-Destino (?)

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Domingo de manhã. Amanda estava para mim como a água está para o óleo.

Assim que acordou eu a segui por todos os cantos como de costume:

Escovamos os dentes, tomamos o café, trocamos de roupa, arrumamos o quarto, limpamos a casa, fizemos o almoço, tomamos banho, almoçamos, tiramos um cochilo e já era quase noite quando acordamos, porém não fiz questão de falar com ela, ainda estava com raiva pelo o que aconteceu na noite interior. É mais do que óbvio que me inclui em suas tarefas metaforicamente, ela não me viu o dia inteiro também, eu tinha certeza que ela também estava com raiva de mim.

Por conta disso o dia passou devagar e eu já não aguentava mais o fato de não falar com Amanda, era angustiante, isso estava me sufocando. E pelo o que eu notei ela também não falou com Adam, seu celular passou o dia inteiro jogado no fundo de sua bolsa. Talvez ela estivesse constrangida pelo que eu fiz ela passar, bom, eu não me arrependo. Valeu à pena. Considerando o fato de ela não ter falado comigo e nem com aquele sujeito sujo e nojento eu decidi dar o primeiro passo pra restaurar nossa comunicação.  

Após a soneca da tarde quase noite, Amanda desceu pra comer alguma coisa. Fez um sanduíche de queijo e geleia de morangos orgânicos, a qual eu já tivera o prazer de provar e me deixava em transe toda vez que sentia o cheiro, e tomou sozinha quase uma jarra inteira de suco de maracujá.

Levado pelo cheiro daquela geleia eu a chamei sem pensar: 

-Amanda!?- Minha voz estava serena.

-O que você quer?- Ela respondeu friamente me procurando na cozinha.

Deixei minha translucidez partir e apareci bem à sua frente do outro lado da bancada.

-Quero que você fale comigo!- Meus olhos praticamente imploraram por mim.

-Oi.- Ela me lançou um olhar quase que flamejante- Satisfeito?

-Não.- Cruzei os braços- Não entendo, você ainda é tão jovem pra ficar pensando em...- Engoli a seco e consegui terminar- Transar! Pensa bem, é só um cara com quem você saiu UMA VEZ, não vale a pena.

Ela me olhou arqueando uma sobrancelha.

 -Você não entende nada sobre isso, Nicolas.

-Mas eu  conheço você.

-Muito mal eu presumo.- Ela revirou os olhos.

Dei a volta na bancada e me sentei ao lado dela.

-Você não pode falar isso.- Dei um meio sorriso.

Amanda respirou fundo tentando manter a calma. 

-Por que fez aquilo, Nicolas?- Ela me olhou sem entender.

-Minha função era, e é, proteger você em qualquer situação, a qualquer custo, e eu ouvi o pensamento dele, era horrível e...

-Como você consegue ler mentes e nunca me disse isso?- Ela me interrompeu e colocou o copo com suco em cima da bancada.

-Eu adquiri esse poder na noite passada e, infelizmente, eu não consigo ouvir mais seu pensamento.-Franzi a testa tentando.

-Estranho.- Ela deu de ombros- Mas era sobre o que exatamente o pensamento dele?

-Bom...

-Ele iria me matar?

-Não.

-Me estuprar?

-Não.

-Me atropelar?

-Por Deus, Amanda, não!

Como perdi minhas ASASOnde histórias criam vida. Descubra agora