Um passo de cada vez...

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Enfim, 17 anos. Deveria me alegrar. Deveria? Pelo o quê? Minha mãe, bem, eu acho que sou uma das maiores desgraças que já ocorreram na vida dela desde que ela se separou de meu pai. É notável pelo jeito que ela me trata. Sou obrigada a morar com ela. Meu pai preferiu a guarda do cachorro. Deu para ver a situação? Muito prazer, Jenna. Me chamam de Jen na maior parte do tempo.
Eu tenho poucos amigos. Nathan e Lacey. Lacey é colunista no jornal da escola. Tem 17 anos, cabelos escuros com algumas mechas rosas, olhos cor-de-mel, eu sou menor do que ela. Nathan é meio complicado de se explicar. Ele é meu professor de gramática. Tem 26 anos; cabelos escuros, heterocromia (quando a cor dos olhos é diferente uma da outra) preto e marrom. Os dois conhecem meus segredos mais do que eu mesma.
Uma certa questão colocaria nossa amizade à prova? Talvez. Desde que minha mãe viajou, me deixando sozinha nessa mansão enorme, Lacey tem dividido-a comigo. Nada melhor do que a companhia da sua melhor amiga.
Naquela noite, Lacey havia saído com o namorado dela, Wesley, então chamei Nathan para comermos uma pizza. Desde o mês passado, eu sinto uma coisa mais forte quando estou com ele. Ciúmes - por ele ser um professor jovem, as meninas dão muito em cima dele, quando ele fica conversando comigo no intervalo, principalmente. -, um arrepio de vez em quando - quando ele me abraça, quando ele segura minha mão -, e uma química enorme que nós temos. Quando Lacey, Wesley, Nathan e eu fomos à um parque, nós quase ficamos. Rolou um clima enorme. Me apaixonei pelo meu professor de gramática? Obviamente não.
Nathaniel Romeo, ou Nathan, e eu nos conhecemos desde quando eu tinha 15 anos e ele 24. Somos melhores amigos há dois anos. Desde que ficamos íntimos, começamos a compartilhar segredos. Tivemos companhias o suficiente nesse espaço de tempo, mas aqueles óculos que cobriam seus olhos, que me olham tão profundamente, não saem da minha cabeça de jeito nenhum, muito menos sua barba loira.
Quando ele chegou na minha casa com as pizzas, o abracei e o beijei.
- Jen! - ele diz me beijando. - Como você está nessa solidão? Ou deveria dizer "Bad"?
- Estou bem, Nathan. Estive com saudades.
- Eu mais ainda. - diz beijando minha testa e colocando as pizzas na mesa. - Ficar duas aulas sem ter você tagarelando na minha cabeça é horrível.
- Woooooont! Como você é fofo! - digo sentando no sofá e deitando minha cabeça em seus ombros. - Você ficou meigo com a camisa que eu te dei de presente.
- Pensei que não fosse se lembrar.
- Achou mesmo que eu disse esquecer do meu presente de aniversário para você? - digo e ele me abraça por trás. Meu coração disparou.
- Você se esquece de tantas coisas nas avaliações, pensei que esqueceria de novo. - ele diz bem perto do meu ouvido.
- Já te disse: eu presto mais atenção no professor do que na matéria. - respondo ainda de costas para ele, e senti seu coração pulsar, o que fez o meu pulsar mais ainda.
- Shhhhhh. - ele diz e vem para minha frente, colocando um dedo em minha boca, como se estivesse calando-a. - Não conte para sua mãe. - e então ele me beija pela primeira vez desde que nos conhecemos. Foi calmo. Esperava muito por esse momento. Sinto suas mãos indo parar na minha cintura, apertando-a levemente. Enfim, paramos depois de dois minutos. Com as nossas respirações se fundindo, encarei seus olhos. - Ruivinha, se eu te contar algo você vai se escandalizar?
- Claro que não, conte.
- Eu sempre quis fazer isso. - diz colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha perfurada com piercings e brincos.
- Isso o quê?
- Te beijar.
- Deixa eu te contar outra coisa?
- Conte-me.
- Pode fazer isso sempre que quiser. - digo tirando seus óculos e ele me beijou novamente. Ele nos separou dessa vez. Indo para a cozinha, percebi que ele se constrageu. Meio estranho um professor beijar uma aluna.
- Estou finalizando o contrato da compra do apartamento.
- Sério? Que massa!
- Quando sua mãe volta?
- Daqui a algumas horas, infelizmente. - ele sabe a minha situação com a minha mãe.
- Fica tranquila. - ele diz colocando a sua mão sobre a minha. - Daqui a algum tempo você não vai ter que passar por isso. Se quiser, eu vou com você buscá-la no aeroporto.
- Não vai te atrapalhar?
- Claro que não. - ele diz sorrindo. - Não programei nada para agora. Descartei tudo para ficar com você o tempo que fosse preciso. - ele faz uma pausa. - Afinal de contas, você é minha melhor amiga. - ALGUÉM TATUE, POR FAVOR, "FRIENDZONE" NA MINHA TESTA?
- Você também é meu melhor e único amigo.
- Te amo pra caramba, baixinha.
- Também te amo pra caramba.
...
- Mãe? Quem é esse homem? - pergunto já no aeroporto, vendo minha mãe com um cara parecendo ter a idade de Nathan.
- Seu padrasto. Gostou?
- Meu padrasto tem a idade do meu professor ou é mais novo que isso? - digo indignada.
- Ele tem 22. Se chama Ryan. O que achou dele?
- Um tremendo idiota. - digo na sua frente. - Mãe, quantos anos a senhora tem?
- 42, e daí? Você não pode intervir na minha preferência. Eu e Ryan vamos nos casar e você vai ficar lá em casa aceitando tudo, porque eu sou sua mãe.
- Nem ferrando que eu vou aceitar. Nem sei o porquê de eu ter vindo te buscar. - fecho o porta-malas do carro de Nathan e ele me abraça, secando as minhas lágrimas. Pode até não parecer, mas minha mãe me odeia.
- Jen - diz Nathan. -, chegou a hora de você se mudar. Aceita?
- Tudo para não ter que viver com essa coisa. Eu não suporto mais a dona Shirley. Você me entende, Nathan?
- Eu entendo sim. Fica calma. Daqui a dois dias eu te busco.
Entramos no carro e então percebi que tem um cachorro no colo de Ryan. Ah, não! Cachorros não! Eu sou alérgica à pelo de animal! Minha mãe sabe disso. Eu já tive um cachorro antes, ainda não tinha descoberto a alergia, mas as minhas experiências com cães não são as melhores. Então, quando chegamos em casa, minha mãe diz:
- Jenna, a Estrela vai ficar no seu quarto.
- Você sabe que eu sou alérgica.
- Ela não pode ficar no nosso ninho de amor!
- Tudo tem limite, dona Shirley.
- Para de frescura, você nunca teve isso.
- Eu já fui parar no hospital por causa disso, e você estava junto.
- Aquilo passou, Jen.
- Passou para você, sua irresponsável. Ou a cachorra, ou eu. Decida.
- Claro que a Estrela, não é, Jenna?
- Era isso o que eu precisava. - vou para a porta do meu quarto e digo: - Sai agora do meu quarto! - ela sai e eu tranco a porta, chorando. Pego meu celular e peço para Nathan deixar o acesso do apartamento liberado para mim. Faço as malas e vou saindo de casa.
Chamo um táxi e dou o endereço do condomínio de Nathan. Há seguranças na portaria. Me identifico e digo que Nathan autorizou minha entrada, mas eles tinham que conferir com o dono da casa. Quem diria, Jenna Arlington fazendo a rebelde sem causa.
Chego em frente à porta do apartamento do meu senpai, e, quando ele abre, desabo em lágrimas. Seus braços fortes me acolhem e me levam para o sofá de sua aconchegante casa.
- Quer falar sobre isso? - afundo minha cabeça em uma almofada e choro, sentindo sua mão pousar sobre as minhas costas como uma pena. - Melhor não. Fique calma. Vai ficar tudo bem.
Espero que seja verdade. Espero que fique tudo bem. Que tudo isso seja só mais um pesadelo e eu acorde. Tudo se repetiu e isso foi um drama. Dias melhores ainda estão por vir.

Um Milhão De MilhasOnde histórias criam vida. Descubra agora