Capítulo 1 - O portal para Morrigan

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Hoje é a sexta lua cheia desde que Ana se foi. Depois que Morrigan a levou, a luta na gruta cessou. Arkan e sua corja de seguidores deixaram o local e voltaram para as sombras. Não, eles não desistiram. Apenas deram uma trégua para pensar em qual jogada irão fazer agora. O mundo espiritual não ficou desiquilibrado, mas sofreu com as investidas do submundo. Ele não anda o mesmo. Há energias desconhecidas rodeando o nosso mundo e sinto que não é algo bom. Os deuses estão preocupados, pois nunca sentimos algo tão extraordinário e intrigante ao mesmo tempo. Não podemos pedir o auxílio da Deusa. Ela está incomunicável. Ela está em silêncio desde o desfecho da batalha na gruta. Fico imaginando o que Ela disse para Ana em segredo, minutos antes de partir. Às vezes penso que a Deusa incentivou Ana a se entregar a morte, mas não acredito que ela tenha feito isso. Ela não faria um ser humano se entregar a morte para salvar o mundo. Ela pesaria em alguma solução. Mas qual?

─ Cernus?

Uma voz surgiu de repente, fazendo com que meus pensamentos de dispersassem.

─ Sim – respondi. Virei-me e avistei Flidais.

─ Como você está? – perguntou ela se aproximando.

─ Bem – respondi sem muita empolgação.

─ Nenhuma informação sobre o paradeiro dela? – perguntou Flidais se sentando ao meu lado.

─ Nada – respondi – Eu não entendo. Já me conectei diversas vezes ao mundo dos mortos e nenhum sinal dela.

─ Se ela não está lá, isto significa que ela não está morta meu irmão.

─ Isto é impossível Flidais! – respondi com exaltação – Nós a vimos partir. Vimos Morrigan a levar. Vimos às areias do tempo se esgotar para Ana. Ela deveria estar no mundo dos mortos, mas eu não a encontro.

─ Podemos obter a resposta para esse mistério – disse ela com um olhar que eu conhecia muito bem.

─ Como? – perguntei com certo receio.

─ Visitando Morrigan – respondeu ela com um sussurro.

─ Mas não podemos – respondi com cuidado – É proibido.

─ Teremos cuidado,

─ Mas se a Deusa...

─ Ela não irá saber. E de qualquer forma Ela está em silêncio por seis luas cheias.

─ Flidais...

─ Não tenha medo Cernus.

─ Você sabe como Ela me trata quando eu não sigo as leis.

─ Bom, eu não vejo outra saída – respondeu ela diretamente. Há algo estranho acontecendo. Estão escondendo algo de nós. Precisamos descobrir. Ou você deixará Ana desaparecida?

Minha cabeça estava girando. Flidais estava certa. Eu já tentei diversas saídas para encontrar Ana, mas nenhuma delas trouxe resultados. E de fato, alguma coisa estranha estava acontecendo em nosso mundo. Já se passou muito tempo. E nenhuma luz surgiu, nenhuma notícia. Estava decidido. Visitaríamos Morrigan.

─ O que precisamos fazer para visitar nossa irmã? – perguntei olhando para Flidais. Ela sorriu.

Flidais me conduziu para uma parte do bosque onde havia uma pedra em formato de lua minguante, como se fosse um recipiente. Dentro dela um líquido de cor violeta se movia lentamente. Era o líquido do esquecimento. Ali aconteceria um tipo de tributo. Teríamos que mergulhar no líquido algo de valor e de nosso pertence. O líquido consumiria o objeto e abriria o portal para visitarmos Morrigan. Flidais entregou sua coroa de flores que tinha o poder de fazer tudo adormecer, e eu entreguei meu colar com uma flauta no pingente. Eu já nasci com esse colar. O som que a flauta emitia tinha o poder de controlar os quatro ventos.

Assim que pagamos o tributo, raízes emergiram do chão e com muita solenidade ergueram-se formando um portal. A imagem que se via no portal era uma floresta escura e fria. Ao se aproximar do portal podia-se se sentir o frio do lugar. Apenas o assobio do vento podia ser ouvido. Não pensamos muito. Flidais e eu atravessamos o portal rapidamente. Senti algo estranho, como se tivesse ficado sem ar e que tivesse levado algumas pancadas na barriga.

O local era muito escuro e silencioso. Acho que não poderia esperar nada de diferente do lar da deusa da morte. Árvores secas e machucadas davam um ar tenebroso ao local. Enquanto uma densa neblina dificultava a visão. Um assobio como o de um pássaro ecoou entre àquela floresta seca, mas era apenas o vento. Não acredito que houvesse vida ali. Pendurado nos galhos secos das árvores existia objetos de diversos tamanhos. Aproximei-me de uma árvore e avistei um colar com uma pequena flauta. Analisei bem o objeto e conclui que nunca havia visto aquilo em lugar nenhum.

Um barulho se fez presente atrás de mim. Era Flidais.

─ Que susto! – exclamei – Não faça isso.

─ Que lugar estranho não acha? – perguntou ela analisando bem o lugar.

─ Muito – respondi – sinto uma sensação estranha.

─ Eu também – admitiu ela.

─ Como chegamos aqui? – perguntei sentando em uma rocha.

─ Eu não sei – respondeu ela.

─ Tudo bem então – disse – E o que faremos agora?

─ Como assim? – indagou ela.

─ O que viemos fazer aqui? – perguntei.

─ Você não sabe? – perguntou Flidais assustada.

─ Não – respondi.

─ Eu também não sei – respondeu ela.

Um barulho hostil vindo do sul, ou norte, talvez fosse do leste surgiu repentinamente, no fazendo ficar alerta. Olhei para o alto e não enxerguei nada além de uma densa neblina. Olhei para frente e enxerguei mais neblina. Olhei para trás e avistei uma mulher. Era linda, tinha chifres assim como os meus. Por que eu tenho chifres?

─ Quem é você? – perguntei curioso.

─ Acho que meu nome é Flidais – respondeu ela – E você quem é?

─ Eu não me lembro...


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Desculpem o atraso com a estreia, tive problemas com a plataforma Wattpad. Obrigado. Se gostarem não esqueçam de favorita e comentar, isto ajuda muito.


CERNUS - O caminho dos deuses (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora