Capítulo 30 - Caminhando para a Escuridão

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João termina de imprimir a cópia da carta que redigiu com cuidado e revisou inúmeras vezes. Ele não pode mais continuar compactuando com isso, sendo conivente com atitudes insanas de um homem com delírios de ditador e visivelmente perturbado, que tem tudo para se autodestruir, mas, o que é pior, levar junto com ele outros inocentes.

Ele separa a pasta onde colocou todos os contatos das pessoas que foram contratadas para vigiarem os passos de Anneliese, e o último relatório... João lamenta o que Fernando fez com a ex-noiva, mas sorri feliz ao saber o que Maurício fez para defender a amiga... Ele começa a arrumar suas coisas enquanto espera o chefe chegar.

As portas do elevador se abrem e, quando a secretária de Fernando olha em sua direção, se assusta ao ver o olho roxo de seu chefe e um curativo no supercílio. A expressão de poucos amigos dele a deixa receosa para cumprimentar.

- Bom dia, Sr. Diógenes... - Ela sussurra sem olhar diretamente para ele, que responde seco.

- Bom dia.

Fernando fecha a porta atrás de si, coloca sua pasta sobre a mesa de reuniões e pendura o seu blazer. Ele respira fundo tentando afastar a visão de Anneliese machucada e acuada, chorando para que não se aproximasse dela... Uma visão que o está assombrando e que não o deixa dormir... Ele não consegue entender porque fez isso, que força negativa o dominou e o cegou a tal ponto para cometer essa barbaridade contra a mulher que tanto ama...

- Mas por que você tinha que se envolver com outro cara, Anne? - Ele fecha os olhos e coloca as mãos sobre a cabeça - Por que você fez isso? Para me castigar? Se vingar da minha traição? - Fernando respira fundo tentando se acalmar - Preciso achar um jeito de falar com você, te pedir perdão, para que a gente possa recomeçar direito...

Os devaneios de Fernando são interrompidos com uma leve batida à porta e com a entrada de João em seguida, que está segurando algumas pastas e um envelope. Quando olha para o chefe, uma grande satisfação o domina ao ver o "estrago" que Maurício fez, e teve que controlar muito o seu desejo de sorrir.

- Bom dia, João... - Fernando cumprimenta enquanto caminha até sua mesa e senta-se - Aconteceu alguma coisa?

- Bom dia, Sr. Diógenes... Não, não aconteceu nada, apenas vim trazer-lhe todos os documentos...

- Que documentos? - Fernando olha para o seu assistente sem entender - Não me lembro de ter pedido alguma coisa...

- E não pediu... - João dá um leve sorriso e começa a colocar as pastas sobre a mesa, diante de Fernando - Aqui estão todos os contatos das pessoas contratadas até hoje para vigiar a Srta. Siqueira Campos... E nestas cinco pastas estão todos os relatórios gerados desde que o trabalho se iniciou...

- Não estou entendendo, João... - Fernando dá de ombros - Por que está me entregando tudo isso?

- Porque não estou de acordo com o que o senhor fez com a senhorita... - João respira fundo quando vê o olhar surpreso de Fernando, mas não se intimida - Em minha opinião, foi um ato de extrema covardia contra uma jovem indefesa e não posso compactuar com tamanha selvageria... - Ele entrega o envelope para o atônito chefe - Aqui está minha carta de demissão...

- Não precisa fazer isso, João... - Fernando olha sério para ele e, apesar de surpreso com sua atitude, fala calmo - Você é um ótimo profissional e eu não quero que a empresa seja prejudicada por uma estupidez minha... Gostaria que reconsiderasse e, se aceitar ficar, posso te transferir para o setor financeiro ou qualquer outro que achar mais pertinente...

- Sr. Diógenes, eu agradeço a consideração, mas quero deixar claro que, caso eu aceite ficar, não tomarei mais parte nessa sua perseguição à pobre moça e às pessoas ligadas a ela...

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