Capítulo 3 - A deusa

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A nossa mãe sempre cuidou de todos nós. Ela sempre foi presente e uma ótima professora. Todos os filhos eram importantes e iguais para ela, exceto um: Eu. Eu era mais que um filho para ela, eu sempre serei o grande amor dela. Pode parecer confuso, estranho ou até mesmo bizarro, mas a verdade sobre a grande deusa que os celtas cultuam é essa:

"Há muitos anos atrás a deusa conheceu o deus, que sou eu. Um casal jovem e apaixonado que se entregaram inteiramente um para o outo. O sexo é sagrado. O momento é de muito prazer e magia. Os dois se tornam um só. O êxtase místico é tão grande e profundo que o deus morre nos braços de sua amada. A deusa se torna viúva, solitária e triste. Ela precisa ser forte e continuar a seguir, e ela encontra forças na vida que ela traz no ventre. A deusa está grávida, e trás em seu ventre o fruto do seu amor pelo seu amado. Os dias correm e o inverno chega. As primeiras dores podem ser sentidas e um grande calor e brilho começam a surgir em meio ao inverno. A deusa dá a luz a um menino lindo. Ele trás o sol por de trás de sua cabeça. Ele é o amor da vida dela. Ele é o seu amado. Ele ressurgiu do ventre dela para continuar com ela. Ele é o sol. Ele morre e renasce todos os dias. Ele continuará neste ciclo até os últimos dias do universo. Eles precisam estar juntos para sempre".

Flidais e eu seguimos a deusa até um local bem escondido por entre a mata. Flidais estava nervosa e uma linha de suor descia sinuosamente pelo seu rosto. Não tínhamos sombra de dúvidas. Ela sabia que tínhamos desobedecido às leis dela.

─ Muito bem – disse ela se virando – qual dos dois irá me explicar o motivo de irem para o mundo de Morrigan?

Ficamos em silêncio.

─ Vamos – insistiu ela – Ambos conhecem as leis. O que pensavam que estavam fazendo.

─ Mãe você estava ausente – disse me explicando.

─ Isto não é argumento para tamanho erro – disse ela se aproximando – Você por acaso estava tentando encontrar Ana?

Engoli a seco.

─ Eu preciso de respostas – disse olhando fixamente em seus olhos.

─ Não, não precisa – disse ela – Tudo está como deveria estar. No momento certo as respostas chegarão. Mas forçá-las não irá adiantar em nada. Eu já havia lhe dito que você teria informações sobre Ana, mas este não era o momento.

─ Mas...

─ Ana fez uma escolha. Uma escolha que não tem como voltar atrás. Talvez ela consiga atravessar o caminho. Se isto ocorrer tudo ficará bem, mas se ela não conseguir fazer a travessia... Tudo terá acabado meu Cernus.

─ Caminho? Do que está falando? – perguntei curioso.

─ Não é o momento e nem a hora meu pequeno cervo – disse ela se virando – O que importa agora é a negligência de vocês e como deverão ser punidos.

─ Mas...

─ Sem interrupções – disse ela parando – Não gosto delas. Vocês cometeram um erro e o mesmo deve ser reparado. Talvez eu o condene a nunca mais se lembrar ou ver a Ana outra vez Cernus.

─ Como? – indaguei preocupado – Mas isto...

─ Foi apenas um exemplo, mas acho que isto lhe causou pânico. Talvez o ajude a não desobedecer mais nenhuma lei.

─ Foi minha! – gritou Flidais com os lábios tremendo.

─ Perdão? – disse a deusa se virando – O que disse?

─ A ideia de visitarmos os mundos dos mortos foi minha – respondeu ela abaixando a cabeça – Eu mereço ser punida.

─ Flidais – disse olhando para a minha irmã com os olhos pra baixo.

─ Muito nobre filha – disse a deusa se aproximando – Todos os deuses devem ser nobres.

─ Obrigado – consentiu ela.

─ Mas isto não priva o Cernus de ser punido também – disse ela se voltando para mim – É claro que a sua punição será maior Flidais.

Um silêncio perturbador tomou conta do lugar. Flidais e eu trocamos olhares. Estávamos com medo. Podíamos sentir um ao outro. "Eu vou morrer". Disse Flidais transferindo os seus pensamentos para mim. "Não, não vai" – disse em pensamento para confortar ela. "Nós vamos ficar bem".

─ Flidais faça uma boa viajem – disse a deusa rodando a mão num movimento circular. Em instantes o corpo de Flidais se iluminou e desapareceu repentinamente.

─ O que você fez? – perguntei assustado – Como pôde matá-la?

─ Cernus não temos muito tempo – disse a deusa se aproximando.

─ Por que está fazendo isso? – perguntei com lágrimas nos olhos.

─ Você não sabe o quanto é difícil pra mim, tomar atitudes como estas. Mas é necessário. Não se pode enganar a justiça natural e divina. Os erros precisam ser reparados. O equilíbrio deve ser mantido. Preparado para a sua vez?

Engoli a seco. Senti um frio subir pela minha espinha. Estava pronto.

CERNUS - O caminho dos deuses (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora