O Inquilino Parte-3

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Hugo acordou suando e provavelmente tinha gritado muito enquanto dormia. Era só um pesadelo, pensou ele constatando que estava deitado em sua cama. Tudo não passará de um sonho. Hugo se sentou na beirada da cama, passou a mão pelos cabelos desgrenhados e suspirou fundo. Ninguém dorme bem numa casa que acabou de conhecer. Hugo levaria alguns dias antes de conseguir realmente dormir na mansão. Talvez devesse contratar uma empregada que pudesse dormir na casa e lhe fazer companhia. Talvez... Hugo se colocou de pé, tomou um banho e depois tomou um café reforçado na varanda da casa. Dali podia ver toda a cidade de Salvação. A vista era linda. E agora, olhando aquela cidade á sua frente, percebeu que precisava conhecê-la melhor. Haveria boates em Salvação? Hugo voltou para dentro de casa e pegou o notebook. Resolveu pesquisar na internet alguma coisa sobre a cidade. Acabou caindo num desses sites de adolescentes que se julgam satanistas. Hugo adorava esse tipo de jovem, Afinal eles é quem compravam seus livros. O site era todo vermelho e negro, cheio de desenhos que com certeza o proprietário do site nem sabia o real significado e ainda tinha um monte desses artigos toscos sobre o Tarô Satânico e o Segredo da Kabala Luciferiana. O site também tinha alguns artigos sobre Salvação e Hugo resolveu ler um deles. O título era: Salvação - Capital Mundial do Sobrenatural. O texto falava de diversas coisas macabras e estranhas ligadas á história de Salvação. Falava sobre o Sanatório Joseph Holt que era o lugar mais misterioso da cidade e nesse ponto havia um link direto que levava a um artigo sobre uma certa médica do instituto que morrera de maneira misteriosa. Também havia algo sobre o assassinato de uma garotinha de dez anos encontrada num lago da cidade e de um psicopata que matara mais de vinte mulheres na cidade. Hugo leu tudo aquilo com interesse. Sabia que tudo era verdade pois aquelas coisas tinham sido notícia na ocasião em que ocorreram. Hugo se afastou do notebook e se sentou numa poltrona. Ficou encarando a lareira. Espera aí, pensou ele se inclinando para a frente, porquê a lareira está acesa se eu não a acendi? Hugo se levantou da poltrona e caminhou para perto da lareira. Acabou se lembrando de seu pesadelo e isso lhe causou certo mal estar. Um barulho muito forte veio do andar de cima como se algo bem pesado tivesse caído. Hugo quase morreu de susto. Se virou na direção da escada e resolveu ir ao andar superior ver o que tinha acontecido. A casa tinha muitos quartos. Parecia a casa da Família Adams e pensar nisso fez Hugo dar uma risada. Se quisesse ocupar aqueles quartos teria que se casar de novo e tendo uma casa como aquela, pretendentes era o que não iria faltar. Chegou a um dos quartos e olhou para seu interior tentando ver o que poderia ter causado o barulho. O quarto estava vazio, exceto por um piano que Hugo ainda não havia notado. Sua esposa costumava tocar piano. Ela até dava aulas pra crianças. Hugo a admirava por isso. Era nessas horas que ele mais a amava por ela ser uma mulher sensível. Hugo se sentou á frente do piano e levantou a proteção das teclas. Dedilhou um velho exercicio que sua esposa havia lhe ensinado e sentiu vontade de chorar. Ela estava morta. A morte era a maneira que Deus havia encontrado par dar risada da cara da gente e dizer: Você é pó e ao pó você vai retornar, seu merdinha arrogante! - Não fique assim, querido.

Sonya estava sentada ao lado de Hugo ao piano e repetiu:
- Não fique assim.
Hugo apenas virou a cabeça na direção dela que havia começado a tocar uma música do My Chemical Romance chamada Câncer. Hugo detestava aquela música mas Sonya a adorava. Aquela canção a fazia se lembrar da mãe que tinha sido vítima de câncer na pulmão.
- Você odeia essa música - Disse Sonya, a fantasma infiel.
- É você mesmo? - Indagou Hugo estranhando a própria calma.
- Sim.
- Como isso é possível?- Perguntou ele.
- Algo nessa cidade desperta os espíritos - Respondeu Sonya - Aqui é como uma zona fantasma. Muita magia negra. Um portal até foi aberto uma vez.

Hugo ouviu tudo aquilo de boca aberta. Estava conversando com sua esposa falecida mesmo?

- Ou - Começou a falar Sonya - Você finalmente ficou doido. Aliás, você nunca foi muito normal, não é mesmo? Que tipo de doente mata o próprio filho?
- Você sabe que foi um acidente - Disse Hugo de repente se sentindo acuado - Eu bebi um pouco e...
- E se descuidou do nosso filho. Você dormiu e deixou ele se afogar na piscina. Como consegue dormir a noite?
- Não consigo.
Aquela resposta pareceu aborrecer Sonya. Ela bateu as mãos sobre as teclas do piano com força e Esbravejou:
- Você destrói tudo o que toca, Hugo! Nosso filho, nosso casamento! E agora que está sozinho está destruindo você!
- Eu destruí nosso casamento? - Berrou Hugo - Você me traiu!
- Você é quem diz isso pra si mesmo Hugo. Você criou na sua mente uma situação para a minha morte que nunca aconteceu. Talvez isso te ajude a sentir menos culpa.

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