Capitulo Oito

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Miguel. O nome ecoou de forma cruel por minha mente e foi como se mil lâminas estivessem atravessando meu corpo.

Era estranho, mas agora quase ninguém ousava dizer o nome dele em voz alta.

E ouvi-lo depois de tanto tempo me desestabilizou, então desliguei-me da confusão que aquele pequeno nome havia causado e passei por eles, tentando me afastar o máximo possível daquela discussão, querendo não ouvir o que Lari disse quando Matheus gritou com ela.

Mas eu ouvi como se ela houvesse apenas gritado em meu ouvido. A velha e conhecida frase que rondava minha mente a todo e qualquer momento:

Ela sabe melhor que ninguém que a culpa foi dela, Matheus!

Sim. Eu sabia.

Atravessei corredores os quais eu nem sabia da existência, enquanto afundava as unhas na palma da mão e fechava os olhos por períodos longos demais.

—Mas meu Deus... —Daniel choramingou, quando eu me choquei a ele, —pelo que poderia ser a décima vez — nos levando ao chão. —Isso tudo é vontade de estar em cima de mim? —ele perguntou, enquanto eu me levantava, estendendo a mão para ele quase sem notar.

—Sinto muito. —sussurrei e quando ele se manteve jogado no chão, olhando com descrença para minha mão estendida, eu a recolhi e passei por ele, começando a correr.

E eu corri até o fundo do campus, onde pulei o muro, coloquei o capuz e continuei. Sem nunca olhar para trás.

O céu nublado, com apenas alguns raios de sol escapando por entre as nuvens carregadas parecia refletir algo dentro de mim. Talvez a tristeza.

Eu me sentia a beira de uma crise, querendo gritar, chorar e, acima de tudo, sorrir. Eu queria e precisava sorrir, porque se uma parte de mim se permitisse chorar e sentir, tudo em mim desabaria como um castelo de areia e não haveria nada no mundo capaz de mascarar a dor ou de erguer o castelo outra vez.

Quando cheguei a ponte que ficava no caminho para o colégio, eu me encostei ao parapeito, uni as mãos na frente da boca e juntando fôlego, gritei.

Gritei até minha garganta doer e até meu corpo entender que isso não mudava nada. E então fechei os olhos, permitindo que as lembranças perfurassem o escudo que eu havia levado anos para construir e que apenas segundos revivendo um passado inalcançável destruiria.

P-para Miguel. pedi rindo.

Você está gostando, estrelinha. Nem consegue parar de rir. disse divertido.

Senti uma lágrima solitária escorrer por minha bochecha, ao mesmo tempo em que gotas frias de chuva começaram a cair, fazendo com que eu pulasse de volta para a calçada, afinal, eu tinha um longo caminho a percorrer e ainda não era tempo de quebrar.

***

Quando eu surgi diante do portão, com o capuz sobre a cabeça e as mãos nos bolsos, os seguranças apenas me olharam feio e me mandaram entrar. Um pouco mais a frente, estava um Daniel impaciente, andando de um lado para o outro. Ele apertava  a jaqueta mais firme contra o corpo e tremia diante do vento frio que bagunçava seus fios loiros.

Revirei os olhos, seguindo para outra direção.

—Madson! —ele gritou, correndo até mim. —Eu achei mesmo que você não sabia pedir...

—Emily. —Sophia o interrompeu, surgindo atrás dele.

—Eu sei e já estou indo. —avisei, passando por eles a tempo de ouvi-la perguntar:

S.O.S Internato: A Marrenta tá na área!!!-DEGUSTAÇÃO ||LIVRO ÚNICO||Onde histórias criam vida. Descubra agora