Desde que comecei a me concentrar mais em proteger era como se não tivesse trabalho nenhum. Parecia que quando eu voltava pra casa o alarme soava no mesmo instante e lá na Terra ficava tudo mais tranquilo pra mim. Porém estava com muito medo de ser punido por não estar voltando pro Reino Celeste, mas não sairia de lá até que me chamassem de volta.
O dia estava clareando e eu já estava de pé, fiquei esperando Amanda acordar. Ela não abriu os olhos, mas soube que acordou quando vi um sorriso aberto em seu rosto e um suspiro. Achei curioso acordar assim de tão bom humor.
-Só vou abrir os olhos se você deixar que eu te veja!- Ela pôs as mãos cobrindo os olhos.
-Eu não acredito que você não esqueceu.- Sussurrei ainda translúcido.
Passou um tempo e como não houve nenhuma resposta da minha parte, todo aquele sorrio desapareceu de seu rosto. Foi como mudar completamente a atmosfera daquele quarto, o que antes era alegre se tornou triste e Amanda começou a chorar.
Tentei sair do quarto, da casa, fiquei agoniado e tentei me afastar, mas uma força maior que eu não me deixava mais ignorar Amanda por tanto tempo. Aproximei meu corpo da cama dela, apoiei meus braços no colchão, o que me fez visível instantaneamente já que estava tocando em algo na presença de um humano. Foi como se aquilo tivesse feito meu coração apertar. A propósito, sensação terrível.
-Por que choras?- Perguntei a olhando franzindo a testa.
-Nicolas!?- Ela se sentou esfregando os olhos.
-Sim.- Pus minha postura ereta.
-Nossa! Não sabe como eu to feliz por te ver.- Ela ficou de pé em sua cama e me envolveu com seus braços em volta do meu pescoço.
Eu fiquei parado, sem mover um músculo. Sabia o que aconteceria se eu a tocasse.
-Consigo sentir.- Disse friamente.
-Por que não voltou ontem?- Ela se afastou e desceu da cama olhando em meus olhos.
-Eu só não apareci pra você, mas estava aqui o tempo todo.
-Me ignorou?- Ela pareceu triste novamente.
-Não. Eu nao poderia deixar você me ver, isso terá consequências.
-E você já foi punido pela primeira vez?- Amanda sentiu medo.
-Não, por incrível que pareça.
Ela sorriu.
-Está melhor?- Perguntei notando sua mudança de humor.
-Como assim!?- Ela pareceu confusa.
-Você estava chorando. Quando humanos choram, até onde sei, é porquê algo ruim aconteceu.
-Você não parece saber muito sobre sentimentos, não é!? Achei que você fosse tipo Deus, que soubesse de tudo.
-Não, graças a...deixa pra lá. Enfim, eu não sei nada sobre sentimentos humanos.
Ela pareceu curiosa.
-Hmm... Quer uma maçã? Eu vou descer pra tomar café e a gente pode conversar, minha tia vai vir me buscar daqui a pouco pra tirar o gesso do braço.
-Tia!?- Fiquei confuso- O que é isso?
-Tia ou tio, são os irmãos dos pais de um humano. Pelo visto vocês não conhecem quase nada humano, não é!?
-É. Então... Vamos sair daqui finalmente?
-Você também vai?- Seus olhos brilharam.
Começamos a descer a escada.
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Como perdi minhas ASAS
RomancePLÁGIO É CRIME! (Art. 184 - Código Penal) Nicolau, ou Nicolas, é um jovem anjo que acaba de ganhar suas asas ao completar seus dezoito anos. Seu pai Kamael é um antigo anjo guerreiro que abriu mão das batalhas para cuidar de sua família, sendo subst...