Capítulo 3

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Uma de suas mãos tapava minha boca enquanto a outra segurava meu corpo. Era ele. Provavelmente, havia voltado para terminar o que começou em minha casa. Mas como ele havia me encontrado? Seu perfume era o mesmo. Seu olhar ainda era duro e cruel, mas seu corpo não parecia tão frio. Dessa vez, não resisti. Não valia a pena. Ele era um profissional. Se quisesse me matar, me mataria. Fechei meus olhos e deixei que ele fizesse seu "trabalho". Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e, antes que a segunda pudesse surgir, ouvi sua voz.

— Eu vou tirar minha mão de sua boca, mas se você tentar gritar, não vou te dar uma segunda chance.

Sua voz ainda era firme, mas parecia menos agressiva. Lentamente, sua mão se afastou da minha boca. Seu corpo continuava segurando o meu contra a parede. Pelo menos, dessa vez, eu estava vestida. Não consegui dizer nada. Só respirei. Sem dizer uma só palavra, ele levou uma de suas mãos até seu rosto e retirou a máscara. Eu não entendia o que estava acontecendo ali. Mal podia acreditar que aquilo era real. Talvez se o seu cheiro não fosse tão forte, eu teria a certeza de que aquela cena fazia parte de um sonho. Também tive dificuldade para acreditar em tanta beleza. Seu rosto tinha traços rústicos. Sobrancelhas grossas, olhos fundos, boca carnuda. Havia uma cicatriz acima de uma das sobrancelhas. Era um pouco grande, mas ao mesmo tempo suave. Combinava com a austeridade de seu rosto. A cabeça estava raspada, mas dava para ver que seu cabelo era negro. Seus olhos, também negros, aumentavam a intensidade do seu olhar. Ele aparentava ter uns trinta e sete anos. Ficamos nos olhando, em silêncio. Eu estava conhecendo cada detalhe de seu rosto e ele parecia respeitar meu tempo. Finalmente, estava construindo uma moldura para os olhos que me encararam no momento mais estranho da minha vida. Seu corpo ainda segurava o meu, mas não com a mesma força. Eu me sentia livre. Podia me movimentar se eu quisesse, mas não o fiz. Essa era a parte esquisita. Eu não queria sair dali. Levei minha mão até o seu rosto e, finalmente, pude sentir a sua pele. Era áspera. A barba por fazer arranhava minha pele. Seus olhos fecharam ao sentir meu toque. Ele respirou longa e profundamente e voltou a me olhar. Senti meu corpo inteiro gelar e, em seguida, senti seus lábios nos meus.

Rapidamente, suas mãos envolveram meu corpo. As minhas estavam em seu rosto. Até o seu beijo era ríspido, como se ele sentisse raiva de mim, raiva por estar ali, por me desejar. O beijo não durou muito. Ficou mais intenso, mais bruto e, aí, ele se afastou.

— Eu não sei o que estou fazendo. Isso não pode acontecer.

— Mas você veio atrás de mim...

— Mas não deveria ter vindo.

— E por que veio, então?

Ele me olhou tão sério que, por um segundo, pensei ter assinado minha certidão de óbito. Ele veio em minha direção e me agarrou. Voltamos a nos beijar com a mesma intensidade de antes. Em meio aos beijos, ele tentava explicar o que estava acontecendo. Ou tentava entender também.

— Eu não sei o que você tem... Não sei o que fez comigo...

Ele segurou meu cabelo, quase o puxando para trás, e olhou em meus olhos.

— Eu não gosto do que está acontecendo aqui – continuou.

— Então vá embora.

Ele me soltou e se afastou um pouco. Parecia assustado com a minha coragem em falar com ele daquele jeito. Ou de qualquer jeito. Por que eu não sentia medo dele? Ele havia tentado me matar. Eu também não entendia. A única coisa que eu sabia é que eu o desejava. E muito. Dessa vez, fui eu que o agarrei. Estávamos próximos da cama. Fui para ele com tanta vontade que caímos sobre ela. Seu beijo me fez desejá-lo ainda mais. Sem que eu percebesse, ele tirou o calçado. Ele vestia uma jaqueta de couro e calça jeans. Eu comecei a tirar sua jaqueta e ele terminou. Eu já havia tirado meu casaco na sala, antes de chegar ao quarto. Quando ele tirou minha blusa, senti suas mãos geladas encostarem em minha pele. Era tão estranho. Seu corpo estava quente, mas suas mãos continuavam frias. Enquanto ele desabotoava minha calça, tentei tirar sua camisa.

ANNIE [Português]Onde histórias criam vida. Descubra agora