Capítulo 1

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Tyler On

  Meu nome é Tyler Seahelm. Todos costumam me chamar somente de Tyler, e meu único amigo verdadeiro me chama de Tay. Tenho 16 anos e moro em Stamford, em Connecticut. Nasci em Portland, Oregon. Morei lá até meus 13 anos, mudando pra Stamford em uma oportunidade de emprego de eletricista para meu pai, mas a vaga era apenas uma cilada, e agora ele atende à domicílio, o pouco que recebe vai para as bebidas. Minha mãe nunca foi presente. O tipo de mãe que todos falam, que deixam de pensar em si mesmas pra fazer algo pros filhos, é só conversa pra mim: minha mae estaria disposta a tirar minhas coisas pra conseguir as dela.

  Quando descobri que minha família estava realmente decaindo, decaí junto. Minhas notas na escola iam de mal a pior. Estudava pela manhã em uma escola do estado, no primeiro ano do ensino médio. Desde quando cheguei aqui, na sétima série, sou perseguida por pessoas falsas ou ignorantes, o tipo de ser que te dá repulsa quando olha nos olhos. O tipo de pessoa que esfrega sua cara no chão como um pano sujo somente pra afirmar sua ideia de submissão ao mundo. Meu único amigo, Jimmy, mora na cidade vizinha e frequenta a escola de Stamford, o que não nos permite ter muito contato. Na oitava série foi ele quem me defendeu quando uma menina loira que gostava de implicar com todo mundo resolveu me jogar na quadra externa de futebol cheia de lama, o que agora me renderia boas gargalhadas, se a menina não lembrasse mais quem sou; já que lembra, continua sendo somente um episódio lamentável da minha vida.

  Na noite em que minha mãe saiu de casa por brigar com meu pai, saí junto. Não para acompanhá-la, não pra espairecer sobre "o quão culpada sou pelo casamento dos meus pais estar sendo destruído?" nem nada do tipo. Eu simplesmente queria encontrar um lugar pra ficar e esquecer de tudo. Peguei minha mochila, coloquei um livro do Edgar Allan Poe, uma garrafa de café e algumas barras de chocolate, e segui em frente. Passei por meu pai, que estava bêbado a ponto de me chamar de Catarina (?) e me esquecer na noite.

  Segui em frente, ate chegar na beira do mar. Era inverno, e não havia nenhum outro louco passeando na orla pra passar o tempo a não ser eu. Fixo meu olhar no céu quase totalmente escuro, e vejo uma luz. Essa luz girava, fazendo um arco iluminado da direita pra esquerda, da esquerda pra direita. Já havia ouvido falar sobre o Farol de Stamford, mas nunca tinha me interessado em procurá-lo e ver como era. Foi nesse dia que eu resolvi conhecer o meu lugar mais seguro atualmente. O Farol. Caminho mais uns 3 quilômetros pra esquerda, e chego em uma ponte.

  Essa ponte me dava acesso até a torre onde era situada o Farol. Caminho mais uns 15 ou talvez 20 minutos e chego nele. estava tudo aparentemente vazio, o que me surpreende e me faz querer desbravar o local. Ao completar a volta, descubro uma escada. Subo-a, até chegar em uma mini cabine abandonada, sem portas ou trancas de madeira. Era apenas um cubículo de concreto no meio do Farol. Mal sabia eu que aquele seria meu refúgio por tanto tempo. E é, até hoje. Fiquei lá, lendo os 13 contos de horror, tomando café e devorando as barras de cereal. A madrugada passava, e eu percebia isso através do meu relógio de pulso. Voltei somente na manhã seguinte, com as olheiras pesando sobre meus olhos e minhas pernas bambas por dificuldade de carregar meu peso de café-chocolate da madrugada.

  Essa foi a primeira vez em que fui ao local onde eu estou agora, um tanto deprimida pela prova de química da semana passada. Eu sempre fui ótima em exatas, e vejo que minha vida anda destruindo até meus antigos únicos e raros dons (da melhor forma que posso explicar). Dessa vez, trouxe Se Eu Ficar, da Gayle Forman. Segundo vídeos do youtube que vi na escola, esse livro seria o máximo. Mas acho que os textos andam me deixando sonolenta, até mesmo por que coloco Yo-Yo-Ma pra tocar juntamente quando leio.

  Já havia considerado o local, o meu lar. Trouxe alguns cobertores de casa e coloquei no chão, e improvisei uma pequena mesa, e uma caixa fechada para guardar algumas coisas. Obviamente, o local é bem maior do que o espaço que isso ocupa, mas algo me impede de habitar aquilo como um mendigo, já que só me falta um cachorro amarelo com o pêlo duro e uma garrafa de cachaça do meu pai.

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