Capítulo 10 - O nascimento do Cisne

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O corpo de Cernunnos desapareceu de forma instantânea e misteriosa. Ana que chorava pela perda do seu amado se assustou ao ver que o corpo do deus dos bosques havia desaparecido. Uma ventania surgiu repentinamente. Os ventos trazia um aroma de aromas e mel. Nas costas do vento folhas mortas de uma videira flutuavam solenemente como se abrissem o caminho para alguém. E de fato o caminho estava sendo aberto. Antes que Ana pudesse piscar os olhos, a deusa surgiu como se o vento tivesse a materializado. Suas vestes brancas arrastavam sob o chão pedregoso do templo. Os fios de cabelo pareciam ser feitos das luzes das estrelas, de tão radiante que ele estava. Seus olhos azuis como as ondas dos mares do leste, miravam no corpo enfraquecido de Ana. Ela se aproximou de Ana e se abaixando tocou em seu rosto sujo e ferido.

— Levante-se criança! Acabou!

— Como eu pude? Como pude matar ele? Isto é errado. Tudo aqui está errado. Como pôde me induzir a fazer isso? Eu pensei que você o amasse. Amasse a mais que todos os outros.

— O tempo de se lamentar já não é mais este. Não deixe que uma raiva sem motivo lhe possua. Será em vão.

— Eu o amava. Não precisava ter que terminar assim. Se fosse preciso eu ter que esquecê-lo para que ele vivesse eu o teria feito. Do que adianta se tornar uma deusa sendo que Cernunnos está morto?

— Venha criança! Você está cansada.

A deusa tomou Ana pelo braço e a conduziu para a fonte que estava ali perto. Uma água tão clara e pura jorrava infinitamente da fonte. A fonte foi o primeiro suspiro. Foi a primeira água que jorrou para os dois mundos. O inicio de toda a vida. A fonte nutriu o mundo espiritual com sua água, que escorria por toda a terra e nutria as árvores. Inclusive a árvore que trouxe a vida todos os deuses.

— Entre - pediu a deusa com uma voz calma, porém autoritária.

Ana sem hesitar entrou na fonte e olhando para a água não viu somente seu reflexo como viu toda a sua vida passar.

— Banhe-se nestas águas e o seu destino terá se cumprido - disse a deusa enquanto se afastava solenemente da fonte.

Ana se abaixou e com as mão em forma de concha pegou um pouco da água e jogou no seu rosto. Repetiu o processo mais três vezes. Retirou as vestes e se sentando deixou que a fonte jorrasse a água divina sobre seu corpo. Ana estava relaxada. A água trazia descanso para o corpo e paz para a alma. Estava entrando numa espécie de sono induzido. Seus sentidos estavam desaparecendo. A audição começara a falhar, assim como o tato e todos os outros sentidos. Em instantes a fonte que jorrava água, agora estava em chamas. Enormes labaredas de fogo consumiam o corpo de Ana, que parecia não sentir o fogo queimar sua carne. As labaredas refletiam no olhar da deusa, que observa a cena com muita atenção.

— Divino fogo - disse ela olhando para as enormes labaredas - consuma tudo aquilo que não provém de sua divindade. Que o que resta de impuro nesta criatura desapareça.

As chamas tomaram uma tonalidade azul e esverdeada. Um grande brilho e calor tomavam conta do lugar. Ventos dos quatro cantos do mundo sopravam em direção e o fogo que crescia mais e mais. De repente um silêncio. As chamas voltaram a ser vermelhas e aos poucos foram se tornando menores, e menores... Até desaparecerem. A água da fonte voltou a jorrar. Um par de asas surgiu por detrás de uma das colunas da fonte, e logo surgiu um grande cisne com as penas tão alvas quanto à neve e os olhos azuis como a luz das estrelas. Abrindo as Asas o animal parecia se espreguiçar, como se tivesse despertador de um sono de cem mil anos.

— Deusa Ana - disse a grande deusa - Seja bem vida.

CERNUS - O caminho dos deuses (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora