Depois.

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O vento entrava pela janela quase levando a cortina,ela oscilava e os raios fracos do sol da madrugada ameaçavam entrar no quarto,as folhas balançavam lá fora,ouvia as pessoas andarem,correrem,viverem suas vidas do melhor jeito,ou do pior,de qualquer forma só descobrimos quando é tarde demais. Achava engraçado como a vida começava às quatro horas da manhã naquela cidade.

Meu corpo começava a relaxar,havia passado a noite em claro,meus pensamentos rápidos demais me incomodavam,"finalmente " pensei,inocente,acreditei que talvez o sono finalmente houvesse me atingido,estava pronta para me entregar,mas ele não veio,e eu fiquei com os olhos cansados,observando Noah dormir profundamente com uma inveja totalmente justificável. Abracei meu travesseiro,senti o peso nos olhos,quis me render,talvez chorar,baixinho,só para mim,mas sabia que não resolveria ... Quis sentir meu corpo envolvido,uma sensação ruim se apoderou de mim e meu estômago doeu,me arrastei para perto de Noah,pus seu braço em volta do meu corpo,ele se ajeitou ainda imerso na profundidade de seus sonhos,me abraçou,fechei os olhos e implorei pelo sono,mas a madrugada era uma série de sustos,até o despertador tocar.

Ainda não sabia o exato motivo de termos um despertador,ele sempre tocava no mesmo horário,nós sempre desligávamos e o ignorávamos, e a gente acabava se levantando todo dia em um horário diferente.

Noah se mexeu,senti seus lábios contra minha pele,seu beijo em minhas costas. Ele segurou em minha cintura e me beijou. Sussurrava em seu ouvido,senti sua pele se arrepiar. Toquei em seus lábios,depois em seus cabelos,fiz um carinho.

Houve aquele momento singular que precisava acontecer pelo menos uma vez no dia na vida de um casal,quando os olhos se cruzam e os lábios se alargam em um sorriso bonito,aquele momento certo em que você sabe que está onde deveria estar.

Noah encouchou uma de suas pernas na minha,e usou sua outra perna para decorar minha cintura. Uma mão acariciava meu pescoço enquanto a outra descansava em meu seio esquerdo.

- Carinho,dorme,por favor. - Sua voz era sonolenta.

- Vou dormir. - Minhas mãos descansavam em seus cabelos.

Ele disse outra coisa que eu não entendi,fechei meus olhos,mas em vez de dormir,pensei,ultimamente andava com muito medo,me aterrorizava o fato de que meus demônios internos estavam rebeldes demais,me atormentavam não só a noite,mas de dia também,chegavam a me corroer,as lembranças vinham com maldade e me faziam querer esquecer,engoliam toda a beleza da minha alma.

Pensei em voltar com os comprimidos,voltar com as bolinhas brancas e os amarelos vivos,mas acabei deixando essa ideia de lado,afinal de contas,os comprimidos aliviavam a minha dor,mas não saravam meu espírito. Não é possível remover a dor,sem antes remover totalmente a sua causa.

O melhor remédio,na maioria das vezes,era sentir. Eu apenas sentia doer,latejava,corroía,a tristeza chegava a coçar,sem demonstrações,não havia sintomas,ela só chegava,se fazia presente e eu me deixava levar.

- Flor ... Dorme. - Noah disse,mais dormindo que acordado.

Sua cabeça estava aconchegada em meu peito,de modo que sentia sua voz vibrar enquanto ele falava,algo nele me fazia manter distância de certos lugares sombrios que existiam dentro de mim.

- Vou te fazer um café - Eu disse me levantando.

Noah olhou para mim com aquela cara de sonhador,aqueles olhos de quem vê o futuro,aqueles lábios que me faziam suspirar,em qualquer sentido,em todos os sentidos.

- Prefiro que me faça um cafuné.

Voltei para a cama,me deitei ao seu lado. Puxei sua cabeça para que deitasse em meus seios,meus dedos tocavam seus cabelos superficialmente enquanto eu falava.

Quem Sou,Maria FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora