Depois.

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Acordei tranquila,me vi sorrindo para o teto, acho que de vez em quando a gente pode olhar para o teto e sorrir à toa,todo mundo tem esse direito. Me levantei em silêncio,peguei meu celular e liguei.

- Alô ? - Uma voz grossa,de homem feito me atendeu.

- Não me lembro dessa sua voz de homem.

Ouvi a risada do João de longe,como se estivesse me vendo e já matando a saudade.

- Maria ? Já chegou ? Por que demorou a ligar ?

Era a minha vez de rir, João era como um irmão mais novo,a gente se acolheu sobre cuidados de irmandade já fazia um tempo.

- Está muito ocupado ? - Perguntei casualmente.

- Bem, agora na parte da manhã talvez. - Ele disse com a voz desanimada - Mas depois do almoço eu passo aí.

- Sabe onde estamos ?

- É claro. Preciso ir.

- Tudo bem.

Desligou.

Me vesti com uma blusa qualquer,saí do quarto de bom humor, Noah estava esparramado no sofá,os óculos de mau jeito em seu rosto,o caderno jogado em seu peito,sorri. Tirei seus óculos com cuidado,peguei o caderno devagar,dei um beijo em sua testa e o deixei descansar. Me segurei para não bisbilhotar o que ele havia escrito. Tentei me ocupar com coisas mais importantes,como comer e trabalhar, para variar.

A pergunta ainda reluzia na tela do laptop. "Como sei que estou amando ? ",para mim,em particular,o próprio ato de se fazer tal pergunta já é a denúncia de sentimentos pairando ao redor,mas responder isso não era suficiente,as pessoas que geralmente me mandavam perguntas não estavam atrás de respostas imediatas,elas queriam romance,queriam magia,queriam um textinho sentimental com a receita secreta da felicidade. Não existe receita secreta para nada,e eu me negava a me submeter a textos mentirosos e nada reais. Eu sempre acreditei que as coisas correm seu curso,e que tudo tem que ser devidamente conquistado,mas nunca descartei a parte mística de um romance,a magia que se instala nos olhos apaixonados,o encanto que cobre a visão com um véu,nunca descartei o amor como o agente principal de todo o caminho. Eu não respondia nada para ninguém se sentir melhor,respondia para se sentirem reais,e para se permitirem sonhar. Eu usava palavras duras para falar de realidades severas,é isso que o amor faz,era esse o meu amor pelo romance,o oposto é bajulação,e bajulação nunca ajudou ninguém a ter um final feliz. E foi com isso em mente que respondi aquela pergunta.

" Amor é quando você começa a comparar tudo à sua volta com ele,as folhas não são folhas,são variações das cores dos olhos dele,o mar não é mar,é o cheiro dele que te embala,abraço não é abraço se não tiver aquele aperto que ele ama dar,casa não é mais feita de tijolos,é feita quando seus braços estão ao seu redor,vento não é mais vento,terra não é mais terra,verde não é mais verde,sol não é mais sol,música não é música se não for com sua voz. Entende ? Amor é quando você precisa mudar todo o seu vocabulário porque as coisas mudaram de significado."

Respirei fundo,aquilo era o amor mesmo. Observava meu amor dormindo em uma posição nada confortável no sofá,seus cabelos caindo em seu rosto,seus lábios entreabertos,seu semblante sereno. Queria ser dele. Me sentia dele.

O acordei com um beijo. Ele abriu os olhos e sorriu,suas mãos estavam em meus cabelos,seus dentes arranhando meu queixo e seguindo caminho até meu pescoço. Noah me chama,eu incendeio,puxou meu quadril para cima dele,seus olhos se demoraram em mim,seu sorriso se alargou,o beijei como não o beijava a tempos,não tinha doçura,não era casto,não era complexo,eram só nossos dentes que as vezes batiam no meio dos lábios,era só uma mordida ou outra na boca. Noah me beijou profundamente,suas mãos me tocavam com intensidade,enlacei minhas pernas no seu quadril,ele sussurrava sonhos em meu ouvido,enquanto me fazia mais sua do que já era.

Quem Sou,Maria FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora