capítulo 2

847 98 43
                                    

Enquanto eu descia as escadas, passava um filme na minha cabeça. Tudo o que tinha vivido ali, minha infância, adolescência, todas as alegrias e dramas que marcaram minha vida até agora.
Maya já estava na sala se despedindo da minha mãe, ela estava com uma cara de choro que só de olhar já me partia o coração.

-- Tia Helena, vou sentir muita falta do seu bolo de chocolate, da sua lasanha e não sei como vou sobreviver sem o seu rosbife. -- Disse Maya à minha mãe.

-- De mim, pelo visto, não vai sentir falta nenhuma. -- Disse minha mãe rindo.
Ela era sempre bem humorada, acho que puxei isso dela, além de ser uma cozinheira de mão cheia, o que era um dos grandes motivos para as visitas surpresas de Maya durante as nossas refeições. Quem poderia culpá-la? Minha mãe cozinha cada coisa gostosa que é de comer rezando, e só de lembrar me dá água na boca. Minha mãe tem 40 anos, tem olhos pretos, cabelos castanhos e um corpo de curvas perfeitas. Continua a mulher mais linda que já vi, ela tem a beleza mais pura que se pode ter, além de ser uma mulher a quem o tempo só fez bem, ficando ainda mais bela. É dona de um coração imenso e virtuoso, o que a torna uma pessoa muito querida cujo a companhia é sempre muito agradável.

-- Venha cá filha, me dê um abraço, sei que é difícil para você ir. Também é muito difícil para nós deixar você partir. Eu e seu pai estamos muito orgulhosos de você querida, da filha maravilhosa que criamos, e está na hora de você seguir seu rumo e ir para o mundo. Sei que se sairá muito bem sozinha, terá a Maya ao seu lado para tudo e, sempre que sentir saudades, é só ligar. Quem sabe até vir passar o fim de semana em casa.

Me aconcheguei nos braços da minha mãe, um abraço cheio de carinho daqueles que traz paz, eu ia sentir muita falta disto.

-Agora vá se despedir do seu pai que acordou e desde cedo se trancou naquele escritório. Você sabe o quão difícil é para ele tudo isso, afinal vocês dois sempre foram uma coisa só.

Eu e meu pai sempre fomos muito próximos e, com certeza, me despedir dele ia ser muito doído.

Fui em direção ao escritório e bati na porta, então meu pai veio atender. Pela cara dele, me pareceu que não tinha dormido a noite, seus lindos olhos verdes os quais eu havia herdado, estavam rodeados por olheiras que denunciavam a falta das horas de sono não dormidas.

-- Olha só para você! A minha menina já não é tão menina assim. --Disse me abraçando.

Meu pai, apesar de seus 46 anos, ainda era um homem bonito e bem cuidado, resultado de seu cuidado com a saúde, alimentação e a prática de atividade física. Ele tem os cabelos negros e olhos tão verdes quanto uma esmeralda, um homem alto e elegante, inteligente, divertido, generoso e de bom coração. Eu era perfeitamente capaz de entender o porquê da mamãe ter se apaixonado por ele e o fato dele ainda arrancar suspiros por onde passa.

-- Vou sentir sua falta pai. --Disse eu sentindo meu coração diminuir, ficando do tamanho de uma azeitona.

-- Eu também vou sentir a sua Liz. Me promete ligar sempre? Se acontecer alguma coisa me ligue. Vou correndo até você.

-- Melhor ir de carro porque, afinal, são quilômetros de distância, o senhor pode ir parar no hospital por desidratação. -- Eu disse fazendo graça para quebrar o clima de melancolia.

-- Muito engraçadinha, como sempre. Porém preparo o físico para isso eu tenho, eu já corri algumas maratonas e você sabe que gosto de desafios. Por você minha filha, eu dou a volta ao mundo a pé se for necessário. --Meu pai disse fazendo careta

-- Vou lhe dar um presente, quero que saiba que é muito importante que fique com este medalhão, ele está há anos na família. Sempre é passado para uma descendente do sexo feminino assim que esta completa seus 18 anos. Deveria ter te dado no dia do seu aniversário, mas resolvi esperar para lhe dar hoje. Como minha mãe não teve filhas, ela ficaria muito feliz em lhe dar este presente. Ela me fez prometer que lhe daria este presente, espero que lhe traga sorte e cuide bem dele para que um dia possa dar à sua filha, quem sabe.

Disse meu pai me entregando uma caixa de madeira totalmente decorada, que por si só já era um belíssimo presente. Quando abri a caixa, vi um medalhão lindo de prata no formato de uma lua com uma pedra azul que, a julgar pela beleza, só podia ser uma safira.

-- Meu Deus,Pai. isso é lindo! Minha nossa, não posso aceitar. É demais para mim, do jeito que eu sou desastrada vou acabar perdendo.

Meu pai achou graça do meu desespero.

-- Deixe de coisa Helize Castheline, é seu. Venha aqui, deixa eu pôr em seu pescoço.

Assim que meu pai prendeu o medalhão, eu senti uma certa familiaridade com a peça, como se ela já tivesse me pertencido em algum momento, num passado distante. Assim que tentei abrir para ver o que tinha na parte interna do medalhão, percebi que não conseguiria. Vendo minhas tentativas, meu pai comentou:

-- Ninguém jamais conseguiu abrir. Até hoje está emperrado, levei a alguns joalheiros e nenhum deles conseguiu abrir.

Fiquei intrigada com aquilo e notei uma inscrição na parte de trás do medalhão: "sempre e para sempre um do outro C.E".

-- Bela inscrição, não é? Às vezes me pergunto a história desta peça. Será que realmente houve um "para sempre"? Infelizmente nunca tive respostas para essa pergunta.

-- Obrigada pai, é lindo. Adorei!

Nesse momento, Maya entra no escritório interrompendo o nosso momento novela das 9.

-Eu odeio ser estraga prazeres e interromper uma cena tão emocionante e tal, mas tá na hora de irmos.

Fomos todos até o portão da minha casa, onde papai pôs minhas malas no carro que eu e Maya compramos juntas. Nos despedimos mais uma vez e então entramos no carro. Assim que viu meu presente, Maya comentou:

-- Belo colar, isso sim que eu chamo de presente de despedida. Meus pais me deram apenas uma caixa de bombons e um "tchau filha, já está mais do quê na hora de ter sua própria vida e parar de destruir nossa dispensa". Quer um? -- Disse Maya, estendendo a mão para me oferecer um bombom

Nos olhamos uma para outra e começamos a gargalhar, nunca vou entender para onde vai toda a comida que aquela menina come pois, por mais que ela coma tanto, o corpo continua perfeito. Não engorda uma grama. Olhei para trás uma última vez, dei um tchauzinho aos meus pais e voltei a olhar para frente.

-- Rumo a uma nova vida? -- Perguntou-me Maya, dando partida no carro.

-- A uma nova vida. -- Eu disse.

Mal sabia eu o quão nova ela seria...

Sempre E Para Sempre(COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora