Como perdi minhas ASAS

-Vigiado

No dia seguinte, antes de começar o primeiro dia do resto da minha vida, minha presença foi solicitada na A.T.E.P. E quando cheguei lá descobri que era apenas o meu treinador querendo falar comigo.

-Bom dia, senhor!- Prestei continência.

-Nicolau, você já sabe tudo que precisa saber sobre sua protegida, Amanda. Agora você irá descer até o mundo deles e fazer o seu trabalho. Não descuide dela em hipótese alguma.- Ele disse com a voz firme de sempre.

-Sim, senhor.- Disse tentando disfarçar meu nervosismo e preguiça, já que não estava afim de ir.

-Nos vemos no portal.

Ah... O portal... A separação entre o Reino Celeste e o mundo humano. Meu sonho sempre foi atravessar aquele portal, mas para ser livre e não para ser um protetor. Infelizmente era o único jeito para mim.

Enfim.

Voei até meus aposentos e fiquei sentado em minha cesta, onde não dormira noite passada, por um tempo fiquei pensando em tudo que poderia acontecer a partir do momento em que eu atravessasse aquele portal. Poderiam ser coisas ruins ou coisas muito ruins, pensamentos bons não rondavam minha cabeça quando estava envolvido em obrigações. Respirei fundo, tomei coragem e me levantei, voando em direção ao grande portal de brilho dourado.

Meu pai, meu irmão e meu treinador já estavam me esperando. Kamael e eu não estávamos muito amigáveis um com o outro, diferente de Gabriel, com aqueles dentes tolos à amostra, que tentava sempre apaziguar a situação entre Kamael e eu. Tudo o que eu mais queria era sair de lá o mais rápido possível. Teria voado através do portal assim que o avistei se depois não fosse ter minha atenção chamada pela falta de educação. 

-Espero que cumpra seu dever com sabedoria, Nicolau!- O treinador disse colocando a mão em meu ombro.

Apenas assenti.

-Tenha cuidado, meu irmão. Pedirei a Deus para que volte em segurança para nosso reino.- Disse Gabriel tocando meu rosto.

 Virei as costas para adentrar o portal e Gabriel chamou minha atenção. 

-Espere, Nicolau! Não vai se despedir de nosso pai? 

Bufei revirando os olhos e me voltei para meu pai.

-Até mais, Kamael.- Estendi a mão para ele.

-Até.- Ele apenas respondeu friamente sem a tocar.

Desta vez não olhei para trás. Encolhi minhas asa para passar pelo portal e depois as abri tomando impulso e desci diretamente para a terra.  Vê-la de cima era perfeito. Que mundo! Que beleza! Viver de verdade deveria ser o que os humanos tinham que eu invejava. Como eu queria ficar ali para sempre...

Quanto mais eu me aproximava, menos visível eu ficava. O treino de opacidade realmente me servira. Enquanto apreciava a beleza do desconhecido comecei a ouvir um forte e ensurdecedor alarme em meu ouvido. Era aquele botão que Sablo me dera, então me lembrei que ele apitaria sempre que meu humano estivesse em perigo, mas eu ainda não sabia onde eu deveria estar exatamente. Quando pus meus pés em solo plano o som ficou mais forte, então tomei voo novamente e segui ao norte à medida que o som ficava mais alto, então percebi que era o caminho certo e enfim eu a vi.

Soube que era ela quando a vi levantando do chão. Cheguei tarde. Ela estava com o braço engessado, como eu esperava e agora um joelho ralado. Não me contive e dei risada. Ela parecia ser do tipo desastrada, se tropeçasse em uma pedra do tamanho do dedo do pé ela se machucaria e muito. Também aprendemos um pouco sobre cada tipo de humano e percebi que com ela eu teria bastante trabalho. Quando ela se recompôs começou a andar e eu a segui voando acima dela.