Prólogo

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Não sabia o que estava ocorrendo naquele momento. Tudo estava acontecendo tão rápido para meu cérebro conseguir processar tudo aquilo de uma vez só. Vários tiros incessantes e barulhentos eram ouvidos do lado de fora da minha casa. Meus pais não haviam me contado absolutamente nada sobre isso. Por que estão atacando o meu planeta e, principalmente, quem o está atacando?

- Mãe, por favor, fale-me alguma coisa. - Implorei em meio aos soluços que dava a cada segundo.

Várias lágrimas já estavam caindo de meus olhos arroxeados e escorrendo pelas minhas bochechas. Passado um minuto, minha mãe não havia sequer me respondido ainda. Estava calada desde que os tiros começaram e isso me deixava intrigada. Ela estava bastante concentrada na máquina - do qual eu não sabia qual a sua utilidade - que ela e meu pai tinham começado a construir apressadamente por motivos desconhecidos por mim, até então.

Eu encostei em minha cama e acuei-me rapidamente, como se aquilo fosse me acalmar diante de uma coisa que nem sabia o porquê e quem estaria fazendo aquilo conosco. Minha mãe ainda não tinha aberto a boca para me dar alguma explicação, ela continuava prestando toda a sua atenção naquele retângulo de metal inútil.

Ouvi barulhos de uma porta sendo aberta abruptamente e olhei na sua direção. Era meu pai. Ele estava absurdamente suado, suas vestes formais estavam totalmente rasgadas, como se acabasse de voltar de uma briga com leões ou ursos, suas mãos estavam tremendo exageradamente e seu semblante mostrava nervosismo e preocupação.

- Violette, a máquina já está pronta? - Perguntou meu pai, logo quando entrou no quarto que estávamos há tempos.

- Não, mas falta apenas alguns minutos e estará pronta para a viagem. Só... - Ela deu um suspiro pesado, mostrando cansaço - Espere mais um pouco. - Advertiu-lhe minha mãe, sem ao menos olha-lo nos olhos.

- Mas não podemos mais esperar nenhum minuto a mais, querida. A qualquer momento, alguma bomba poderá muito bem quebrar a barreira que fizeste e todos nós morreríamos, principalmente, a nossa filha que é o que mais tememos agora. Por isso, estamos construindo esta máquina do tempo. Para salvá-la.

- Desculpe-me se eu não nasci com poderes que envolvessem construir objetos rapidamente. - Retrucou ela em um tom ríspido.

Os dois estavam falando como se eu não estivesse presente ali. Eu odiava intensamente que fizessem isso comigo. E pior que eles sabem muito bem disso, mas estão fazendo questão de me deixar ainda mais irritada.

- Será que dá pra pararem de falar como se eu não estivesse presente? - Bradei, tentando fazer com que minha voz saísse mais alta que os tiros que vinham lá de fora. Meus pais olharam para mim com seus semblantes demonstrando surpresa. - Agora que estão prestando atenção em mim, me expliquem o que está acontecendo!

Eles ainda me olhavam profundamente, mas,logo os dois se olharam, enquanto faziam expressões aleatórias. Eu dei um suspiro longo e revirei os olhos. Eles estavam se comunicando telepaticamente e isso estava me deixando mais nervosa, a ponto de desejar intensamente para que morressem. Mesmo também tendo o poder de telepatia, meus pais haviam bloqueado a mente deles com um feitiço para que eu e outros cidadãos, que continham o poder de telepatia ou poder de ler mentes, não pudessem escutar seus pensamentos à vontade.

Depois de alguns segundos, eles pararam de fazer as expressões malditas e meu pai veio em minha direção, enquanto minha mãe voltou-se para máquina continuando a examiná-la atentamente. Ele agachou-se em minha frente e olhou-me profundamente nos olhos. Seu rosto estava muito sério para o meu gosto. Era quase impossível vê-lo assim.

- Olha, minha querida, não podemos contar a você por vários motivos eminentes. Um deles é para o seu próprio bem, acredite, meu amor. Quando sua mãe terminar de construir a máquina, entre nela sem hesitar e reclamar, está me entendendo? - Ordenou-me em um tom autoritário.

- Mas...

- Sem mas, Clark. Obedeça-me! - Interrompeu-me em um tom mais alterado que antes.

- OK, tudo bem. - Concordei, dando um suspiro em seguida.

Uma mão apareceu no ombro esquerdo de meu pai e ambos olhamos para cima, vendo a minha mãe acenando com a cabeça, indicando que a máquina estava pronta para ser usada.

Eu e meu pai nos levantamos, e nós três seguimos para a máquina até ficarmos frente a frente a ela.

- Bem... Está na hora! - Comentou meu pai em um tom acabrunhado.

Eu olhei para a minha mãe e ela estava me encarando com seus olhos demasiado marejados. Eu estava com a impressão de que não os veria nunca mais, então acalentei-me nos braços dela. Meu pai me abraçou por trás. Aquele abraço foi o mais confortante e mais acolhedor que tive em toda a minha vida. A saudade já estava batendo fortemente em meu peito. Ainda sentia raiva deles por não me contarem o que estava ocorrendo, mas agora era uma coisinha pequena comparado ao vazio que já estava sentindo. Nunca imaginei minha vida sem nenhum dos dois, e agora, era o que iria acontecer e eu não estava preparada mentalmente para isso.

Eles se separaram de mim apressadamente quando ouviram um baque alto vindo do lado de fora, muito maior que os tiros incessantes e de quase estourar os tímpanos que ouvíamos.

- A proteção foi rompida. - Advertiu meu pai, rapidamente.

Eles me empurraram abruptamente para dentro daquela máquina totalmente metálica, e logo fecharam a porta. Seu interior era vazio, não havia nenhum móvel ali dentro. A única coisa diferente que existia ali, era uma janelinha na porta onde eu poderia ver o lado de fora. Meus pais sorriam alegremente para mim, enquanto minha mãe apertava um botão vermelho localizado em sua mão direita. Um campo de força pareceu ter envolvido a máquina, e logo em seguida a visão de meus pais sorrindo desapareceu por completo e o lado de fora envolveu-se em uma escuridão total. Acuei-me novamente no canto daquele local de aspecto frio. Um silêncio profundo reinou por alguns minutos até que um estrépito foi ouvido, fazendo-me apagar completamente, sem ter um pingo de certeza do que iria me acontecer de agora em diante.

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