Capítulo 5

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Tyler On

  Depois de tomar banho, visto um blusão, e como de costume, coloco uma camisa por cima. Entro no meu quarto e vejo minha cama. Me deito nela, aproveitando o macio do colchão com as cobertas, lembrando da época em que ainda tinha uma família.

  Lembro das noites em que sentava no sofá na nossa antiga casa em Portland, com meu pai e minha mãe ao meu lado pra assistir televisão. Costumava ser telejornal, ou alguns filmes ou novelas que não eram do meu gosto. Mas algo me prendia ali. E isso era a presença deles. Lembro das tardes em que viajávamos juntos no antigo carro do meu pai, e como eles brigavam o caminho todo, enquanto eu jogava Tetris em um mini game velho.

  Viro pro lado e acabo adormecendo. Acordo por volta das 18 horas com meu pai gritando. Esfrego os olhos e pego minha mochila que tinha se salvado do cheiro a urina do acontecimento de hoje pela manhã. Coloco alguns biscoitos e mais uma garrafa de café, jogo uns livros pra dentro e me dirijo para o Farol.

  Ao chegar lá, termino Se Eu Ficar e leio a sinopse de Para Onde Ela Foi no fim do livro. Só pela sinopse, já estava cansada o bastante pra ler. Como alguns biscoitos e tomo café, ajeito meu espaço na cabine do farol, cobrindo as caixas e a mochila com o cobertor. Fiquei a madrugada toda jogando Candy Crush no celular e às vezes me divertindo no aplicativo conversor de unidades.

  Quando chegam às 6 horas da manhã, vejo no meu relógio de pulso que estaria cansada demais pra aula de hoje, e também não queria dar de cara com mais uma gracinha da Lauren. Fico mais algumas horas matando meu tempo, e por volta das 11 horas, deito a cabeça na mochila pensando na aula de química que assistiria hoje, e acabo adormecendo. Acordo por volta das 5 ou 6 horas da tarde com algo estranho de ser detectado onde estava. Vozes. Um tom feminino um tanto rouco, ecoava um barulho de choro, que minha sonolência considerou como burburinhos assim que acordo.

Alice On

  Chego em casa e passo o dia todo, como sempre, sozinha.

  Eu fico pensava nos beijos de Lauren e em como eles eram dados com paixão.

  Eu nunca disse que a amava, eu não faço muito esse tipo, mas ela constantemente dizia que me amava. As vezes me sentia mal por não conseguir falar essas palavrinhas tão simples. "Talvez eu devesse dizer", penso comigo mesma.

  Eu não sabia nem o que Amor significava de verdade, mas Lauren era minha primeira namorada e estava tanto tempo comigo que talvez amor fosse isso, né?

  Essas coisas são tão complicadas.

  Decido então que no dia seguinte eu falaria isso a ela, mas não só um "Eu te amo" assim, do nada, na lata. Na verdade eu nem sei o que fazer em uma hora dessas, eu nunca fiz esse tipo "romântica". Compraria algo pra ela no caminho que a fizesse lembrar de mim sempre que olhasse para aquilo.

  Ligo pra ela antes de dormir e digo que não iria à aula no dia seguinte, mas é claro que iria pra lhe fazer a surpresa.

  Já era tarde quando fui dormir, então no outro dia eu acordo meio atrasada com o despertador tocando Last Nite.

- The Strokes logo de manhã, obrigada força superior. - digo a mim mesma esperando mais um pouco pra desligar o despertador.

  Desligo ele.

  Rolo da cama e me levanto já indo em direção ao banheiro e tirando o blusão do Jake Bugg. Abro o pequeno armário e vejo os costumeiros remédios de sempre. Eu estava tão cheia de tomar aqueles remédios idiotas. Estava tão cheia de tudo. Mas pelo menos hoje precisa dar tudo certo.

  Pego a escova e a pasta de dente, tiro o resto da roupa e vou direto pro chuveiro. Felizmente tinha sistema de aquecimento, então tomo um banho bem quente.

Pego minha mochila/bolsa de lado coberta por botons de animes, bandas e jogos e desço as escadas e olho pra mesa da cozinha onde sempre tem um café da manhã pronto pra mim que minha mãe faz antes de sair pro trabalho que toma todo o seu tempo. Resolvo passar direto e não como nada.

  Chego na escola com um unicórnio de pelúcia na mochila e faço a minha corrida rotineira pelo campus até a entrada principal que dá acesso aos corredores. Drew não veio hoje, então eu tenho que passar looongas horas sozinha nas aulas mais chatas ever. O sinal de fim das aulas toca dando início a um alvoroço de alunos saindo de suas salas. Eu espero tudo ficar mais calmo e então sigo até a sala de Lauren. "Eu nunca disse isso, mas eu acho que eu te amo", não não, "Amar, amar, amor, seja do jeito que for" fico repetindo frases pra mim mesma pra não travar na hora.

  Avisto a porta da sala de Lauren e acelero mais o passo. Dobro na entrada abrindo a boca pra falar alguma coisa gentil pra ela, mas logo fico ali parada de boca aberta vendo a minha namorada beijar outra menina. Fico alguns segundos ali, sem saber o que fazer. Sinto uma onda de raiva e ódio e tristeza tudo de uma vez. Aqueles sentimentos já eram meus conhecidos.

  Não falo nada, apenas me retiro dali em silêncio ainda não acreditando no que havia visto. Saio da escola com o unicórnio de pelúcia nas minhas mãos e ando pelas ruas por algumas horas sem rumo.

  Eu sentia tanta vontade de chorar, de gritar, de xingar alguém, mas tinha pessoas por ali e eu odiava ainda mais chorar na frente de alguém.

  Mais a frente avisto o mar e corro em direção a ele. Fico lá olhando as pequenas correntezas indo e vindo e penso em como seria se eu apenas ficasse ali, pra sempre, só deixando as minhas lágrimas se misturarem com aquele mar.

  Olho ao meu redor e vejo um luz passar pelos meus olhos rapidamente, e de novo, e de novo. Vou andando até ela e vejo um grande Farol abandonado com listras vermelhas e brancas.

  Fico curiosa e entro pela pequena porta que tem na base dele. Dou logo de contra com uma escada enferrujada. Subo os degraus e o fim dela levava para uma cabine. Estava meio escuro já que se passava das cinco horas e a luz que entrava pela pequena janela da cabine era bem fraca. Apenas sentei em qualquer canto sem nem inspecionar o local primeiro. Só me joguei, encolhi os joelhos, apoiei a cabeça neles e comecei a chorar.


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