Consequências

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- Como assim, Jenna? - ele diz pegando os exames da minha mão. Confere cada um e depois me entrega, decepcionado. - Droga, droga, DROGA, JENNA! Você tinha que ter tomado a pílula.
- A culpa é minha se você não usou camisinha, Nathaniel? - eeeeeeeita, pra chamar de Nathaniel é porque a coisa não está boa.
- Eu não quero essa criança! - ele diz virando as costas e sai andando.
- O que eu faço agora? - pergunto indo atrás dele.
- Aborta, sei lá! Que se dane! Eu só não quero essa criança na minha vida! - eu paro e ele também.
- Não, Nathan. Me manda embora da sua casa, mas eu não vou abortar. Essa criança não pediu pra estar no meu útero. E eu não fiz com o dedo. Você vai assumir sim!
- Você tem 17 anos, Jenna. Você é uma criança que está carregando outra criança. Entra no carro e vamos pra sua casa. Você tem que falar com a sua mãe.
- Nathan, você é cruel. - digo sendo obrigada a entrar no carro. Eu não disse uma só palavra durante o trajeto. Só alisei minha barriga e dormi.
Aquela criança não tinha culpa de um erro que eu e Nathan cometemos. Eu nunca iria abortar.
Nathan me acorda. Chegamos na casa da minha mãe. Gestos e olhares delicados que até fazem enganar o bobo que não vê debaixo disso sua força.
- Jenna, minha filha! - mamãe disse com um sorriso no rosto, logo depois me abraça. - Você engordou um pouco. Está tudo bem?
- Sim, está tudo bem. - digo entrando na minha antiga casa. Nada mudou. Tudo como antes. Lembro-me do dia em que fugi de casa. Aquele dia, para mim, foi quando eu me senti livre. - Mãe, preciso falar com você. Eu e o Nathan.
- É sobre suas bochechas terem crescido? Ou sobre ter engordado?
- Você continua indelicada, não é mesmo? - digo sentando-me no sofá. - Não estou bem.
- Quer alguma coisa? - mamãe pergunta.
- Quero sim. Quero ser aceita.
- Filha, você sabe que eu não me importo se você for lésbica.
- Mas eu não sou lésbica.
- Então, o que é?
- Eu estou grávida.
Minha mãe parou pra analisar e digerir minhas palavras. Parecia chateada. Ela também me chateou.
- Te disse pra tomar cuidado, Jenna. - ela disse.
- Você me disse tudo, mas não foi a amiga que eu sempre precisei. Nunca foi. Sempre cobrou de mim, sempre exigiu. Mas, você se lembra quando você foi em alguma apresentação minha? Pois é, você NUNCA foi em nenhuma.
- Não fala assim, Jenna. Eu sempre fiz o melhor pra você crescer bem. Sempre quis o seu bem. Eu só acho que é meio cedo pra você ser mãe. - ela inspira profundamente e depois solta o ar. - Você é quem sabe. Pode contar comigo, se precisar de ajuda.
- Obrigada.
- Filha, quem é o pai?
- Bem, mãe, é o Nathan.
- Como? - ela olha para Nathan, indignada. - Saiam os dois daqui. Onde já se viu, dois amigos, além de tudo professor e aluna, morarem na mesma casa e ainda terem um filho juntos? Saiam os dois daqui.
- Eu pensei que fosse entender. - digo já na porta.
- Eu pensei que fossem apenas amigos. - ela diz fechando a porta na nossa cara.
Entro no carro e Nathan segura a minha mão, nisso eu começo a chorar. Entrelaços perigosos. Choro ainda mais ao perceber sua mudança repentina comigo. Xarope é um xarope mesmo em uma mamadeira.
Chegando no apartamento de Nathan, pego um vaso que compramos juntos e taco na parede, sentando no sofá desesperada, chorando, chocada.
- Socorro! - sussurro para mim mesma.
- O seu próprio circo caiu em cima de você, Jenna. - Nathan diz e eu o olho com ódio. - Não adianta me olhar assim.
- CALA A BOCA, NATHAN.
- CALA A BOCA VOCÊ!
- Você não tem o direito de gritar comigo!
- E você tem direito de gritar comigo?
- Eu... eu... EU TE ODEIO, NATHANIEL. EU ODEIO VOCÊ!
- Quando a gente ia pra cama você não odiava.
- Você tem razão, Nathan. Eu vou embora daqui.
- Ah não, você não vai mesmo!
- E você vai me impedir? Eu posso fugir no meio da noite se eu quiser.
- Jenna, eu sei que você tá arrasada, eu também estou, sabia? Eu sou o pai dessa criança e eu que vou ser mal falado. O pedófilo, o que engravidou a própria aluna. Para e pensa um pouco no meu lado. Mas você não vai embora. Eu não vou deixar. É meu dever como pai. - volto a chorar e ele vem ao meu encontro. - Me perdoa por ter me alterado no hospital. Não chora, sabe que eu não gosto de ver você chorar. Odeio ver você sofrer, e saber que eu estou te fazendo sofrer. Me dá um abraço. - o abraço e ele acaricia meu cabelo. - Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui por você, te prometo. Te amo muitão.

- Também.

Não vou mentir, ainda sinto o toque de suas mãos em todo o meu corpo, e arrepios quando lembro o que fazemos quando estamos só nós dois no quarto. É um algo inexplicável e de tirar o fôlego. Lembro-me da promessa que ele me fez quando eu tinha 16 anos, que ele me deu um colar de ouro - que uso até hoje - e me prometeu que nada, nem ninguém estragaria nossa amizade, foi em um jantar super fofo com Lacey e Wesley. É algo que não quero esquecer, pois representou nossos momentos felizes.

Eu tenho uma razão para não desistir da minha amizade com Nathan. Se essa criança vir, venha sem culpa, quem cometeu o erro não foi ela, fomos nós. Digam o que for, eu não vou abortar. Esse foi meu erro, essa é minha consequência.

Um Milhão De MilhasOnde histórias criam vida. Descubra agora