14 - O tempo, a Camila e as covinhas

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Se Chronus, do alto, ordena

Se somos incautos, pena

Que há espera... passou tão lento...

Que a esfera girou, sem vento.




Três décadas e meia

Amores súbitos em vão

Vês que não chega a ceia

Prostrar, decúbito, então.




E lá pelos anos noventa

Eis que, suavemente, venta

Mas eu só tinha dezoito

Lá, se caminha, afoito.




Devia-se aguardar mais dezenove

Tempo para que se renove

Esquinas ganhas, passos dados

Aqui nas sanhas, machucados.





E o vento que passou em 1995

Suave pelas pelugens do meu queixo

Semeou, no mundo, novo ser, com afinco

Que entrar, voraz, na minha vida, eu deixo.




Façamos nossos os talhões de tempos dormentes

Adolescia enquanto plantavam a semente

E toda a desproporção cronológica

Desvenda-se, clara, então, fica lógica.




Novembro... junho...

Escada de meses em ciclos de doze

Se lembro, empunho

Espada que vezes reciclo em pose.




Para cortar intervalo tão longo

Hiato, de fato, entre dois nascimentos

Que flui, agora, se torna ditongo

Um lago, uma garça, que, agora, eu invento.




A garça a habitar tranquila

A lagoa, nossa vila

A graça de poder senti-la

Você está em mim, Camila.




Minha mão busca seu rosto

Vejo, então, nele está exposto

O que agrada e são só minhas

Suas duas lindas covinhas.




Marcelo Garbine




Poesia publicada na Revista Literária da Lusofonia – Décima Primeira Edição – dezembro de 2014 – Página 59.  

Você pode ler mais em: marcelogarbine.com.br

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