Alice On
Ainda é noite de natal quando ouço umas batidas de leve na porta.
Suponho que são as crianças que sempre aparecem pra cantar as mesmas canções estúpidas de natal.
Escondo os cigarros, coloco a garrafa de vodka atrás da árvore de natal, - a qual estava na metade em consequência de outras noites como essa - limpo os olhos com a manga da minha blusa do Star Wars e vou abrir.
Não eram as criancinhas. Era pior. Era Lauren.
- Posso entrar? - ela pergunta.
Cerro os olhos tentando entender a cara de pau dela de aparecer na minha casa.
- O que você quer? - pergunto fechando um pouco a porta como um tipo de proteção.
- Feliz Nataaaal...- ela fala com uma empolgação fingida na voz - Quero conversar. - ela me olha meio confusa - você tá bêbada?
Eu não estava bêbada, só um pouco tonta, mas totalmente ciente de como ficar em pé.
- Pode falar daí mesmo. - eu digo.
- Lice.. eu.. eu não queria que fosse assim, eu...
- Pera, não queria que fosse assim? O quê? Lauren, porquê você tá fazendo isso comigo?
- Alice, eu sou idiota às vezes, eu sei, mas eu só queria dizer que elas nunca importaram de verdade, foi só você.
Elas? Essa palavra ecoa em meus pensamentos como um furacão. Elas. Elas. Elas. Elas. Elas.
Como Lauren conseguia fazer isso comigo?
- Elas?!?! Você enfiou a sua língua em quantas outras bocas? - eu perguntei com o sangue fervendo mais uma vez.
Normalmente eu sempre permaneço em inércia em situações que me machucavam. Não demonstrava. Odiava demonstrar fraqueza. Mas dessa vez eu não permaneci. Não era drama, era raiva. Eu sentia raiva em cada nervo do meu corpo. Da cabeça á planta dos pés.
- Isso não importa. Quer dizer, você é muito fria, asquerosa e bipolar sabe? Eu acho que eu só queria ter atenção e.. - ela falava e falava como se fosse tão normal.
Eu já não aguentava. Naqueles poucos minutos que ela estava ali, dentro de mim eu já estava gritando por socorro. Eu só queria voltar a fumar o meu cigarro em paz, sem ter que pensar no meu problema em se sentir feliz.
Encaro Lauren de um modo, um pouco, assustador. Não podia negar a beleza estrondosa da garota. A garota que eu quase disse Eu te amo. A garota que eu pensei que era pra ser minha e eu ser dela. Isso é tudo tão estranho, porquê as pessoas sentem essa necessidade de ferir alguém? Fisicamente ou sentimentalmente. Tanto faz. O fato era que isso doía muito. Eu precisava colocar um fim nisso tudo.
- Lauren... - respiro fundo. - eu espero, de verdade, que ninguém faça isso com você e espero com mais força ainda, que você me deixe em paz. Sabe? Segue teu rumo, asta la vista, que a porta bata aonde o sol não bata... O caso é que, você conseguiu. De verdade você conseguiu tornar a minha vida mais difícil ainda, satisfeita querida? Eu não quero mais você e nem essas suas desculpas horríveis, melhore.
- Mas e...
- Eu não sei aonde eu estava com a cabeça quando aceitei namorar com você. Essa coisa toda... Essa coisa toda de amor e Felizes Para Sempre é babaquice. O fato é que eu devia ter ouvido o Drew quando ele disse que os nossos signos não combinavam, mesmo que eu não acredite nessas coisas.
Eu precisava sair dali, se não a qualquer momento eu me jogaria nos braços dela novamente. E isso não era o certo. Dou uma corridinha até a árvore de natal e apanho a garrafa, pego a chave na porta e saio de frente, como que pedindo para Lauren sair dali. Ela recua.
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Satellites
RomanceUm farol, duas meninas. Um só destino. "O problema não é o que fizeram com você; mas sim o que você fez com o que fizeram."