Capítulo 3

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Tyler On

  Acordo com o livro quase todo amassado debaixo do meu braço. Olho meu relógio de pulso e dou um pulo dos cobertores. O meu relógio de estimação que tinha desde os 6 anos do ursinho Pooh nunca tinha me assustado tanto quanto hoje: 6 horas da manhã. E eu recém acordada. No Farol.

  Levanto ajeitando o cabelo e tropeçando em tudo. Arrumo as coisas o mais rápido possível. Pego a mochila e vou derrapando pelo cano da escada; estava mais acostumada com o Farol do que qualquer pessoa pudesse estar com sua casa.

  Será uma pequena rotina cansativa corrida, que terei que cumprir até as 7:30. Primeiro, ir até a minha casa, que fica há 30 minutos em passos rápidos do Farol. Depois, ajeitar a mochila, tomar banho. Se der tempo, comer algo e sair correndo pegar o ônibus às 7 horas pra ir pra escola.

  Corro o máximo que consigo até minha casa. Pulo a janela do meu suposto quarto e ajeito a mochila, indo direto pro banho. Quando saio, coloco o uniforme da escola e vou até a cozinha. 6:45. Ainda tinha 15 minutos pra comer toda a geladeira.

  Abro a porta da geladeira. O tilintar das garrafas de cerveja e o cheiro a suco de uva (que certamente era vinho) eram bem fortes. Pego uma garrafa de iogurte e fecho a geladeira. Coloco em um copo e busco o pote de biscoitos no armário.

  Delícia aquele gosto a perfume do cloro infiltrado no biscoito junto com a crocância nível isopor vencido pra maquete de escola. Levanto dando o último gole no iogurte e jogando o copo na pia. Deixo a garrafa na mesa por preguiça de recolocá-la na geladeira, e sigo pro meu quarto. Pego a mochila e pulo novamente a janela, saindo em passos lentos até o ponto de ônibus. Pego o relógio do Pooh no bolso do lado da mochila e vejo o horário. 6:55. Continuo caminhando.

  Já na frente escola, toco o sinal para que o motorista pare o ônibus e desco dele. Entro no portão da escola e encosto na árvore. Todos os dias em que chego aqui, costuma ser 7:20. Fico distraída olhando pros lados até que vejo a menina idiota se aproximar. Lauren.

  Minha expressão mudou de fox paulistinha brincando em um playground pra um bulldog sendo acordado ao som de um clarinete tocar a 5° sinfonia do Beethoven "afinado" em fá++. Bom, talvez essa tenha sido uma comparação sutil.

  Ela se aproxima, e eu vou me encolhendo para a àrvore, desejando virar um dos seus anéis de crescimento, ou até mesmo a aranha putrefada que fica escondida atrás da casca dela. Lauren olha nos meus olhos e dá um sorriso falso, um tanto repulsivo.

  Não aguento. Começo a rir quando ela começa a procurar meu olhar. Abaixo a cabeça e dou uma fungada no ar. Olho pra ela com um ar de riso e ela dá um tapa no meu rosto.

  A minha expressão de "mas o que?" poderia ser claramente notada.

- Por que ficou rindo da minha cara? - Ela pergunta, irritada.

- Tava legal. - Falo em um tom baixo. Sou uma fábrica de vacilo. Realmente não devia saber o que estava fazendo.

- Então depois vai ficar tudo mais divertido. - Ela fala e vira as costas, entrando nos portões da escola. Pensei nas animações de cadelinhas de madame que saem de rabinho empinado, mas Lauren, por incrível que parecesse, não aparentava ser o tipo de menina que grita até perder as cordas vocais quando vê uma minhoca. Ela era só... Repugnante.

  Espero os 5 minutos restantes e entro na escola. As 3 aulas pareciam 30 horas, e o intervalo pareceu a guerra fria misturada com a peste negra.

  Estava sentada na grama olhando pro meu celular enquanto brincava de fazer caretas como de costume no intervalo. Não eram caretas muito expostas, eu só gostava de mexer a boca e ver isso na tela do celular. Ouvi passos se aproximarem, o que era meio estranho, já que Jim não havia vindo a aula. Levanto a cabeça e vejo Lauren com um copo.

  Ou era só um líquido amarelo escorrendo, depois de alguns segundos. Meu instinto conseguiu jogar o celular nas pernas de Lauren, mas meu corpo não foi poupado. Eu rezaria pra que fosse urina, mas era... urina. O cheiro podia congestionar os narizes de 50 pessoas. Levanto tentando respirar sem morrer intoxicada com o cheiro daquilo, e olho pra Lauren, que sorria.

  Pensei. Se eu tenho que perder as outras 3 aulas, ela também perderia.

- MINHA MELHOR AMIGA! - Grito, abraçando Lauren e lambuzando ela de urina. - Obrigada, eu amo suco de laranja. - olho pra ela e a solto, por que já estava com mais nojo do seu corpo do que do líquido que nos envolvia. Pego meus cabelos encharcados e espremo no seu ombro.

  Lauren só me olhava, estagnada. Me olhava de boca aberta, porquê nunca havia reagido a nada do que ela tinha feito. Ou por que estava com nojo mesmo. Pego meu celular e coloco no bolso, entro na escola e pego a minha mochila.

  5 metros do portão. Calma. Minhas lágrimas largavam algum ácido do tipo realmente corrosivo a ponto de saírem naquele instante. Eu imagino que seria lindo ver na rua uma menina correndo, fedendo a urina humana, chorando. Eu corria o mais rápido possível. Corri por meia hora e cheguei em casa. Juro que tomei o banho mais longo da minha vida.



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