Depois.

592 40 21
                                    


"Os meus pés se afundavam na areia fria,sentia o vento passando e atiçando as ondas do mar,não passavam das cinco da manhã e o sol ainda não aparecia,haviam nuvens escuras no céu nos alertando sobre uma chuva matinal.

Eu me encolhia na cadeira de praia enquanto o assistia nadar,dando longas braçadas,ignorando o mau tempo que se formava,ele insistia em quebrar as ondas que o atacavam. E ás vezes,quando o perdia de vista minha respiração perdia o compasso,só para segundos depois meus batimentos cardíacos acelerarem quando ele alcançava minha vista novamente.

Respirei fundo e a maresia me invadiu por completo,e curiosamente para mim,o mar sempre teve cheiro de solidão,com um ar saudosista,sempre teve cheiro de saudade.

Me perco no perfume salgado que a praia se enfeita,e sem que eu perceba meus olhos estão fechados,apertei a areia entre meus dedos e me convenci de que era tudo real e que ilusões não me atacariam de novo,o mal-estar que estava sentindo melhorava a medida que meus olhos se mantinham fixos no horizonte,infelizmente noites em claro e enjoos haviam se tornado parte da rotina,mas deduzi a causa era a quantidade nada moderada de vinho que estava tomando durante aqueles dias.

- Não vai entrar mesmo ?

E lá estava ele,seus cabelos estavam presos em um coque mal feito,seus olhos eram escuros e revelavam minúcias de seus pensamentos,sua boca se alargava em um sorriso sincero,era de uma simplicidade divina,seu corpo era lindo,e não por pura vaidade,mas pelo simples fato de ter sido desenhado para a sua alma.

É como ele costumava repetir : " O corpo é nada mais que o abrigo do espírito."

Pegou uma de minhas mãos com carinho e deu vários beijos porque ele sabia que eu gostava mais disso do que ouvir "eu te amo". Encostei minha cabeça em seu tronco e absorvi seu cheiro,aquela mistura de sal e terra,olho para seu rosto e seus olhos me examinam,são sérios e curiosos,ele se inclina e me dá um beijo solitário.

- Vamos entrar,só um mergulho.

Ele se sentou na areia,estava entre minhas pernas e apoiava sua cabeça nos meus joelhos.

- Noah,você sabe que eu não sei nadar.

Ele revira os olhos,se levanta e tira a areia de seu corpo.

- Seis anos juntos e você ainda não me deixou te ensinar a nadar.

- Você não é exatamente o melhor professor do mundo.

Ele fingiu estar ofendido e balançou sua cabeça em uma negativa enquanto eu sorria para ele.

- Talvez se você não fosse a preguiça em pessoa eu conseguisse ser um professor melhor.

Revirei os olhos e me enrolei ainda mais em minha canga. Noah virou para mim e sorriu,e me ocorreu que ele sem sombra de dúvida era uma das melhores coisas que haviam acontecido na minha vida todinha,quis dizer isso em voz alta,mas ele ainda estava sorrindo e eu tinha uma visão perfeita dele,e tudo o que eu consegui dizer foi :

- Cala a boca Noah.

Me levantei á contragosto,Noah me ajudou a desmontar a cadeira de praia enquanto eu recolhia nossas coisas. Seguíamos a pé pela beirada da praia,a chuva começava a cair com educação,eram pequenas gotículas que nos refrescavam. Andávamos com calma e eu me apoiava em seu braço á medida que o vento se tornava mais agressivo.

Morávamos na ilha de Córsega,no sudeste da França,desde que Noah assinou um contrato com uma editora francesa. Quando seu livro foi publicado no Brasil ele foi disputado por várias editoras estrangeiras,e mais de uma vez Wall, Noah e eu passamos noites em claro examinando e-mails e possibilidades. Até que, por fim nos decidimos pela nova editora 'La Force'.

Quem Sou,Maria FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora