Capítulo 2 - Um mundo sem respostas

820 125 5
                                    

Minha cabeça estava rodando. Eu me sentia enjoado. Queria vomitar, mas não tinha nada para colocara para fora. As árvores ao meu redor pareciam grandes seres com garras enormes, prontos para me dilacerarem. A mulher que estava comigo, estava sentada e com as mãos sobre a cabeça, como se estivesse pensando. Olhei para os lados e não avistei nada além de árvores e uma densa neblina.

   ─ Onde estou?

   ─ No pior lugar para se estar.

Uma voz por detrás de mim ecoou em minha mente.

   ─ Vocês não deveriam estar aqui.

            Virei-me e avistei uma linda mulher com a pele alva e o cabelo escuro como a noite. Seu vestido era longo e escuro como os seus olhos. Seus lábios pareciam não tem sangue. Eram pálidos. Trazia um cajado em uma mão e uma ampulheta na outra. Um corvo com os olhos atentos pairava sobre o seu ombro.

   ─ O que busca aqui meu jovem irmão? – perguntou ela.

   ─ Irmão? – indaguei.

   ─ Ah, claro – disse ela se aproximando – Perderam a memória.

   ─ Do que você está falando? Onde estou?

   ─ Eu poderia te dizer muitas coisas meu jovem Cernus, mas quando sair daqui irá esquecer tudo mais uma vez. Suas memórias do mundo dos vivos irão retornar, mas as lembranças que terá deste mundo, se apagarão assim como as fogueiras dos nossos servos. Mesmo você sendo um deus. Não importa. O Mundo dos mortos é algo fascinante e perturbador.

   ─ Deus? Mundo dos Mortos? – perguntei confuso – Eu não entendo.

   ─ Não, não entende – disse ela sorrindo.

   ─ Quem é ela? – perguntou Flidais se aproximando.

   ─ Vejo que sua alma gêmea veio junto com você – disse Morrigan sorrindo – A Mãe de vocês ficará nervosa quando souberem o que vocês fizeram.

   ─ O que fizemos? – perguntou Flidais curiosa.

   ─ Nada irmã.

   ─ Como saímos daqui? – perguntei olhando para os lados.

   ─ Eu lhes guiarei de volta para casa – disse Morrigan nos conduzindo para perto de uma árvore de tronco muito grande – Vocês não acharão o que procuram aqui.

   ─ Não estamos procurando nada – respondi.

   ─ Acho que Ana está num lugar melhor – disse ela passando o dedo no tronco da árvore. Uma fenda se abriu e um campo verde com árvores lindas e um céu azul com um sol bem iluminado apareceu.

   ─ Ana? – indaguei – Não sei do que você está falando.

   ─ Entendo – disse ela nos empurrando para dentro da fenda – Boa viagem.

            Senti meu corpo sendo sugado com uma força surreal. Minha cabeça girava junto com meu corpo, que parecia que ia ser quebrado a qualquer momento. Algo, como pequenas gotas d'agua começou a cair em minha mente. Eram as minhas memórias. Meu nome é Cernunnos e eu sou o deus dos bosques. Esta é minha irmã gêmea Flidais e nós estamos procurando Ana que morreu, mas não encontramos seu corpo em lugar nenhum.

            Um grande barulho. Eram os nossos corpos batendo contra o chão. Minha cabeça doía, como se eu estivesse bebido vinte taças de vinho no dia anterior. O vento lambia o cabelo e o brilho do sol banhava o meu rosto. Deitado, olhando para as nuvens respirei profundamente e aguardei que as minhas memórias voltassem. Por algum motivo eu tinha as perdido, mas não me lembrava. Coloquei a mão sobre o meu peito e não senti o meu cordão. Lembrei. Tinha pagado um tributo para ir visitar Morrigan, mas não me lembro de nada. Acho que meus esforços foram em vão.

   ─ Você está bem? – perguntou Flidais com o rosto por cima do meu.

   ─ Sim, estou.

   ─ Desculpe-me, mas...

   ─ Tudo bem – disse me levantando – Nós tentamos.

   ─ Não vamos desistir – disse ela tocando o meu ombro.

   ─ Obrigado irmã, mas acho que não temos mais o que fazer.

   ─ Vai desistir?

   ─ Sim, eu vou.

   ─ Mas Cernus...

   ─ Tudo bem Flidais. Esqueça isso. Tudo ficará bem com o tempo. Venha vamos para casa. Estou cansado.

   ─ Está certo – disse ela alisando meu rosto – Vamos.

            Uma águia apareceu voando de repente. Suas asas eram enormes e suas penas brancas como as nuvens. O animal voava em nossa direção com uma velocidade assustadora. Travei meu corpo e impus a mão na frente de Flidais. Ficamos atentos para um possível ataque. A águia, porém, planou voo e abrindo as asas desapareceu com um brilho forte dando lugar a uma mulher alta com um vestido longo e branco.

   ─ Você? – indaguei.

   ─ Vocês virão comigo – disse a mulher.

Olhei para Flidais com um olhar desconfiado e retornei o meu olhar para a mulher.

CERNUS - O caminho dos deuses (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora