Prólogo

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Sinto as batidas fortes e aceleradas do meu coração aumentar a cada segundo  quando me lembro que daqui algumas horas eu vou estar embarcando para Nova Iorque.

Algumas pessoas encararia essa situação como uma vantagem.  Não que eu não goste da idéia de ir morar na "cidade luz ", mas pelo simples fato de deixar as pessoas que mais amo para trás.

O meu único objetivo dessa mudança repentina de planos, é para conseguir arrumar algum emprego melhor que dê para ajudar minha família em situações financeiras, um dos outros motivos é porque acabei de perder o emprego em uma padaria perto de casa, ou seja, o nosso único meio de renda. Lá era o antigo trabalho da minha mãe Rebeca antes dela adoecer e ficar de cama.

Aqui em casa vivemos apenas em três pessoas, eu, minha mãe e Lili, minha irmã de dez anos. Ela foi praticamente criada por mim, já que minha mãe não tinha condições de cuidar dela, não que Lili seja uma criança difícil de cuidar, pelo contrário é obediente e carismática com todos, sempre me ajudando cuidar da mamãe desde pequena. Foi de uns dias para cá que a saúde da dona Rebeca andou melhorando para meu alívio e felicidade, por isso estou aproveitando a oportunidade de ir à NY e garantir uma vida melhor para nós três.

Como agora é o período de férias escolares, Lili pode ficar mais com nossa mãe, óbvio que ela não vai ficar sozinha cuidando de tudo porque ela é muito pequena para tamanha responsabilidade.
A maioria das coisas vão ficar por responsabilidade da Maria e do João - são os nossos vizinhos desde que me entendo por gente- eles sempre tem nos ajudado quando a situação aperta aqui em casa. Mas eu faço o possível para que não necessitemos do dinheiro deles, não que isso seja uma desonra, pelo contrário, apenas encaro como um dever meu de cuidar da minha família e zelar pelo bem estar dela.  Tenho uma confiança extrema neles, Maria sempre foi como uma segunda mãe para mim e se a caso aconteça algo com Lili e nossa mãe, ela me avisará.

Termino de arrumar minhas malas - que não são muitas porque não tenho bastante roupas - e olho uma última vez para o quarto que vivi meus vinte anos. Vejo duas marcas de mãos feitas de tinta azul e me recordo de como elas apareceram.

" - Pai vem ver o que eu fiz ! - aponto minha cabeça para fora do quarto e o avisto vindo em minha direção - olha !

Aponto o dedo cheio de tinta para a parede onde tem uma pequena marca de mão. Ele abre um sorriso cúmplice para mim e vai em direção ao balde de tinta mergulhando sua mão dentro dele e a depositando em seguida ao lado da outra marca na parede.

- Pronto! Agora ficou melhor- ele diz com um sorriso enorme para mim - combina com seus olhos de anjinhos minha princesa.

- A mamãe vai brigar não vai ? - olho com um pouco de medo para ele.

- Claro que não, não vou deixar - ele me pega no colo fazendo cócegas em todo o meu corpo.

- Para pai minha barriga está doendo - falo rindo e colocando a mão na mesma.

- Sabia que o papai te ama muito ? -  pergunta cessando as cócegas e depositando um beijo no topo da minha cabeça.

- Eu também te amo pai. Muito,muito,muito... "

Essas lembranças boas do passado fazem minha garganta se apertar forçando as lágrimas junto com um sorriso ao lembrar da bronca que levei da minha mãe quando ela viu a parede manchada. Sei que as lembranças ainda me machucam muito mas prometi para mim mesma que não vou mas chorar por esse motivo.  Até hoje não entendo o por que de ter feito meu pai abandonar-nos sem ao menos dar alguma explicação para onde iria, e ainda por cima levou todo o dinheiro que tínhamos guardado à vida inteira para acaso nós  precisarmos dele em uma ocasião de emergência.

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