Quando eu fui embora, já quase na hora do almoço, a Lana ainda não tinha acordado. Depois de tomar café, fiquei mais algum tempo conversando com o Edson – e, mais tarde, também com a mãe dele, que chegou do mercado – na cozinha, antes de trocar de roupa e voltar pra casa.
Aquilo por si só, eu sabia, já devia ser um indício de que o apocalipse definitivamente estava próximo. Nós não nos falávamos há tanto tempo, e eu já não tinha a menor esperança – e, admito, nem intenção – de voltar a ser amiga dele, se é que “amigos” podia ser uma boa palavra pro que nós fomos há tempos atrás. Mais ou menos, eu percebia agora, como eu e o Diego.
Diego. Meu estômago ameaçou explodir só de pensar nele, e na Marina, e nele com a Marina... Era intolerável. E agora, só agora, eu estava pronta pra admitir. Não queria enxergar, preferi me fazer de burra, mas estava mais espalhado na minha cara do que o resto da maquiagem da festa: eu estava mesmo afim dele.
Ok. Afim não. Caída. Derrubada. Gostando pra valer.
Que inferno, eu estava apaixonada por ele!
Só que agora, era um pouco tarde pra fazer um exame de consciência e começar a ser sincera. Pro inferno com os meus sentimentos, e que se dane a minha honestidade. Eu tinha um timing horrível, pra variar. E agora ia ter que aguentar aquilo sozinha.
O domingo foi um inferno. Desliguei o telefone e me recusei a ligar o computador, porque eu sabia que, no instante em que eu ficasse online, a Marina apareceria surtando pra me contar tudo sobre a sua noite maravilhosa. Por um minuto, desejei que ela não existisse, que não tivesse aparecido nunca na minha vida, ou que, pelo menos, não fosse minha meia-irmã; mas tão logo desejei isso, me senti péssima. Ela era minha irmã, e era minha amiga, e eu a amava. E nada disso era culpa dela, pra começar.
Passei o restante do meu final de semana tentando recuperar imagens perdidas da festa na minha memória. Fiquei me perguntando o que eu descobriria quando chegasse na escola na segunda-feira.
Eu não tinha nem ideia.
Segunda-feira, primeiro dia de aula. Seguindo com sua tradição irritante de começar as aulas na primeira semana de Fevereiro, mesmo com o Carnaval há poucos dias de distância, o Colégio Santa Rita de Ensino Católico abria os portões para receber seus alunos pecadores.
Encarei o fato de ninguém estar apontando para mim, nem cochichando enquanto eu passava, como um bom sinal. Pelo menos eu não tinha feito nenhum escândalo tão absurdo que merecesse ser comentado pelos corredores. Com isso eu podia viver.
De cabeça erguida, coração acelerado e muita, mas muita vontade mesmo de voltar pra casa e nunca mais sair, adentrei a escola, com medo do que eu iria encontrar. De quem eu iria encontrar, na verdade. Estava mais nervosa do que se eu tivesse de fato virado alvo de fofoca. Pensando bem, eu preferia que a escola inteira estivesse falando sobre mim do que sobre o novo casal. Mas agora não tinha mais jeito.
Na mesa em que a gente sempre ficava no pátio, para a minha completa alegria, haviam apenas duas pessoas: Marina e Diego.
Lado a lado.
De mãos dadas.
Senti o sangue sumir do meu rosto, e a garganta se fechar. Ai. Meu. Deus.
Forcei um sorriso, dei um tchauzinho à distância, e desviei do caminho, indo em direção ao banheiro.
Pra minha alegria, a Sabrina estava lá dentro, penteando o cabelo em frente ao espelho. Ela riu pra mim quando eu entrei.
- E aí, desviou do casalzinho 21 também?
Assenti, com um suspiro.
- Você também? – perguntei, e ela revirou os olhos.
- Ninguém merece ficar de vela. – explicou – Tá tudo bem? Você tá meio verde.
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O Diário (nada) Secreto - vol. 3
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