And they say
That a hero could save us
I'm not gonna stand here and wait
I'll hold on to the wings of the eagles
Watch as we all fly away
- Nickelback
Em uma terra distante, na qual não se podia chegar por meios conhecidos pelo homem, um velho caminhava procurando por algo. Depois de atravessar uma longínqua planície, ele se deparou com um monte rochoso, repleto de cavernas. Era tão negro que durante a noite seria impossível enxergá-lo.
Apesar da avançada idade, o velho galgou o monte com destreza, sendo capaz de encaixar as mãos e os pés em suas aberturas para facilitar a escalada. Quando o aclive se interrompeu, ele se encontrou na entrada de uma caverna na qual luz alguma era capaz de adentrar. O velho penetrou a gruta, mesmo sem poder enxergar. Por muito tempo ele caminhou na escuridão, sem escutar nada a não ser o barulho dos próprios passos e o som da própria respiração. Finalmente ele enxergou uma luz vermelha, tremeluzente, ao longe. Deteve-se quando notou que uma sombra altiva era projetada na parede. Ocultou a si próprio nas sombras para descobrir o que ali se escondia.
O velho viu que, no fundo da caverna, havia uma fogueira. Sentado próximo a ela um homem, tão escuro quanto a montanha. Ele sentiu um arrepio tomá-lo da cabeça aos pés quando o homem girou o crânio em sua direção e disse sorrindo.
- Gostaria de se juntar a mim?
O velho se aproximou do homem misterioso, que usava uma cartola sobre a cabeça e um colar vodu ao redor do pescoço.
- Quer comer? – perguntou o homem, mas o velho recusou. Ali, espalhados ao redor da fogueira, restos mortais de alguma coisa inidentificável. – Você busca algo. – sussurrou o homem e o velho notou que sua voz era de trovão.
- Sim. Um garoto.
- Há muitos garotos além mar. Nenhum nesse lugar.
- Essa terra... por que ela é tão inóspita?
- Inóspita? Hmmmmm. – murmurou o homem e mais uma vez o velho teve calafrios. – Não creio. Há muitas coisas vivendo por aqui. Mesmo nessa caverna. – o velho pensou em seu trajeto no escuro e notou que havia, de fato, sentido que olhos o seguiam naquela escuridão. – Mas os seres do oriente costumam ser reservados. Nada mais somos do que refugiados de outras vidas.
- Eu encontrei um homem antes. Ele era um herói no lugar de onde vim. Diga-me, você sempre viveu nesse lugar?
- Eu vivi em muitos lugares, mesmo no oeste e no lugar de onde veio. Mas nunca tive de fato casa ou um só nome. Os reis de oeste me chamavam Judoc. Em seu mundo eu atendia por Nicéphore. E por muitos outros nomes fui chamado. Mas você disse algo sobre um herói? Bem, não espere por heróis nesse lugar. Só você pode se salvar.
- Como chego a oeste.
- Você não chega.
- Como disse?
O homem misterioso olhou para o velho e gargalhou com tamanha força que a fogueira se apagou. Mais uma vez a escuridão reinou.
O velho tateou as paredes buscando se encontrar naquele terrível lugar, mas recuou a mão ante o toque viscoso que sentiu sobre a pele. Ouviu pequenos murmúrios ao redor, ganidos e lamúrias ressoando em sua mente. Forçou a vista tentando enxergar algo, mas ali não havia nada que seus olhos pudessem ver.
Voltou a ouvir a gargalhada do homem ao longe, quase provocativa. O velho sentiu medo, pois logo após teve a impressão de ouvi-lo dizendo algo. E pior, ouviu algo responder de volta. Aquela resposta veio de algo não humano, uma voz ainda mais assustadora que a do homem misterioso. Então ele fechou os olhos, buscando respostas em seu coração.
O velho então entoou palavras antigas em um idioma desconhecido e a caverna pareceu esfriar como nunca. Suas mãos congelaram, formando finas camadas de gelo sobre a pele. E daquele gelo uma luz tênue brotou, iluminando o ambiente. O que quer que houvesse naquela câmara, fugiu da luz instantaneamente.
O velho prosseguiu pela caverna, buscando passagem pelas galerias que haviam se formado sob o monte. A luz de suas mãos iluminou a parede, revelando desenhos antigos, escrituras ancestrais. Mas o velho não olhou para nenhuma delas, temendo enlouquecer. Continuou a avançar com cuidado quando algo saltou sobre suas costas, derrubando-o. No chão, foi capaz de girar o corpo. Ao se colocar de costas para o solo, suas mãos iluminaram a face de seu agressor. O homem misterioso tinha a face negra como a noite e os olhos tão vermelhos que não podiam ser desse mundo. O medo deu forças ao velho, que deu um impulso com os joelhos e empurrou o adversário para longe de si, pondo-se de pé em seguida.
O homem misterioso agarrou um cajado que trazia consigo, sussurrando canções antigas e malditas. Ele próprio foi envolvido por uma luz vermelha vinda de lugar nenhum. Ambos ficaram parados, confrontando-se, lançando, um contra o outro, maldições e feitiços. O velho sentiu o poder de seu adversário quando o seu nariz começou a sangrar.
- Sacrifício de sangue. – gargalhou o homem. – De magias poderosas.
- Ousa chamar o que faz de magia? – praguejou o velho. – Necromante!
Detiveram-se nas palavras e voltaram aos murmúrios e às canções. Ficaram ali por horas e sangue foi derramado dos dois lados. Em alguns momentos, a luz azul ficava mais forte, em outros era a vermelha. Foi então que o velho se lembrou de uma palavra antiga como o tempo e disse-a em voz alta. O cajado do necromante se partiu e ele caiu ao chão, à beira da morte.
- Você me venceu velho, mas essa batalha é insignificante no plano maior das coisas. E, além disso, deixei algo para você no lugar de onde vem. O fruto de meu ódio e de minha dor, e a ele será incapaz de vencer, pois dele será minha vingança. Será ele quem provocará tua morte, velho, e assim o amaldiçoo. – e dito isto, morreu.
O velho ficou contemplando o cadáver por alguns instantes, pouco antes de ouvir um grito agonizante vindo do fundo da caverna. Sem hesitar, prosseguiu para a saída.
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Nirvana
FantasíaJames é um garoto ignorado pelo mundo. Mas agora, ao lado de seu grande ídolo e em uma nova terra, grandes aventuras lhe esperam.