O julgamento de Andrew

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Andrew


Acordo com o barulho de dois guardas invadindo minha cela. Minhas mãos são presas e eles  me tiram do meu lugar e vão me levando pelo grande corredor.
Hoje era o dia de meu julgamento.
Havia muita gente alí, entretanto ninguém que me conhecesse. A maioria eram, basicamente, jornalistas.
Todos decididos a colocar na primeira manchete do jornal a vergonha da família Collin, que antes era influente em muitos lugares.
Um guarda anuncia a presença do juiz,  que dá início ao processo.
Eu tinha o direito à um advogado dado pelo governo, mas ele não parecia que faria muita coisa por mim.
- Sr. Andrew Collin, o senhor está sendo acusado de assasinato, assalto a mão armada e homicídio. Todos em dias diferentes e em vítimas diferentes. Cada vítima esta sendo representada por suas respectivas famílias e, coincidentemente, pelo mesmo advogado. Por isso, todos serão julgados juntos. Vamos dar início ao julgamento.
  Foi então que me dei conta da presença dos pais de Catarine, eles estavam acabados, com profundas olheiras e pálidos, pareciam que eram mortos vivos.
O advogado das vítimas é convidado a  mostrar suas provas e, sinceramente, eu não escuto nada do que ele diz.
Ele fala coisas sobre eu ser um assassino e um doente mental. Meu advogado se levanta e confirma o que ele diz.  Porém, completa dizendo que eu ajo por conta da doença e, nunca por vontade própria.
Eles parecem começar uma discussão que é logo interrompida pelo juiz, que pede ordem.
Esta na hora de chamar as testemunhas.
A primeira pessoa a subir é a mãe de Catarine.
O delegado das vítimas se aproxima dela, e eu, pela primeira vez, decido prestar atenção.
-Sra. Martês, antes conhecida como Sra. Jackson. Casou-se duas vezes e teve Catarine em seu primeira casamento. Me diga, Catarine era muito próxima do pai?
-Sim, os dois eram como carne e unha, viviam juntos. A morte do pai foi muito dolorosa pra ela.
-Entendo, e quando se casou novamente? Suponho que tenha sido difícil para ela a presença de outro homem.
-Nem um pouco, ela amava o padrasto como amava o pai. E ele respeitava os limites dela, meu marido nunca a maltratou ou a obrigou a aceitá-lo. Acho que eu não teria me casado com ele se o tivesse feito.
-Então, posso afirmar que ela não tinha traumas?
-Sim, ela não possuía nenhuma falha mental.
O juiz interrompeu o advogado.
-Sr.  Eu gostaria que fosse mais direto, por favor. O que você quer dizer?
-Quero dizer, excelência, que a menina não tinha razões traumáticas para estar com um louco. O que nos leva a conclusão de que foi obrigada.
-Continue.
-Sra. Martês, a senhora chegou a acompanhar o tal namoro?
-Eu soube, mas não acompanhei. Os dois viviam escondidos.
-Como era o comportamento de Catarine?
-Normalmente, era calma mas, conversava bastante com a família. Independente o bastante para conseguir o que queria. Porém, ela estava andando muito escondida, não comia tanto, sempre cabisbaixa.
"Eu me preocupei, cheguei a questioná-la do motivo mas, ela nunca queria conversar. Eu só gostaria de ter dado conta de tudo antes desse desastre ter acontecido. "
Então, ela começa a chorar desesperadamente e o advogado pede que ela se retire.
Depois ele pede que eu me sente no mesmo local que a mãe de Catarine ou, minha ex-sogra, estava.
Obedeço calado.
Sento e ele me olha com um sorriso falso de "confie em mim".
-Sr. Collin, seu pai, um homem confiante, casado com uma mulher linda, rico e aparentemente sem filhos. O que fez ele esconder você por tanto tempo?
Respiro fundo e respondo na maior sinceridade. Antes de entrar no tribunal, eles haviam me dado calmantes para garantir meu controle e parecia que eles estavam funcionando.
-Assim que ele descobriu minha doença, me mandou para o mais longe possível. Por causa de um trauma de infância, eu acho. Meu avô tinha a mesma doença que eu.
-E o que acontece quando sua doença te domina?
-Eu vejo coisas, ouço vozes e faço coisas erradas na maior parte das vezes.
-E como lida com isso?
-Eu não lido.
-É nesse ponto que eu queria chegar, senhoras e senhores, obviamente, este homem deveria viver em confinamento longe de todos. Ele é uma ameça a sociedade e faz o que " as vozes" lhe dizem. -disse em tom zombaria.
-Ele tem que estar o mais distante da civilização. A jovem Catarine, senhor Collin, me diga, porque a matou?
-Eu a amava.
Ouço então a mãe dela se levantar e gritar exaltada:
-Quem ama cuida, não mata. Seu idiota!
Eu, simplesmente, respondo:
-Eu cuidei dela. Cuidei tão bem, que nenhum outro poderia fazer o que eu fiz, portanto a matei.
"A matei para mantê-la longe de todos vocês que fazem parte desse complô contra mim. "
Eu sentia o efeito do calmante se esvaindo, pouco a pouco.
-Você é louco!- ela grita.
O juíz então pede que ela se recomponha.
Volto ao meu lugar original.
Meu advogado cochicha, dizendo que eu devia agir como um louco mesmo, talvez eles reduzissem minha pena.
Aceno com a cabeça em concordância, mas mal sabia ele que eu não estava fingindo.
O advogado então pede para chamar a próxima testemunha.
E quando ele entra, meu corpo estremece de raiva. Seguro a cadeira com tanta força que meus dedos ficam vermelhos.

Ciúme psicóticoOnde histórias criam vida. Descubra agora