Um Milhão De Milhas

Pacifique-a

...

Acordo em um hospital rodeada de fios em volta do meu corpo. Olho para o resto do meu corpo e reparo que estou muito mais magra, emagrecida. E tem uma coisa prendendo meu braço esquerdo. Um único pensamento me vem à cabeça: Meus bebês. Toco a barriga esperando sentir o inchaço, mas tudo o que sinto é uma cicatriz. Entro em desespero, tento esticar meu braço direito até uma campainha para chamar alguém. Em poucos minutos vejo uma enfermeira chegar. Tento falar algo, mas parece que minhas cordas vocais incharam, não sai uma palavra. A enfermeira, então, fala no meu idioma.

- Se acalme, você precisa se recuperar. O seu impacto no chão infelizmente fez com que você perdesse os bebês e quebrasse o braço esquerdo. Você teve uma parada cardíaca durante a cirurgia para retirar os bebês do seu útero, mas conseguimos te trazer de volta.

- E... O... Nathan... - digo custando muito da minha voz.

- Nathan está em observação. Ele só quebrou o braço, por causa do cinto e do air bag. Ele teve sorte. Pelo o que os para-médicos disseram, parecia que uma parte do seu cinto havia sido cortado... - fico estagnada, mas ainda não consigo falar. Ela regula o soro e sai. Eu encosto a minha cabeça no travesseiro da maca e acabo me deixando dormir.

...

*Três dias depois...*

Fui transferida para um quarto, uma fonoaudióloga entra. Graças a família de Nathan eu só passei com médicos que são fluentes no meu idioma. Por falar em Nathan, ele já teve alta. Ele passou horas sentado ao lado da maca chorando e pedindo perdão. Sei o quanto ele queria os bebês, não foi por querer.

A fono começa a fazer os mesmos exercícios de ontem. Ainda bem que consigo falar.

Tive que adiar a volta para Miami por conta do acidente. Minha mãe ligou no hospital por inúmeras vezes. Mesmo não nos falando tanto, não consigo odiá-la. Eu a amo. Só percebi isso agora, por isso, quando eu voltar para Miami vou voltar para a casa de minha mãe.

Nathan entra no meu quarto e me dá um beijo na testa.

- Oi, minha princesa! - diz segurando minha mão e acariciando-a levemente.

- Oi! - digo sorrindo para ele.

- Você tem uma visita especial. Uma não, três. - ele diz e eu vejo entrar pela porta Lacey, Wesley e minha mãe.

- Mãe! - digo começando a chorar, então ela vem e me abraça.

- Jenna, minha querida! - vejo que ela não está diferente de mim. - Você não sabe o quanto eu senti a sua falta.

- Eu senti só um pouco, mas senti. - digo e ela sorri embargado. Tanto tempo perdido, tantos erros, tantas palavras que poderíamos ter dito uma para a outra, tantas coisas que poderíamos ter feito antes.

- Então, filhota, como se sente?

- Bem melhor. Quero ir embora daqui. - digo. Lacey continua acariciando meus cabelos. - Lacey, venha cá. - quando ela vem a abraço apertado.

Percebi que, apesar da dor de ter perdido meus dois filhos, é sempre bom ter uma boa companhia. Sempre. Eu estava meio sozinha aqui no Brasil, por mais que estivesse com Nathan, a falta dos meus amigos me prejudicou em alguns sentidos.

- Jen, sinto muito pelos bebês. - Lacey diz e eu seco mais uma das lágrimas que caem dos meus olhos. - Estou aqui se precisar de qualquer coisa