Capítulo 7 - No Limite

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Na segunda-feira à tarde, o Luís me ligou de novo.

- E aí, ainda presa na torre, princesa? – ele me perguntou, logo no comecinho da conversa. Eu ri.

- Você sabe que chamar uma menina de “princesa” tá há um passo de uma cantada de pedreiro, não sabe? – brinquei, e ele gargalhou do outro lado da linha.

- Droga, você descobriu meu emprego secreto!

- Secreto? Eu te vi na obra outro dia! – fiz uma pausa pras risadas, e só então continuei – Sim, ainda to de castigo. Mas eu consegui ir no aniversário da minha irmã no sábado. Já é um progresso.

- Como assim? Sua irmã não mora com você?

- É uma história meio longa.

- Eu tenho tempo.

Rapidamente, contei o drama familiar que havia se desenrolado no ano passado, pulando as partes chatas e contendo tanto quanto possível os xingamentos ao meu pai. O Luís ficou um instante mudo depois que eu terminei de falar.

- Uau! – exclamou, por fim.

- Eu sei!

- Sua vida parece uma novela mexicana, Carlota Joaquina!

- Não! – gritei, de imediato – Não. Faça. Isso.

- O quê? – ele indagou, preocupado.

- Carlota Joaquina! – repeti, com nojo – Foi meu apelido na terceira série! Nunca superei!

- Tadinha! Prometo que não falo mais nada. Chega de traumas por hoje!

- Amém!

- Então vamos ver se você me ajuda a superar o meu.

- Sou toda ouvidos.

- Conheci uma garota incrível, mas ela tá presa numa torre e a mãe dela me odeia. Agora eu quero muito encontrar com ela de novo, e não posso. To traumatizado! E aí?

Soltei uma risadinha, mas não disse nada na hora. Fiquei pensando no que responder, no que sentir. Inevitavelmente, me lembrei do que a Lana tinha me dito. Se eu gostasse dele, não estaria criando problemas.

Mas eu estava criando problemas? Tipo, eu só estava sendo cuidadosa... certo? Não podia simplesmente recebê-lo em casa. E estava de castigo, então não podia sair.

- Acho que esse seu lance tá amaldiçoado, hein? – falei, tentando amenizar o clima tenso que parecia ter se estabelecido do nada. Ou talvez fosse só a necessidade de mudar de assunto. Eu não sabia dizer.

- Será? Vou pedir pra alguém despachar esse encosto aí! – ele retrucou, e isso pareceu só piorar a situação pra mim.

Não respondi. Ao invés disso, enrolei uma mecha de cabelo no dedo e mordi o lábio com força, antecipando o que quer que ele fosse dizer a seguir. E, depois de uma pausa gigantesca, ele disse:

- Agora é sério, Lolita. Eu quero muito te ver.

- Antes não era sério? – indaguei, em tom de brincadeira, mas ele não comprou a deixa.

- Você quer me ver? – ele perguntou, sério. Engoli em seco.

- Eu... quero. – respondi. Se ele notou minha hesitação, não comentou. Pelo contrário, pareceu até bastante aliviado quando disse:

- Ótimo. Era só isso que eu precisava saber.

Que merda, pensei, sem conseguir deixar de pensar que estava dando esperanças pra ele à toa. Ou não estava?

O Diário (nada) Secreto - vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora