Capítulo 4 - Susan

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As frases sagradas atormentavam a consciência do rapaz, tais matutavam em sua mente, especialmente aquela que dizia respeito à fuga do destino predestinado, além daquela que concernia ao muro, às castas, tudo isso o aturdia profundamente, como se esses pensamentos fossem navalhas afiadas rasgando o seu tecido nervoso. Sua respiração estava ofegante e o tempo parecia passar propositalmente devagar, medos antigos soavam ferver e turvar sua racionalidade; mas, esse clima de ansiedade e pesar foi quebrado por uma presença. Anthony disse desnorteado:

__Oi, Susan, quanto tempo...

__E ai, você parece meio abatido, está tudo bem? – indagou a moça visivelmente preocupada.

__Eu tenho poucos dias, você sabe, sou obrigado a tomar ou não tomar uma decisão e de ambas as formas eu sei que vou me arrepender depois...

Susan sentou-se ao lado de Anthony e lhe disse:

__Eu sei que é difícil, você desde que nasceu foi designado a essa missão - a de ser sacerdote do templo - foi assim com toda a sua família desde que o vilarejo existe...

__Mas isso é um fardo, você também sabe disso, se alguém nasce na família tal, tem que ser tal coisa e isso é horrível! - Desabafou o moço pesaroso.

__Sim é, mas as coisas são assim, essa é a lei... Eu tenho de ser enfermeira, não decidi ser, nem quero ser, mas... – disse Susan olhando para o nada.

__Eu poderia até ser sacerdote, mas não tenho fé naquilo que o templo nos mostra, eu não quero acreditar em nada daquilo!

A moça franziu a testa por alguns instantes, mas respondeu em um tom suave:

__Eu sei que pode haver outras verdades além das professadas pelo templo, mas você deve recobrar a sua fé...

Anthony a interrompeu com um tom rouco e introspectivo:

__Eu só acho que há algo de muito estranho em tudo.

__Como assim? - Inquiriu a moça aproximando o rosto do dele.

__Não sei se devo falar, mas tudo bem, em você eu confio. –Ele suspirou e enunciou: Quando pensei em fugir daqui transpondo as colinas e o muro, eu sofri aquele acidente...

__Foi trágico, não sei nem como você conseguiu escapar... Mas, naquele dia você não disse nada a ninguém, disse?

__Não, em nenhum momento, mas não foi só isso... Lembra daquele desmaio em frente ao colégio dos clérigos? - Disse pensativo o rapaz.

__Sim, eu estava com você no dia e o que teve de mais? - Questionou Susan.

__Naquele dia, eu iria tentar ler o livro sagrado, você sabe o principal... - Proferiu Anthony com um semblante perturbado.

__Ah, você só poderia estar maluco! E se alguém te pegasse lá dentro! - Repreendeu a bela jovem com um olhar que só a mãe de Anthony lhe destinava.



O vilarejo e outros enigmasOnde histórias criam vida. Descubra agora