Capítulo 10

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IAEEE GENTS desculpem a demora, desculpem mesmo,ta? Aí tá o novo capítulo de Satellites, em um pequeno tamanhinho maior pra compensar.
Queríamos pedir para que deixem os comentários de vocês, sugestões e críticas. Isso realmente vai nos ajudar a continuar escrevendo. ❤
Boa leitura, e esperamos que gostem!

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Alice On

Eu não sabia muito bem o que poderia dizer, na verdade eu nem sabia como eu fui parar ali na frente dela. Eu cambaleava pros lados, mesmo me sustentando naquela cadeira, por conta da bebida. Eu não sabia muito bem o que estava fazendo.
- Ei! - exclamo a garota, num tom que pudesse ser bem ouvido já que a música estava extremamente alta. - você faz o mesmo ritual pra acender o cigarro que eu! - digo a ela meio, ridiculamente, empolgada demais.
- Que ritual? Esse de acender o isqueiro várias vezes? - Ela pergunta um tanto indiferente.
- Siiim, eu tenho essa mania - Lhe dou um sorriso amigável e bêbado.
- Ah, sim. Legal. Eu devo esquecer o que aconteceu hoje? Algo me diz que talvez não. Mas diga sua opinião. - Ela fala passando o dedo no gargalo da garrafa.
Eu não sabia muito bem do que ela estava falando, eu não consegui a lembrar nem do que e havia comido no almoço. Mas então respondo.
- Você faz o que você quiser - digo a ela, sorrindo.
- Se fosse assim, eu já estaria dançando funk brasileiro no balcão. - Ela diz sorrindo e dá um gole na bebida. - Você quer um pouco de Whiskey?
- Pessoas que me oferecem bebidas: deveriam existir mais. Eu realmente deveria me jogar em cima de você e te abraçar agora.
Eu juro que a idéia me pareceu genial naquele instante, então eu, Alice, em todo o meu estado de bêbada inconsequente, não pondero duas vezes; dou um pulo por sobre a mesa e caio desajeitadamente em cima de Tyler. Não foi tão genial.
- Ei! - Ela diz retomando o equilíbrio. - Vai com calma. Você não parece bem. - ela me recoloca na cadeira. - Quer que eu te leve pra casa?
Eu a fito meio desnorteada. Nós estávamos de frente uma para a outra. Até bem de pertinho ela era bonita. A sua boca bem delineada e rosada, os olhos tão pretos que chegavam a ser um mistério.
Enquanto eu vagava pelos traços do rosto dela, alguma coisa doía dentro de mim e eu queria tanto fazer aquilo parar. Era tão incontrolável o desejo de chorar.
- Eu não quer voltar pra casa. - falo desviando o olhar e encarando o chão.
- Tá bem tarde. - Ela fala e vejo uma mão se aproximar do meu queixo. Tyler levanta meu rosto. - E você não pode ficar vagando por aí a noite toda, é perigoso. Eu acho que já já vou embora. Você fica bem aqui?
- Pra onde você vai?
Quando pergunto isso, vejo um olhar tão vazio nela que gostaria de poder desfazer a pergunta.
-É... - ela fala perdida. - Pra casa que eu não volto. - Ela diz e ajeita o casaco. - Vou pro farol.
O farol. Lembro que foi lá que havia conhecido ela e lembro de ter rir muito nesse dia.
- Posso ir junto?

Tyler On

Estremeço. Olho para Alice, tentando explicar que não era uma boa hora, mas seu sorriso estilo coringa me dilacerava.
- Ah, tudo bem. Mas fica na sua, viu? - Falo tentando brincar e levantando. Talvez ela me distraia. - Vamos agora?
- Vamos - ela responde, se apoiando totalmente em mim.
Eu sinto o peso do seu corpo e a seguro com um pouco mais de força.
Caminhamos pra fora do bar. A neve estava no chão, alta o suficiente para que fizéssemos pegadas pelo caminho. Sinto Alice estremecer. Realmente estava frio. Estava nevando, e Alice vestia somente uma camiseta de manga curta.
Solto seu braço e tiro meu casaco, colocando-o nas costas dela.
- Vai te aquecer mais. - falo envolvendo-a nos meus braços.
Ela agradece com um sorriso doce.
- Vai demorar pra chegar? - ela pergunta, com a voz ainda meio arrastada.
- Um pouco. - Falo apressando o passo. Dessa vez quem estava com frio era eu. - Uns 10 minutos. Você está cansada?
- Com sono - ela resmunga baixinho. Eu sabia que não era só isso, mas eu deixo pra perguntar uma outra hora. Ventava muito. E começava a me perguntar se foi uma boa idéia dar o meu casaco a ela.

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Algumas ruas depois avisto o grande gigante de metal. Apresso o passo para chegar mais rápido.
quando adentramos pela pequena porta eu eu dou um leve suspiro de alívio.
Ajeito os cobertores e coloco minha mochila como travesseiro para Alice, e me recosto na pilha de livros. Assim que deito no chão, Alice vem pra perto e me abraça forte.
- Você... Quer falar sobre o que ta sentindo? - Pergunto.
- É tanta coisa que eu tô sentindo. - ela encara o chão e dá aquele sorriso que sempre vem antes do choro.
Me preparo pra falar vários "não chora", mas ela me surpreende ao me dar um murro no ombro, que pra ela deve ter sido fofo ou meigo talvez, mas eu podia jurar que senti um osso deslocar no mesmo instante.
- Me diz o que você tem. - ela me pede com uma voz bem adocicada.
- Problema com família. Ou não-família. Tanto faz. Mas isso não importa. Você realmente não quer falar? - Eu pergunto a ela.
- Não muda de assunto não! - ela diz com uma das mãos balançando meu ombro esquerdo. - como assim "não-familia"?
- É. Não-família. Descobri que meus pais não são meus pais. - falo sentindo as lágrimas escorrerem.
Fico um pouco surpresa comigo mesma por falar isso sem nenhuma cerimônia. Talvez eu não devesse mesmo me importar. Mas acho que quando as pessoas que você chamava de pai e mãe de repente viram dois desconhecidos, faz você pensar que sempre foi enganada e que todo o resto foi mentira também.
- O que? - ela me pergunta, um pouco atônita com a situação. - como assim? Como você descobriu? Co...- ela para de falar e olha pra mim. Limpa as lágrimas. Não, o rio que saia dos meus olhos e me abraça.
- Eu cheguei em casa e eles estavam falando coisas. Acho que não me querem mais lá. Então eu não sei como, mas vou ter que viver aqui no farol e conseguir me sustentar de alguma forma. Na verdade eu nem quero continuar viva. - Falo e as lágrimas caem de novo. Quando Alice se aproxima pra secá-las novamente, eu a aperto no abraço e começo a soluçar. Sinto que fui longe demais e me encosto na pilha de livros novamente. - Mas isso vai passar.
- A dor não passa, a gente que se acostuma com ela. - ela fala, cuspindo as palavras e logo em seguida dá um sorriso malicioso. - Esse é o problema da dor, Hazel Grace, - continua a falar agora com os olhos fitados em mim - ela precisa ser sentida.
Não contenho um sorriso por ela acabar de citar a frase de Uma Aflição Imperial de A Culpa é Das Estrelas.
- É... A dor precisa ser sentida. Mas não sinto dor. Sinto como se eu tivesse sido traída por toda minha vida. Ao menos agora eu estou desperta... - Falo ignorando meus sentimentos. - Mas um dia eu vou tentar encontrar algo que me coloque no meu lugar. - Me ajeito nos cobertores. - Mas me fale sobre você.
- Ah... eu? - ela fala balbuciando as palavras - eu só queria um momento em um mundo distante.
- Bom.. Então. - eu coloco a mão por de trás da cabeça, lembrando que o primeiro livro da pilha em que estava encostada era O Mágico de Oz, que havia lido por ultimo. Retiro-o e o coloco na minha frente. Com o braço direito por cima da cabeça de Alice, e o outro braço encostado na parede, abro o livro. Folheio até encontrar a parte em que grifei a frase que mais havia me chamado a atenção.
Pigarreio.
- E você, meu amigo galvanizado, você quer um coração. - Dou uma pausa. - Você não sabe o quão sortudo és por não ter um. Corações, - Hesito. - nunca serão práticos enquanto não forem feitos para não se partirem... - Termino a frase e suspiro. - Ao menos algumas pessoas que não tem coração não precisam se sentir como nós.
Fecho o livro. Alice continuava imóvel, não falara uma única palavra. Recoloco o livro na pilha e olho para seu rosto.
- Lice? - A chamo. Ela não responde.
Obra do sono, e nada mais.
Desligo a lanterna que havia ligado para ler e vou escorregando o corpo para baixo. A cabeça de Alice permaneceu no meu tórax, enquanto ela se ajeitava. Encostou-se mais em mim e colocou o braço sobre minha cintura.
Bom, eu me senti um tanto confortada, um tanto tensa. Mas logo peguei no sono também.

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