Estávamos nós dois no carro,voltando para casa,eu com um alívio enorme no peito,uma vida nova em meu corpo,ele com os olhos grudados na estrada,velocidade segura,pensamentos altos,aquela ruguinha na testa que só aparecia quando ele pensava demais em uma coisa só. Coloquei minha mão em sua nuca enquanto Noah dirigia.
Havia conversado com o médico antes de finalmente ir embora. Queria saber como eu estava,como nós estávamos de verdade. Bruno foi sincero em dizer que eu precisava tomar cuidado,e que minha pressão estava alta. Ele já havia marcado uma ultrassonografia e me recomendado uma dieta nova.
Suspirei sem querer.
- Está tudo bem ?- Noah perguntou.
- Estou bem - Disse rindo - Precisa parar de se preocupar.
Ele continuou sério,como se não tivesse entendido a piada.
- Ei - Eu o chamei - Não precisa se preocupar. Eu estou bem. Nós estamos.
Coloquei a mão em minha barriga e sorri. Noah me olhou por alguns instantes e vi preocupação em seus olhos,ele parou o carro no sinal amarelo e me abraçou.
O observei enquanto dirigia,sabia que alguma coisa o incomodava,só não sabia o jeito certo de tocar no assunto e descobrir o que estava acontecendo.
Entramos em casa em silêncio,Noah juntando folhas soltas que na certa deveriam ter voado enquanto ele não estava,me surpreendi com o quanto ele havia escrito,o observei praguejar enquanto organizava os papéis e colocava tudo em grampos.
- Você escreveu tudo isso enquanto eu estava internada ?
Ele sorriu sem graça.
- Me deu saudade de você. Aí escrevi.
- Escreveu sobre mim ?
Noah abraçou minha cintura e sorriu com a minha surpresa.
- Qual é o mistério ? Eu só escrevo sobre você.
- Noah ...
Ele encostou sua testa na minha,respirou fundo,seus olhos estavam fechados,como se ele quisesse usar seus outros sentidos para me memorizar.
- O que está acontecendo Noah ?
Me afastei para poder olhar em seus olhos,alguma coisa não estava certa e eu sentia meu coração bater pesado no peito enquanto meu corpo soltava descargas elétricas,minha cabeça estava á mil.
- Tenho que te mostrar uma coisa carinho. Mas não sei como.
Não sabia se me afastava por completo ou se me afundava em seus braços. Na dúvida,não me movi.
- Fala de uma vez então. - Disse firme. Morrendo de medo dele me obedecer.
- Carinho,se acalma. Preciso que você me ouça com cuidado. Por favor.
Permaneci em silêncio,esperando que ele lesse em meus olhos o meu desespero.
- Lembra do dia que recebemos uma caixa do correio na nossa casa ?
Afirmei com minha cabeça.
- Percebeu que era do Brasil ?
- Aonde quer chegar Noah ? - Disse impaciente.
Noah me fez sentar e saiu em direção ao quarto,voltou rápido com a caixa na mão. Eu conhecia aquela caixa. Sabia de todos aqueles traços bem esculpidos,quase podia sentir a madeira áspera e bem cortada sobre meus dedos muito antes de toca-la de fato.
- Aonde arrumou isso Noah ?
Foi uma pergunta impulsiva, porque sabia muito bem que Noah não havia feito nada além de me esconder a caixa.
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Quem Sou,Maria Flor
Storie d'amoreDesde que nasci sabia que existiam possibilidades,números jogados na loteria,sonhos,ilusões,sanidade,loucura,amor. Poesia e arte.Medo. Mas acreditava na pluralidade,na sucessão de fatos que determinavam milhões de coisas. E foi só quando toquei o cé...