Capítulo 12

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Alice On

Eu não podia disfarçar a minha animação. Havia uma coisa naquilo tudo, um tanto que emocionante e, claro, criminosa.
Eu e Drew passamos primeiro em casa pra checar se estava tudo bem por lá e porque eu realmente precisava de um banho.

Já era três horas da tarde. Eu e o garoto andávamos em direção ao ponto de encontro.
- Não vejo você assim faz um bom tempo. - Drew diz. Ele também não escondia seu entusiasmo.
- Assim como? - eu pergunto meio distraída.
- Animada, entusiasmada com alguma coisa.
- E isso é ruim?
- Na verdade, é ótimo te ver assim, mesmo que seja por algo criminoso. Geralmente você só fica depressiva no seu mundo emogótico indie.
Ele ri.
Não contenho a risada também.
Bato nele.
- É só que... eu sei lá. É bom me sentir assim de vez enquando. - eu suspiro - mas também não posso negar que tenho medo.
- É normal estar com medo, afinal, você pode ir presa, em cana, ir pro xadrez, ver o sol nascer quadrado.
- Mas não é por isso. É que parece que quando as coisas vão bem, sempre vem alguma coisa ruim na sequência. É como se as coisas precisassem dar certo, pra poder dar errado. - balbucio as palavras.
- Qual é Lice, rainha, viva o momento. É como aquele ditado diz: Relaxa e...
- Drew! - interrompo antes de ele terminar aquilo.
Ele ri novamente.

Chegamos no farol e Tyler ja estava lá. Olho no relógio. Era antes da hora que tínhamos combinado. Que eficiência.
- Ei, little darling, vamos às informações agora. - digo a Tyler.
- São poucas. - Ela fala encostada na parede. - É um prédio enorme e branco com um toldo branco que não diz nada, na rua principal. - Ela gesticula. - O moço falou que lá fica aberto até as nove da noite. E o local parece bem... Vigiado.
- Muito vigiado, tipo, com guardas ou com câmeras? - eu hesito - ou os dois juntos?
- Os dois. Tinha um mal encarado lá, e um menino que recém tinha chegado. Um loirinho chamado Lincoln, parecia indefeso. - Alice me olha com uma expressão de "heeeim, até o nome você sabe". - Vi no crachá dele, tá. E não vi nenhum cachorro lá. - Falo a respondendo.
- Você ta brincando, não é? - eu sinto meus nervos explodirem - e porque você não avisou? Compramos essas... malditas carnes. Ah droga, droga!
- Calma Alice. - Drew intervém - Tay, você disse "um loirinho chamado Lincoln"?
- Ao menos podemos alimentar cães de rua... - Ela fala se sentando e olhando pra mim. - Sim, Drew. - Ela o responde.
Ele sorri de orelha a orelha.
- Você tem uma puta de uma sorte - ele fala pra mim e se levanta .
Ele põe a mão no bolso e tira o celular de lá . Disca uns número.
- Alô, Lincoln? - ele volta a olhar pra mim, abre os braços, inclina a cabeça para trás e dá uma gargalhada silenciosa. Ele coloca o celular no ouvido novamente. - Então, fiquei sabendo que você ta com emprego novo...
Ele vai descendo as escadas pra ter privacidade.
- Filho da mãe! - eu exclamo sem esconder um sorriso enorme. - eu amo aquele cara.
- É, tem sorte. - Ela fala olhando pra mim.

Alguns minutos depois, Drew volta, subindo as escadas o mais rápido que pode.
- Então, tenho uma boa e uma má notícia, qual vocês querem primeiro, crianças? - ele pergunta.
Eu olho pra Tyler. Ela cutucava a sacola de carne.
- A boa. - Ela fala parando de cutucar a sacola. - A ruim já devia ser as pessoas matarem animais pra elas comerem.
Drew revira os olhos.
- Lincoln vai nos ajudar!
- Ótimo! Agora é só ir peg...
- Calma, queridinha - e fala me interrompendo. - eu ainda não acabei de falar. Eles pode nos ajudar quando estivermos lá dentro. - ele suspira - e é aí que vem a notícia ruim.
- Fala logo, Eliot! - eu digo botando pressão.
- Vamos ter que distrair o guarda "mal-encarado" que a Tyler falou, nisso ele não pode ajudar. - ele esfrega os olhos com os dedos e suspira. - e você sabe que eu odeio que me chamem de Eliot!
- Ta, ta. Como vamos distrair o guarda? - pergunto à eles e se instala um silêncio perturbador. Todos estavam pensando em algo.

Tyler On

A tarde passa devagar. Talvez seja a ansiedade que torna tudo mais complicado, mas seja o que for, eu realmente não via a hora de fazer tudo e ficar quieta novamente.
Perto das onze da noite, saímos do farol. Tínhamos de estar lá a meia noite, e, saindo a essa hora, chegaríamos meia hora antes.
Drew caminhava dando pulinhos e Alice apertava suas mãos explicando e repassando o plano várias e várias vezes. (Até que era engraçado ver ela sussurrar ou trocar de assunto quando passávamos por alguém).
Chegamos na frente do depósito. Tenho calafrios quando leio uma placa pequena na parede "sorria! Você está sendo filmado pela sua segurança."
Segurança o cacete.
Alice paralisou desde que chegamos ali. Depois de todo o caminho reclamando das retomadas de Alice, me sinto no dever de repassar o plano com Alice e Drew, que pareciam mais tensos do que pessoas prestes a roubar um carro. Né?
- Drew, você ta pronto pra se fingir de bêbado? - Falo baixinho.
- Meu amor, você não sabe que os gays atuam maravilhosamente bem? - ele responde bagunçando o cabelo que estava bem arrumado.
- Sei lá, mas se você afirma. - Falo respondendo-o e vejo que Alice chega a ficar branca de tanto nervoso. - Caramba, você tá bem? - Pergunto segurando seu ombro. - Se desmaiar lá, te deixo no meio do depósito.
- Você faria isso mesmo? - ela pergunta extremamente pasma.
- Não, né, dooh. - Falo tentando mudar a voz para alguma mais... Abobada. - Tô só brincando. Mas cuidado pra não desmaiar, temos que assistir tudo de camarote.
- Então vamos logo com isso. - ela respirando fundo.- Drew, você pode dar seu show.
Eu olho no relógio. Ja havia dado a hora marcada. A partir dali tínhamos 20 minutos até as câmeras serem ligadas novamente.
O garoto sem pestanejar sai andando em direção ao segurança. O seu andar começa a ficar torto, como se tivesse desaprendido a andar.
- Eu não sei porque eu... ainda... existo! - ele balbucia as palavras enquanto passa pelo cara.
O segurança permanece imóvel.
Drew começa a chorar como um bêbado desesperado.
- Porque ela me deixou? Porque? Pelos deuses. Ah odin, porque? - ele começa a falar mais alto.
O cara "mal-encarado" olha pra ele sem nenhuma expressão, e essa é a deixa pro segundo ato.
Drew tira no bolso uma navalha e faz o melhor pra deixá-la visível ao homem. O segurança espreme os olhos e uma expressão de susto toma seu rosto.
Ele vai até Drew, que agora está jogado no chão e quando percebe a aproximação do indivíduo faz um sinal com a mão de "positivo" o mais disfarçadamente possível.
Eu olho para Alice. Era a nossa vez.
Nos escoramos no muro até chegar na pequena porta de acesso ao depósito que o segurança vigiava.
Lincoln, o segurança loirinho e indefeso estava lá. Ele olha para nós com uma expressão de quem está as sentindo sob pressão. Olho para Alice e ela continua imóvel. A garota estava realmente muito nervosa. Pego sua mão e saímos correndo pelo depósito, rumo ao lugar onde eu tinha decorado que o carro estava mais cedo.
ESTARIA bem ali.
Paradinho, esperando por nós.
Mas não. Entro em desespero.
- Essa bosta estava bem aqui hoje mais cedo! - sussurro querendo gritar e perguntar ao Lincoln onde haviam enfiado o carro da Alice. Ou da mãe dela, tanto faz.
Caminhamos pelos corredores, procurando pelo carro, até que o encontramos, alguns metros e várias fileiras distante de onde estava a tarde. Estremeço quando ouço a porta bater.
O guarda mal encarado tinha entrado de novo. Olho para Alice em desespero e ela, em um movimento brusco, bate em mim e deixa as chaves do carro caírem no chão.
Eu realmente estava muito nervosa. Mas Alice estava em pânico. Empurro seu ombro para baixo, sinalizando para que ela deitasse no chão. Eu mal esperava por isso, mas Alice desaba sobre mim. Seu corpo magricelo quase faz fusão com o meu.
- Aw, seu saco de ossos. - Gemo de dor. - Você tá bem? - Olho para Alice. Ela chegava a estar com os olhos revirando. Ela me faz sinal com a cabeça de que estava tudo okay.
Não que eu notasse naquele momento, mas ela era uma menina linda. Sua pele branca se destacava tanto com o seu cabelo, e os seus olhos, por mais que muitas vezes aflitos, transmitiam calma. Fico alguns segundos a observando. Todas as vezes que estive perto de Alice o bastante pra ficar sozinha com ela, ela esteve sensível. Sempre se demonstrava vulnerável às situações, e depois que elas passavam... Ela simplesmente sorria. Não que isso seja fraqueza, de forma alguma. É... Fofo.
Me arrasto para baixo do carro de sua mãe e a puxo pra perto de mim, abraçando ela para que não ficássemos a vista.
- Achou a chave? - Sussurro.
- Sim - ela sussura de volta. - eu vou pegar.
Ela se arrasta mas um pouco para a esquerda, checa para ter certeza se o segurança não irá ver a sua mão esticada para fora do carro. Ela alcança a chave e a arrasta lentamente para de baixo do automóvel.
- Peguei - ela avisa.
Eu olho no famoso relógio do ursinho Pooh, e faltavam apenas 7 minutos para termos de sair daquele lugar. Eu queria saber que diabos tinha acontecido com Drew, mas seja o que for, ele precisava agir rápido.
- O que será que houve com o Drew? - Pergunto à Alice.
Ouço passos. Uma voz grave e rouca invade o local.
- Um menino idiota com cara de gay estava aí na frente. - O segurança mal humorado fala. - E imagina só! Encenando que iria se matar com uma pequena adaga, dizendo que alguém tinha deixado ele, hah! - Ele exclama rindo e brincando com a situação.
Alice grunhe de medo.
Tento fazer com que ela se acalme, mas bato com o braço na lata do carro, o que faz um barulho um pouco alto.
A dor invadia um pouco, mas tentei somente abaixar o braço sem tentar ver se estava sangrando ou se havia aberto alguma ferida.
Nem imaginavamos que o pior estava só por vir.
- Que barulho foi esse? - A mesma voz grossa e rouca invade o local. - Você ouviu isso?
- O que? - Podia-se ver que Lincoln tentava disfarçar.

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