-Introduzindo meu destino

1.1K 72 7
                                    

Minha existência sempre foi movida a comparações com meu irmão Gabriel, que é um dos anjos guerreiros de Deus, mesmo assim eu nunca quis ser um guerreiro, nem um protetor, nem mesmo um anjo. Gostava mesmo de  observar os humanos do alto e sempre achei a vida deles melhor que a nossa, não era pra menos, eles desfrutavam de um prazer conhecido como livre arbítrio; coisa que eu nunca tive. E o pouco de "liberdade" que tivera eu estava prestes a perder pois iria completar meus dezoito anos.

Foi aí que tudo mudou...

O décimo oitavo aniversário para um anjo significa a transição mais importante para a vida de qualquer um anjo do Reino Celeste. Somos obrigados a passar pelo Ritual das Asas, a parte mais importante para um ser como nós, seja para guerrear, seja para proteger. Passar por esse ritual é o sonho de qualquer um, pois nós somos doutrinados em função de cumprir os planos de Deus para nós, quaisquer que sejam eles. Mas nem tudo é tão lindo como parece.

Nas comemorações de meu aniversário eu e todos os anjos presentes descobrimos qual seria a tarefa que eu teria de cumprir pelo resto da vida: protetor ou guerreiro.

Os protetores nada mais tem como função além de proteger determinado ser humano, é considerada a tarefa mais fácil por todos, ou seja o trabalho desdenhado por nós. E os guerreiros, bom, não precisa descrição. Todos querem ser guerreiros pelo fato de poderem ficar lado à lado com Deus e lutar pela honra de proteger nossos reino.

Como se já não bastasse ser irmão de Gabriel, eu fui designado à ser um protetor, embora eu tivesse que ir para terra cumprir minha função, não era bem o que eu queria. Preferia ser um humano a ser um protetor.

Todos do Reino Celeste estavam presentes: Anciões, Protetores e claro, os queridinhos guerreiros.

Com meu pai à minha direita e Gabriel à esquerda foi dado início ao ritual.

-Estamos todos em festa hoje para prestigiar meu filho mais novo, Nicolau...- Começou a discursar meu pai.

-Nicolas!- Murmurei. Detestava aquela droga de "nome de anjo".

-... Pelos seus dezoito anos.- Ele ergueu sua taça- Filho, à partir de agora você assumirá seu lugar no mundo. Com isso terá grandes responsabilidades, mas para cumpri-las irá precisar de um belo par de asas. Que eu mesmo, seu pai, Kamael, terei a alegria de lhe entregar.

Então ele me virou de costas, Gabriel parecia feliz e segurou minhas mãos. Kamael pôs suas mãos rígidas em minhas costas, daí um brilho cegante dourado entrou por todos os cantos daquele salão e todos viram surgir em mim um par de asas brancas e grandes. Confesso não foi um processo indolor, mas só demorou alguns segundos para que passasse. Tentei olhar para elas por cima dos ombros, eu as abri para ver o tamanho, não eram tão grandes quanto as do meu irmão, mas eram enormes a ponto de cobrir um humano. Todos aplaudiram como se nunca tivessem visto acontecer aquilo.

-Obrigada, pai.- Agradeci apenas por educação, eu sabia do porquê delas e isso estava me deixando incomodado.

Quando a cerimônia terminou, todos foram para seus respectivos lugares de descanso, nossas cestas onde dormíamos, no mundo dos seres humanos isso se chamaria de lar e cama. Quando eu estava indo para o meu lugar, Gabriel me chamou.

-Nicolau?- Ele voou até mim já retirando sua armadura para repousar.

Olhei para ele com desdém.

-O que é, Gabriel?

-Só queria desejar parabéns. Estou muito feliz por estar finalmente com as suas asas.- Ele sorriu.

Sua simpatia me irritava.

-Que seja!- Continuei andando.

-Espere, Nicolau!- Gabriel me seguiu- O que eu fiz pra você? Ainda não compreendo.

-Nada.- Respirei fundo- Será que posso ir descansar? Minhas costas ainda doem.

-Você se acostuma.- Ele se virou para voar até sua cesta- Bom treino na A.T.E.P.

A.T.E.P era a Academia de Treinamento Especial para Protetores. Como um exército, não éramos treinados para guerrear, precisávamos treinar para nos fortalecer e proteger nossos protegidos. Ninguém almejava a A.T.E.P, todos queriam ir para o E.G.D, Exército dos Guerreiros de Deus, já que na nossa idade não é possível ser um ancião. Os anciões eram os anjos com mais anos de experiência, não todos, mas os escolhidos diretamente por Deus tinham a missão de criar os anjos mais novos que chegavam ao Reino Celeste.

O nascimento de um anjo não é como os dos humanos, simplesmente surgimos nas cestas da casa do ancião o qual terá de nos doutrinar. Um anjo nasce quando um bebê humano morre, apesar de ser um menino ou menina, todos tornam-se anjos do sexo masculino, sim, nós temos sexualidade! Kamael disse a mim quando era pequeno que Deus não pusera anjos do sexo feminino no Reino Celeste pois estas viriam a ser as mulheres que se tornam o termo tão conhecido como "mães" na terra.

Enfim, continuei andando até meu cesto. Mas  quando cheguei não consegui dormir. Fiquei admirando minhas asas que foi a única coisa boa que aconteceu naquele dia. Voei por um instante e a sensação era ótima, mesmo que alguns segundos, era como ser livre apesar de não ser.

Então após admira-las eu me deitei e descansei para o outro dia.

-Nicolau, levante-se!- Era meu pai me puxando pela pernas antes de clarear o dia.

-Me deixe em paz!- Murmurei.

-Isto é uma ordem!- Então ele fez com que um vento forte me soprasse jogando para fora de meu cesto.

Em questão de segundos me coloquei de pé. Lá estava Kamael de braços cruzados me encarando com suas vestes azul marinho e douradas de ancião. Até as roupas eram melhores. Eles vestiam essa, os guerreiros armaduras prateadas e resistentes. E o que os protetores vestiam? Nada além de um par de calças brancas folgadas. Nada é como os humanos pensam.

Nós nos sentimos irritados pelo fato de nos retratarem como figuras de bebês loiros de olhos azuis que voam por aí nus em uma nuvem tocando arpa eólica. Temos anjos de todas as cores existentes no mundo dos humanos. Não nos segregávamos quanto a aparência, éramos apenas anjos.

-Não deve se atrasar para o treinamento. Quando Gabriel tinha sua idade acordava sozinho.

-Ok...

Eu sabia o que era palavrão, mas se eu pronunciasse alí eu perderia minhas asas e seria rebaixado. E eu estava com muita vontade de dizer um. Então fui diretamente para a  A.T.E.P, não tinha muito jeito com as asas ainda, esbarrei em algumas coisas pelo caminho. Mas não havia experimentado nada ainda que fosse melhor que ter asas e voar.

Como perdi minhas ASASOnde histórias criam vida. Descubra agora