O morador fez uma breve reverência à porta, chamou outro degrau móvel e foi para a sala de estudos, tinha que ver se seu espelho secreto iria lhe revelar alguma mensagem, na infância ele tinha ganhado aquele espelho de uma senhora que nunca mais viu. Parecia normal à primeira vista e durante muito tempo ele ficou inutilizado em um baú, na sala de estudos, mas um dia à noite quando verificava o que iria jogar fora, viu algo brilhando, havia algo escrito, deveria estar invertido, mas não era mesmo espelho comum, a tinta era invisível à luz branca, mas no escuro podiam-se enxergar perfeitamente mensagens fluorescentes, Anthony tentava apagá-las, mas não conseguia, era como se não fossem escritas a tinta e isso era realmente estranho. Bem, a mensagem parecia ser redigida dentro do espelho e era exatamente isso que ocorria agora, no espelho na ausência de luz apareceu a seguinte mensagem:
__Você se salvou dos pilares, mas muito cuidado a partir de agora.
A lembrança da estátua triste no jardim se avivou em sua mente, ela tinha se referido ao pilares, Anthony refletia alto:
__A estátua tentou me alertar sobre os pilares, fantástico! É como se algo estivesse tentando me ajudar. É intrigante, às vezes, tenho a sensação de estar sendo observado, apesar dos alertas que me salvaram, parece haver algo tentando me atrapalhar, os explosivos logo cedo, os pilares caíram sem motivo aparente e se eu não corresse teria sido esmagado por aqueles blocos circulares de concreto.
Na sua mente veio a lembrança daquela segunda explosão, justamente no momento em que ele seria preso, aquilo o livrou da cadeia, tudo estava muito confuso. Anthony guardou o velho espelho, pisou no degrau e ordenou para levá-lo a sala, quando chegou pegou um pouco de pasta de arbusto montanhês, a sua testa começou a gelar, e sua mente ficou aliviada, o dia já estava escurecendo, Anthony pisou em outro degrau e pediu para ir ao terraço, havia uma grande varanda no topo da esfera de vidro que era a sua casa, ele ficou novamente olhando para o horizonte, e o muro branco sufocava a paisagem, era como se o mundo terminasse ali, era a última fronteira e o medo impediu por séculos as pessoas de transpô-la, o que será que havia do lado de fora do muro? Será que havia alguma coisa além dele? Ah, se houvesse algo depois dele, pelo templo! Por todos os arbustos falantes do mundo! Algo de realmente intrigante poderia haver do outro lado, seres que pensassem e refletissem sobre tudo isso, vida inteligente? Ou talvez mais plantas falantes? Plantas gigantescas e muito polidas no vocabulário? Esses pensamentos fluíam na mente vívida de Anthony, o sol ia se pondo, ele se retirou da varanda, ainda daria tempo de ele ir à festa de agradecimento, poderia dançar, assistir as apresentações teatrais, em síntese se divertir, mas diante do que ocorria com ele tudo o que antes o atraía parecia supérfluo. Sentia que uma grande mudança estava prestes a ocorrer, vira muitos sinais disso nos últimos dias, como tudo isso fosse acabar, mas agora só queria descansar... As coisas estavam acontecendo tão rápido em sua vida que ele precisaria de algum tempo para se recompor, respirou fundo e fatigado pediu a um degrau levá-lo ao seu quarto, e assim se procedeu, chegando lá, deitou-se na cama flutuante, o colchão cristalizado o acolhia gentilmente. Estava calmo naquele momento, em paz, deitou-se e instantaneamente adormeceu.
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O vilarejo e outros enigmas
Science FictionAnthony é um jovem atormentado pelo seu passado e pela sua ordenação como sacerdote, porém em uma semana sua vida vai mudar radicalmente. Soraya é uma mulher independente, moderna e cheia de mistérios, um muro pesado os separa e a única coisa que os...