolava, por outro ainda havia Hastiel e ele precisava de mim.

Quando cheguei na humilde casa de fazenda do caçador, percebi os pequenos e sutis toques que indicavam a esporádica presença de Dulce e a constante estadia de Clarissa.

Durante algumas semanas dividi o quarto de hóspedes com minha irmã e não havia uma noite que eu não passasse lendo as anotações que ela escrevia em um diário com uma capa preta e desgastada de couro.

Talvez eu tivesse subestimado a capacidade de Clarissa em ser uma caçadora, mas certamente nunca havia questionado sua facilidade em aprender. E ali estava ela, escrevendo uma enciclopédia de tudo o que sabíamos.

Eu cheguei para agregar uma quantidade muito maior de informações, minha irmã passou dias escrevendo tudo o que contei, enquanto Jonathan nos observava atentamente.

Nós dois conversamos pouco, nossa dor se comunicava por nós.

Quase um mês depois de meu retorno que decidimos entrar em contato com minha família. A essa altura eles já deveriam saber que eu estava no mundo mortal, mas ninguém me procurou.

Também precisava me encontrar com Hastiel.

Meu último ano foi o verdadeiro inferno e qualquer coisa que havia passado em minha vida não se iguala ao desespero de cada segundo desses dias. Trezentos e sessenta e cinco dias que foram planejados entre Clarissa, Jonathan e eu.

Traçamos um plano repleto de falhas, mas não havia tempo para pensarmos em algo pleno e irredutível. Eu precisava salvar o General.

Imortal - O RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora