Achei que não fosse ter coragem de levantar da cama para ir ao colégio naquela semana.
Faltavam apenas três dias pro sábado chegar, e eu já sentia o universo inteiro caindo sobre as minhas costas. Era um peso invisível e impossível de medir, e que, por pelo menos um dia, só eu sabia que estava lá; mas bastou a quarta-feira passar com suas horas silenciosas de martírio pra que tudo voltasse a piorar.
- Ei, o que que tá pegando entre a sua irmã e o Diego? – a Giovanna me perguntou, na quinta-feira, logo que me viu – E que diabos você tá fazendo aqui sozinha, no meio do corredor?
- Estudando. – menti, erguendo a apostila com um sorriso falso. Ela rolou os olhos, desinteressada.
- Que seja. Enfim, e a fofoca?
- Que fofoca?
- O que aconteceu? Num dia eles são o casal 20, e no outro tá cada um pra um lado. Juro que eles nem se cumprimentaram hoje! Eles brigaram, será?
- Não sei.
- Como não sabe? A Marina é sua irmã!
- A gente nem mora na mesma casa, Giovanna! Como eu vou saber de cada espirro que ela dá?
Ela bufou e fez uma careta.
- Que bicho te mordeu, hein, Lolita? Tá chata pra caramba hoje! – exclamou, meio enfezada. Aquilo só adicionou mais alguns quilos ao enorme saco de peso na consciência que eu já estava carregando.
- Foi mal. Não tem nada a ver com você. – falei, com um suspiro. Minha prima estreitou os olhos.
- O que foi então?
- Não é nada. Vai passar.
A fofoca de que o Diego e a Marina não estavam se falando se espalhou como fogo em palha dali pra frente. Talvez todo mundo já estivesse comentando, e eu não tivesse percebido, mas agora era fato: todo mundo sabia que tinha alguma coisa errada. A confirmação se eles estavam ou não juntos era o que faltava, contudo. Eu continuava sendo a única pessoa além dos dois que sabia de todos os fatos.
Ou pelo menos era o que eu pensava.
No meio da aula de história, me vem o bilhetinho com a letra miúda da Lana.
Vou matar você! Como você não me contou da sua briga com a Marina?
Bacana. Mais uma querendo me matar. Entre pra fila!
Não pensei em contar pra ninguém, Lana. To me sentindo horrível!
Devolvi o bilhete sem nem olhar pra ela. Instantes depois, ele estava de volta.
Ela me pegou de calça curta ontem à tarde! Me ligou chorando, queria saber se eu sabia que você gostava dele, por que eu não contei nada... Fiquei sem nem saber o que falar pra ela!
Ótimo. Por tabela, eu tinha ferrado a Lana também. Eu tinha algum tipo de dom pra fazer cagadas, não é possível!
Desculpa! Não queria ter te metido nisso!
Não tem que pedir desculpa por nada. Eu sou amiga das duas, o que eu podia fazer? Enfim, ela me contou tudo e eu fiquei preocupada. Como você tá?
Respirei fundo, com o lápis pousando sobre o papel, sem saber o que escrever. Sem saber como escrever. Eu estava me sentindo horrível, de todas as formas, mas parecia errado colocar isso no papel – como se, ao compartilhar aquele sentimento, eu estivesse me vitimizando mais do que deveria, quando, no fundo, sabia que eu tinha feito por merecer o que estava passando agora.
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O Diário (nada) Secreto - vol. 3
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