Capítulo 3

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Mila

—Bom, então vamos pensar como garotos de... Quantos anos seu irmão tem?

—Ele tem cinco anos.

—Certo, vamos pensar como garotos de cinco anos.- disse animadinho. —Se eu tivesse sozinho em um aeroporto, aonde iria me esconder?

Me pus a pensar um pouco e logo a resposta veio em minha cabeça.

—Já sei! - Como não pensei nisso antes?

Disparei porta afora, sabendo que logo ele estaria atrás de mim.

Claro que achei estranho que ele queira me ajudar agora, mas o que ele falou pareceu bem sincero. Talvez o estressado só esteja em um dia ruim.

—Para onde você acha que seu irmão foi? - Nick perguntou assim que me alcançou.

—Léo ama doces, e pelo que vi tem uma loja de doces em algum lugar do aeroporto, mas não lembro onde.

—A única loja de doces aqui, é Candie's. Não fica muito longe de onde estamos.

—Ótimo! Você vai comigo até lá?

—Sim, vamos é... por aqui.

Caminhamos em silêncio por uns quinze minutos, teríamos ido mais rápido se eu não estivesse com a mochila do Léo e a minha. O estressado ia na frente, parecia reclamar ora ou outra, mas as vezes até pareceu que ele queria puxar assunto comigo.

Esse estressado é estranho, mas não posso ficar chamando-o assim.

—Não posso ficar te chamando de estressado.- cometei, o que o fez parar e se virar para mim. — Se você está me ajudando preciso saber o seu nome.

—É Nick.

—Hum... Nicholas?- ele assentiu meio contrariado. —O meu é Mila.

—Mila? É apelido também, não é?

—Bom é, mas no meu caso não, meu pai sempre gostou de nomes curtos.- dei de de ombros. —Minha avó por parte de mãe diz que isso é só porque ele é um baita de um preguiçoso.

—Ah, entendi.

Sua careta foi como a maioria das pessoas quando conto essa história. Sempre parece que as pessoas ficam com dó de mim por pensar que nas brigas familiares, mal sabem elas que nem é tão ruim assim.

— Bom, chegamos a loja de doces do aeroporto.

—Está fechada?

—Pelo visto, está sim. - ele olhou em seu relógio e pareceu espantado. —Já passou da meia-noite.

—Nossa, esse lugar é tão grande que nos faz perder a noção do tempo.

Me aproximei da vitrine tentando olhar o interior escuro da loja, chamei Léo, mas não tive resposta. Já estava voltando a ficar apreensiva, onde mais meu irmão poderia estar?

—Parece que não há ninguém aqui e não há mais lojas de doces.

—Minha mãe vai acabar comigo.

—Desculpe dizer isso, mas a culpa não é sua e sim dela. Onde já se viu deixar os filhos viajarem sozinhos em véspera de feriado.

—Ele estava sobre a minha responsabilidade. - continuei a falar sem ligar para o que ele disse.

—Como se você fosse de maior para ter tanta responsabilidade assim.

—Mas eu já sou de maior, tenho 21. - respondi.

Nick olhou bem para mim, dos pés a cabeça, um tanto descrente, o que só me deixou mais envergonhada.

Tudo bem que ultimamente tem muitas garotas por ai, no auge dos seus quinze anos que são mais altas e se pintam como, ou até mais, que mulheres de 35 anos, mas dai a me chamar de pirralha é bem diferente.

—Você não acredita, né? Tudo bem, estou acostumada com isso.

—Eu não disse nada.

—E nem precisa, estou acostumada a receber esse tipo de olhar das pessoas. - dei de ombros. —Bom, tenho que continuar a procurar o meu irmão, se você não se importa.

Comei a andar para o lado oposto ao que seguíamos, mas não tão rápido quanto deveria, já que logo ele me alcançou.

—Já tem ideia de outro lugar para procurá-lo?

—Não e pra falar a verdade estou achando que ele foi levado junto com as outras crianças desacompanhadas para o hotel.

—Você não vai para lá agora, vai?

—Sim, eu não posso deixar o meu irmão sozinho.

—Devem ter monitoras lá cuidando das crianças. Ele não vai ficar sozinho se esse é o problema.

Esse é o prolema, ele ter companhia. Se o Léo já é complicado quando sozinho imagina se ele se junta com mais um monte de crianças que estão sem a supervisão dos pais e monta um exército para caçar o papai noel do aeroporto.

Ele está frustrado porque não conseguiu avisar que não estaremos em casa, então para querer montar seu próprio levante é uma questão dele convencer alguém. E Léo é bom nisso!

—Mesmo assim, eu tenho que ir.

—Retiro o que eu disse, você não é nem um pouco irresponsável. Vai enfrentar uma nevasca só para não deixar seu irmão sozinho, você é tão responsável que chega a ser lunática.

—Não estou pedindo para você ir comigo.

—Nem se me pedisse eu iria.

—Ótimo! Sozinha eu chego mais rápido... Boa noite e caso não nos vermos mais tenha um feliz natal.

—Igualmente.- ele respondeu com um sorrisinho um tanto cínico nos lábios. O ignorei contando mentalmente até dez e segui adiante.

Caminhei solitária, até a deserta entrada do aeroporto. As portas automáticas se abriram assim que o sensor notou a minha presença ali, o ar gelado me atingiu tão forte como um tapa e eu me encolhi.

Vesti meu casaco, um par de luvas e o gorro. Dei um jeito de enfiar a mochila do Léo dentro da minha, porque quanto menos cheia estiver a minha mão mais chances eu tenho de me defender – de bichos a um possível ataque do abominável homem das neves (não que eu acredite nisso, mas nunca se sabe)

A neve caia intensamente, era impossível de se distinguir onde terminava a calçada e começava a rua. Comprovei da pior maneira que a camada de gelo estava mais alta do que imaginei. - Primeiro passo e estava atolada até os joelhos na neve, mesmo assim não desisti.

Não sei para que lado fica o tal hotel, mas se eu vim da esquerda e não vi nenhum hotel no caminho até aqui ele só pode ficar a minha direita.

Decidido o caminho que ia tomar, comecei uma série de tentativas de me desatolar, mas sem sucesso. Quando finalmente consegui soltar uma perna e estava quase soltando a outra, no impulso que tomei, acabei de cara na neve.

Vai ser mais difícil do que eu imaginei!


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