Capítulo 14 - Nosso Segredinho

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A Sabrina voltou uma hora depois, quando o Diego resolveu que era melhor voltar pro seu próprio apartamento, antes que meus tios chegassem e os pais dele começassem a ligar. Minha prima ficou na dela; não fez nenhuma pergunta, nem olhou diferente na nossa direção. Entrou como se nada estivesse fora do lugar e foi pro quarto.

Meus tios chegaram carregando várias sacolas e reclamando dos prejuízos do mal tempo. Segundo eles, uma parte da cerca que rodeava o supermercado havia sido erguida com a ventania e causara tanto transtorno que eles não conseguiram sair do estacionamento até que a passagem fosse liberada. A boa notícia é que eles tinham comprado bastante sorvete.

Não vi mais o Diego naquele dia, embora cada milímetro do meu corpo estivesse formigando de vontade de simplesmente abrir a droga da porta, ir até o apartamento dele e nunca mais sair de lá. Mas ainda estava fazendo de conta que nada demais estava acontecendo. Eu podia sobreviver até o dia seguinte. Já tinha sobrevivido todos aqueles meses!

Mas foi ficando cada vez mais difícil, então, lá pela hora da novela das nove, fui pro quarto e mandei uma mensagem bem brega e cheia de saudades pra ele. Mal não ia fazer. Pelo contrário. Me fez muitíssimo bem quando o celular vibrou e eu recebi a resposta:

Acho que amanhã a gente podia ficar acidentalmente preso de novo.

E depois de amanhã também.

O sorriso bobo veio pra ficar. Então digitei de volta:

Parece um plano maravilhoso!

Continuamos trocando mensagens até eu decidir que precisava economizar meus créditos se quisesse continuar falando com ele. Eu já estava na décima mensagem de despedida quando a Sabrina entrou no quarto.

Ela não disse nada, a princípio. Fuçou na mala, pegou um caderno amarrotado onde, eu sabia, ela costumava rabiscar poesias e letras de música, e escalou pra cama de cima da beliche. Depois de uns dez minutos foi que ela se pronunciou.

- Deu tudo certo, então?

Fiquei dividida entre sair despejando todos os detalhes minuciosos do dia mais feliz da minha vida, e tentar fazer de conta que nada estava diferente. Mas nenhuma daquelas alternativas fazia muito sentido; tanto porque eu ainda não estava afim de gritar minha alegria pro mundo ouvir, quanto porque não havia propósito nenhum em fingir que tudo estava normal, quando tinha sido ela quem nos prendera ali, pra começar.

Por fim, optei por um simples “hum”, aqueles sons que são tão ambíguos que, na maior parte do tempo, a gente não sabe se a pessoa quis dizer que sim ou que não. Pra minha prima, foi o suficiente.

- Que bom! Tava na hora. – ela comentou, distraidamente. Eu soltei um risinho baixo.

- Não precisava ter levado a chave. – comentei, embora, no fundo, agora aquela ideia me parecesse muito, muito boa.

- Precisava sim, do jeito que você é teimosa. – ela retrucou, e fez uma pausa. Segundos depois, sua cabeça aparecia, com os cabelos despencando pela gravidade, exibindo um sorriso travesso – Mas e aí, como foi?

Senti meu rosto ficar quente à medida que eu me lembrava. O sorriso no meu rosto foi a minha denúncia, e a Sabrina gargalhou. Desceu do beliche e veio se sentar na outra ponta da minha cama.

- Olha, acho que você me deve detalhes, ok? – ela insistiu, cutucando a minha perna. Eu suspirei.

- O que você quer saber?

- Tudo, ué! O que ele te disse, o que você falou, qual foi o nível da pegação, se vocês....

- Nããão. – interrompi, aos risos, já sabendo exatamente onde aquilo ia chegar – Não, calminha aí! Não chegou tão longe.

O Diário (nada) Secreto - vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora