Capítulo 11 - Recado pra Você

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Embora eu ainda pisasse em ovos nos dias que se seguiram, as coisas não pareciam tão frágeis a ponto de desmoronar.

Para a minha felicidade, a reconciliação súbita com a Marina não foi caso de um dia só. Quando cheguei na escola na terça-feira, ela me deu bom dia, e conversou comigo normalmente nas aulas, no intervalo e na saída. E assim foi na quarta, e na quinta, e todos os dias depois disso. Ela até me ligou no final de semana, pra perguntar quais capítulos iam cair na nossa prova e geografia.

Eu não sabia exatamente o que aquela mudança queria dizer – que nós éramos amigas de novo, que não havia rancores, ou só que ela estava se esforçando muito pras coisas voltarem ao normal? Era difícil saber. Em nenhum momento o motivo da nossa briga foi citado, como se tivéssemos entrado num acordo mútuo e silencioso de que não era preciso falar sobre algo que só iria nos magoar outra vez. E, também como se tivéssemos combinado, nenhuma de nós sequer ousava olhar na direção do Diego enquanto na presença da outra.

Melhor assim, eu pensava comigo mesma. Melhor desse jeito, em que ninguém fica com ele, ninguém se magoa, e nós duas preservamos a nossa amizade. Somos irmãs. Não precisamos disso. Melhor deixar do jeito que está.

Na semana seguinte, mais ou menos na hora do jantar, o telefone de casa tocou. Minha mãe estava na cozinha, e eu na sala, deitada no sofá, então sabia que a deixa era minha. Depois de postergar o máximo possível, peguei o aparelho e atendi.

- Alô?

- Carlota?

Fiz um muxoxo com aquele nome horroroso que teimava em se dizer meu.

- Isso.

- Oi, é... – um pigarro – É o seu pai.

Aquilo foi suficiente pra eu me sentar bastante ereta e atenta no sofá. Ele nunca me ligava. Tipo... nunca. Alguma coisa não estava certa.

- O que aconteceu?- perguntei, imediatamente. Ele soltou uma risadinha que soava quase ensaiada.

- Tudo bem com você também, Carlota? – ele disse, e eu revirei os olhos.

- Tudo. Você?

- Tudo ótimo. Como vai na escola?

- Ahn... tudo certo. – respondi, fazendo uma careta confusa. Desde quando ele queria saber das minhas notas? Ele não ligava nem no meu aniversário!

- Certo, certo... Escuta, a sua irmã me disse que a turminha de vocês tá planejando uma viagem de formatura.

Ah. Então era isso.

Ignorando a náusea que o “turminha” me gerou, tentei soar bem educada e nem um pouco na defensiva:

- Pois é. O pessoal escolheu ir pra Florianópolis.

- É uma cidade muito bonita.

- Aposto que sim. Eles vão adorar. – e logo em seguida me arrependi da minha pequena ferroada. Mas já estava feito.

- A Marina deu a entender que você não sabe se vai ter... condições de ir. – meu pai disse, obviamente sem nenhuma ideia do que falar. Suspirei.

- É uma viagem bem cara. – afirmei, segurando todos os desaforos que tinha vontade de falar.

- Mas é a sua formatura, e a sua primeira viagem com a sua irmã. Com certeza podemos dar um jeito nisso. – ele fez uma breve pausa, e então, me surpreendendo mais ainda – Você já falou com a sua mãe?

- Não.

- Tudo bem. Passe o telefone pra ela, por favor.

- Ok.

O Diário (nada) Secreto - vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora