Capítulo 18 - Invasor

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Outra noite de insônia.

Todos os pequenos castelos que havia construído, desmoronavam em escombros pouco sólidos.

Nunca havia tido muitos amigos, minha família era rígida e regrada, meus amores eram sinuosos. Independente das características singulares, o pouco que tinha era suficiente para me sustentar de pé.

Agora não tinha nada.

Eu andava em círculos no meu quarto, tentando evitar pensar o que meus pais poderiam estar passando. Tentando evitar cogitar a ideia de que Clarissa estaria prestes a ter um fim parecido.

O silêncio ao meu redor incomodava e me motivava a sair daquele quarto sufocante.

Os corredores do castelo pareciam bem maiores quando imersos na escuridão. A tapeçaria criava formas distorcidas e, para alguém menos desavisado, poderia causar um pequeno ataque cardíaco.

No quarto andar, além dos quartos já tão bem conhecidos, haviam algumas portas e passagens. Eu nunca havia me interessado por nenhuma delas, mas naquela noite de insônia decidi testar a sorte e ver se encontrava alguma aberta.

Mantive-me nesse exercício de testar as maçanetas por alguns minutos, até que encontrar alguma que realmente abrisse.

Não havia qualquer rastro de luz no cômodo, então tive que deixar meus olhos se acostumarem com a escuridão. Pude perceber pela dificuldade em respirar que tudo ali estava empoeirado e, por entre a penumbra, distingui as formas de uma cama e uma penteadeira.

Provavelmente mais um quarto de hóspedes sem qualquer uso, o que me levava a perguntar o que motivou O Anjo a construir um palácio tão grande se não tinha expectativa de ter muitas visitas.

Percebi que minha ideia de explorar o castelo era chata e eu estava preguiçosa de ir para os demais andares de serviçais. Caminhei vagarosamente de volta a meu quarto, sentindo o sono chegar gradualmente.

Foi quando eu vi.

Um vulto se esforçava para abrir a porta, sem fazer qualquer barulho, com uma chave mestra.

Encostei o corpo em um pequeno vão da parede, onde Lúcifer ostentava seus vasos milenares e um espelho de bronze. Abaixei o suficiente para ficar escondida na sombra da parede e continuei observando.

O vulto não era muito mais alto que eu, usava calças apertadas a se julgar pelo desenho de seu corpo. Não conseguia ver muito além dessas características, mas uma coisa era fato, ele sabia exatamente o que estava fazendo.

Rapidamente ele conseguiu entrar no quarto. Mal tive tempo de me ajeitar em minha posição nada confortável quando, poucos segundos depois, o vulto saiu e tornou a trancar a porta.

Ele viria em minha direção, mas eu estava absorta pelas sombras e certamente não seria vista. Permaneci abaixada até que ele passasse por mim, esperando conseguir identificar mais alguma coisa.

Num passo rápido e silencioso o invasor passou por onde eu estava. Senti meu coração acelerar conforme ele se aproximava. Sua presença emanava uma energia de excitação, era perceptivo que a adrenalina pulsava em suas veias e eu quase conseguia ouvir as batidas de seu coração.

Pude sentir seu perfil floral e notar que suas mãos tinham dedos longos e finos.

Pensei em segui-lo, mas não seria inteligente, não sabia de quem se tratava e poderia ser qualquer pessoa, até mesmo um dos rebeldes.

Esperei tempo suficiente para que ele se fosse e corri até meu quarto. Quase não consegui entrar, minhas mãos tremiam e acabei derrubando a chave duas vezes no chão.

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