Assim que o despertador berrou a tirando do seu recém conquistado sono, após rolar de um lado para o outro na cama, pensando na vida e no Taylor. Hanna ja tinha certeza que seria uma péssima ideia ir ao Colégio naquela manhã, primeiro porque ela estava morrendo de sono, e segundo porque não ia mesmo se concentrar nas aulas. Mas sua mãe insistia que ela precisava retomar sua vida social, e isso incluía ir regulamente para a escola. Então mesmo sem vontade, ela saiu da cama, fez sua higiene matinal, ignorou o café da manhã, e partiu para o Colégio.
Sua primeira aula foi de geografia, depois foi a vez de história, seguida do intervalo, que era naquele dia a única coisa boa. Ela procurou um cantinho afastado, para tomar sua Coca Cola, e pensar, mas aparentemente ela era a atração do Colégio naquele dia, e várias pessoas queriam falar com ela, então o mais rápido possível, se desvencilhou de suas garotas do nono ano, e se esgueirou para perto da quadra, onde sabia que era o lugar perfeito para fugir do colégio, isso também tinha aprendido com Taylor. Sair do colegio não era uma tarefa difícil, desde que soubesse quando, e principalmente como fazer isso, então sem qualquer problema, ela alcançou a rua, colocando em seguida seus fones de ouvido, e rumou para casa ao som de Garotos, na voz de Lenine, ela adorava essa música. No meio do caminho aproveitou para entrar na floricultura, já se preparando para a ideia que tivera para fazer naquela tarde. Lá escolheu flores as lindas amarelas, que a moça garantiu serem as mais frescas. Saindo dali rumou para casa, onde sabia que Felipe a aguardava, ele faltaria no colegio naquela tarde, pois o plano de Hanna incluía ele, na verdade ela achava que ambos precisavam disso.
Naquele começo de tarde nublada, e de pouco vento, Hanna rumou na companhia de Felipe, para o cemitério onde jazia Taylor, no percurso trocaram poucas palavras, pois o que traziam no peito não poderia ser transmitido nem mesmo por mil palavras.
A vista do cemitério foi impossível que o aperto no peito aumentasse consideravelmente, e quase por reflexo ela apertou a mão do garotinho que estava agarrada a sua. E assim caminharam pelas alamedas do lugar, com suas mãos completamente ligadas, como se sentissem que algo a mais se quebraria se por apenas por um instante afroxassem o toque. Quando chegaram diante do túmulo de Taylor, a garota largou a mão de seu protegido, e depositou as lindas flores amarelas, que tinha comprado mais cedo no caminho da escola, até sua casa. Enquanto ela fazia esse ritual, Felipe a olhava tentando conter as lágrimas que queimavam seus olhos. Uma vez seu irmão tinha lhe dito que um homem tem que ter coragem e ser forte para defender aqueles que ama, mas ele era ainda apenas um garoto que estava assustado e dolorido demais pela perda da pessoa que mais amava no mundo. No entanto ali a sua frente estava a garota que fazia ele se sentir bem por muitos motivos, e que precisava dele naquele momento. Então ele se ajoelhou ao lado dela e a envolveu em seus braços, em um abraço confortável e firma, mas esse ato fez com que suas lágrimas contidas ganhassem vazão, e se juntassem as que rolavam do rosto de Hanna molhando o chão. Quanto tempo ficaram ali nenhum dos dois saberia dizer, mas já era tarde alta quando a garota disse que precisavam voltar para casa, para a vida sem Taylor.
No caminho de volta, já tendo derramado muitas lágrimas, eles tinham um pouco mais de leveza no olhar, era óbvio que a dor não tinha ido embora, ou mesmo diminuído, mas com certeza tinha encontrado companhia na dor do outro. Eles não tinham almoçado, e o garoto deveria estar com fome aquela hora, mas estava silencioso, então Hanna mesmo sem perguntar resolveu passar na padaria, para comprar algumas coisas, não estava com vontade de cozinhar, e sua mãe demoraria para chegar do trabalho. No estabelecimento ela deixou Felipe escolher o que queria, já chegava a dor de perder o irmão, ela não iria ficar policiando o pouco de besteiras que ele queria comer, e em algumas horas eles poderia jantar algo decente e saudável. Saindo da panificadora, eles cruzaram a meia quadra até a casa deles, sem encontrarem qualquer pessoa conhecida, e quase nenhum desconhecida, as ruas estavam quase desertas, talvez porque o dia estivesse nublado, e a previsão dizia que poderia chover no final da tarde. No entanto ela agora adorava dias nublados assim, pois eram os preferidos de Taylor, e fazia com que ela se lembrasse dele.
Quando alcançou o portão de casa notou que estava destrancado, puxou rápido pela memória, e tinha quase cem por cento de certeza que tinha trancado ele, mas talvez tivesse esquecido. Deu graças a Deus que os pais não chegaram antes dela, eles dariam um sermão. Pensando nos pais veio a preocupação com o fato que alguém poderia ter entrado na casa, seria Steven? Ela não poderia deixar ele fazer mal a Felipe. Tentou ouvir se algum barulho vinha de dentro da casa, não ouviu nada, era apenas seus instintos apavorados. A porta estava trancada conforme deixou, não havia sinal de que alguém tinha forçado. Eles entraram, e Felipe perguntou se podia jogar vídeo game, ao que ela respondeu que sim, mas só depois de tomar um bom banho, para tirar a terra do cemitério do corpo, e depois eles iam comer um pouco. O garoto correu para o quarto de hóspedes, e em menos de um minuto, ela viu ele ir em direção ao banheiro com roupas na mão:
- Eu ia arrumar sua roupa... Precisa de ajuda no banho? - Felipe não ouviu nada disso, pois já tinha fechado a porta e aberto o chuveiro. A garota apenas balançou a cabeça e continuou a tirar os pães e doces de dentro da sacola branca.Hanna sabia que o garotinho adorava passar um bom tempo no banho, então decidiu ir ela ao seu quarto pegar suas roupas, e também tomar banho na suíte de seus pais. A porta marrom madeira do quarto estava fechada, como ela gostava que sempre estivesse, quando ela passou pela porta deu de cara com seu enorme guarda-roupas, que ficava na parede oposta a porta, e já ia direto para ele, quando o pensamento de que era melhor deixar os seus anéis e o cordão em seu porta joias, localizado no criado mudo, ao lado de sua cama, então fez um giro de cento e oitenta graus, um pouco engraçado e sem jeito, e de repente sentiu todo o ar de seus pulmões fugirem de uma vez. Sua vista escureu rapidamente piscando e perdendo o foco... Por alguns segundos sentiu as pernas fraquejarem, mas conseguiu tomar controle.
Aquilo não era real, não podia ser real, era impossível, seus olhos a estavam traindo. Como poderia estar ali em sua cama, ela mesmo tinha acabado de o deixar no cemitério, como poderia estar ali agora. Ela tinha que tocar nele, por sua mão ao menos. Então se aproximou devagar, e sem como se estivesse em "slow motion" foi estendendo sua mão até alcança-lo. E ter certeza que era ele mesmo, o mesmo bouquet de flores amarelas que ela tinha acabado dedicar ao amigo. E assim que chegou a compreensão disso, sentiu o quarto sair de foco, E perdendo os sentidos desmaiou.

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Onde Você Está?
RomansaUma amizade verdadeira deixa marcas pela vida inteira de quem a viveu, erros são comuns, e geralmente perdoados. Taylor e Hanna sempre compartilharam suas dores, perigos, lágrimas, e também assim como toda amizade suas paixonites, e momentos bons, o...