Não me lembro muito sobre como dormi naquela noite, mas sei que nunca dormi tão bem em toda minha existência. A primeira coisa que vi foram os cabelos de Amanda enrolados e bagunçados, mas que mesmo assim não deixavam de ser lindos. Sua cabeça estava em cima do meu braço esquerdo esticado sobre o travesseiro e meu braço direito envolvendo seu corpo nos mantendo unidos, nem sei como chegamos a isso. Sorri ao vê-la dormindo tão bem comigo e acabei me lembrando do que aconteceu antes de dormir- E pensar que ela queria dormir no chão.- Balancei a cabeça sorrindo.
Continuei imóvel naquela posição observando Amanda dormir, algo que descobri a pouco que gostava de fazer. Sentir todo aquele calor saindo de seu corpo tão perto de mim era incrível. Tirei devagar minha mão por cima de sua cintura e acariciei seu rosto sentindo sua pele macia, mas com o meu toque ela acordou. Bom, não foi a escolha mais inteligente tocar sua pele sensível com a minha mão toda envolvida por bandagens. Amanda esticou todo seu corpo e depois o encolheu de novo, não mudou de posição apenas sussurrou:
-Bom dia...- De um jeito doce encantador.
-Bom dia.- Sorri.
-Você ainda tá aqui ou eu to sonhando?- Sua voz ainda era sonolenta.
-Tenho certeza que não é um sonho.- Sussurrei.
Então ela virou seu corpo pra mim e eu olhei imediatamente para os seus olhos azuis profundos. Amanda estava sorrindo, outra coisa que eu adorava, só ela conseguia transmitir a veracidade do seu sorriso tranquilo em seus olhos. Ficamos em silêncio por alguns minutos apenas conversando entre olhares e eu pude notar a cada segundo suas bochechas ficando mais e mais coradas. Como eu nunca percebi todos aqueles detalhes no minuto em que a conheci!? Naquele estranho momento eu consegui de fato sentir o quanto valia a pena ser um protetor.
-Você dormiu bem?- Ela perguntou quebrando o silêncio.
-Você nem imagina o quanto.- Sorri- E quanto a você? Foi melhor que dormir no chão?
-Muito...- Ela suspirou.
Sorri com aquilo.
-Quer tomar café comigo?- Seus dedos passearam pelo meu abdômen contornando até mesmo o meu umbigo.
-Seria muito bom.- Senti uma espécie diferente de cócegas e me contorci.
-Então vamos.- Ela se levantou e pegou a tigela do chão onde eu havia comido na noite passada.
Levantei de sua cama e estiquei todo meu corpo movimentando minhas asas desgrenhadas. Amanda desceu e como de costume fui voando logo atrás dela. Ela pegou algumas frutas e começou a descascar e cortar, eu queria fazer o mesmo por ela e de tantas vezes a observando acabei inconscientemente decorando todos os seus movimentos na cozinha pela manhã. Abri sua geladeira e peguei o leite, fui até o armário e peguei uma tigela e a caixa de cereais açucarados que ela adorava, depois algumas laranjas e fiz um suco. Enquanto ela preparava o meu café me observava dando risadas sutis como se não acreditasse no que estava vendo. Assim que terminamos pegamos nossas respectivas refeições e nos sentamos à mesa para comer juntos pela primeira vez.
-Isso ainda é muito surreal pra mim.- Ela disse enquanto comia.
-Do que está falando?- Sorri de lado com a boca cheia de pedaços de morangos.
-Eu beijei um anjo, dormi com ele e ele ainda preparou o meu café!- Estava ainda vislumbrada como se estivéssemos voando.
-E eu ainda estou pasmo porque não fui punido!
-Isso é bem estranho mesmo. Antes você não fazia suas próprias escolhas, como quando você veio pra cá pela primeira vez e agora é parece que você adquiriu uma certa... liberdade.
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Como perdi minhas ASAS
RomancePLÁGIO É CRIME! (Art. 184 - Código Penal) Nicolau, ou Nicolas, é um jovem anjo que acaba de ganhar suas asas ao completar seus dezoito anos. Seu pai Kamael é um antigo anjo guerreiro que abriu mão das batalhas para cuidar de sua família, sendo subst...