Simon segurou meus lábios para que eu parasse de gritar.
— Você quer chamar a atenção dos vizinhos?
Ele liberou minha boca e soltou meu braço.
— Mas você não me escuta.
— Você não tem que dizer nada. Só precisa me ouvir.
— Mas tem tanta coisa que eu não entendo. Eu só quero conversar um pouco.
— Mas eu não quero conversar...
— Então por que você me trouxe para cá? Por que você me procura? Eu estou cansada de você. Estou cansada dessa relação estranha que existe entre nós dois.
Eu estava gritando de novo. Simon veio novamente em minha direção e, com força, segurou meus braços. Dessa vez, não calou minha boca.
— Por que você não me mata logo de uma vez?
Minha voz estava bastante alterada. Podia ver o ódio crescer nos olhos de Simon. Ele queria me machucar. Eu podia sentir isso. Podia sentir a força que ele fazia para controlar seus instintos.
— Você não me conhece – disse calmamente. – Não sabe do que sou capaz.
— Eu estava lá quando você quase me matou – respondi no mesmo tom. – Posso imaginar do que seja capaz.
— Por que você faz isso comigo?
— Porque eu te quero. – Em meio às palavras, comecei a beijar seu rosto. – Eu quero tanto sentir você. Quero sentir seus lábios, quero sentir minha pele sendo arranhada pela sua barba, quero sentir o calor do seu corpo, quero sentir meu corpo se arrepiar com o toque das suas mãos geladas...
Simon soltou meus braços e agarrou meu rosto. Ele me pegou com tanta força que jogou meu corpo contra a parede. Mas não chegou a me machucar. Mais uma vez, eu podia senti-lo se rendendo a um desejo que ele não conseguia mais controlar. Aquele homem me enlouquecia. Entre os beijos descontrolados, fomos parar no chão. Em todas as vezes que estivemos juntos, Simon nunca tirou sua camisa. Mas eu queria senti-lo por inteiro. Queria sentir seu corpo colado ao meu. Enquanto nos beijávamos, coloquei minhas mãos em sua camisa.
— Não.
Ele disse em tom de desaprovação enquanto segurava minha mão, tentando impedir que eu continuasse despindo-o. Mas aquela ordem eu estava disposta a desobedecer.
— Você não está mais no controle.
Ficamos nos olhando, em silêncio. Ele estava tão sério que, por um minuto, achei que eu havia quebrado todo o clima. Mas eu estava errada. Na verdade, estava certa ao confiar no meu julgamento. Sem tirar seus olhos dos meus, Simon largou minha mão. Ele estava sobre mim. Ao levantar sua camisa, entendi o porquê de ele estar se escondendo. Em seu peito e sua barriga, várias cicatrizes. Algumas maiores, outras menores, mas todas pareciam fazê-lo sofrer. Eu terminei de tirar sua blusa e, com uma das mãos, toquei seu corpo. Pude ver Simon se arrepiar enquanto eu tocava suas cicatrizes. Não sei se era vergonha, tristeza ou raiva que aquelas marcas lhe causavam, só sei que elas não me incomodavam. Ironicamente, eu me interessava pelo Simon exatamente como ele era. Na verdade, a cada descoberta que eu fazia a seu respeito sentia-me ainda mais atraída. Me aproximei e beijei suas cicatrizes. Senti Simon contrair os músculos. Olhei em seus olhos e voltamos a nos beijar, mas, dessa vez, foi mais suave. Ainda havia certa brutalidade, porque com Simon nada era delicado, mas alguma coisa tinha mudado. Não havia mais raiva em seu olhar. Ao tocar as suas costas, percebi que ali também tinha cicatrizes.
Mais uma vez, adormeci no peito de Simon. Era como se houvesse sonífero em seu colo. Pelo menos, dessa vez, eu dormi em seu peito mesmo. Podia sentir sua pele, sua respiração. Foi apenas um cochilo, mas era tempo suficiente para ele sumir, se assim ele quisesse. No entanto, lá estava ele quando eu acordei. Simon tinha me carregado para o quarto e me ajeitado em seu colo, na mesma posição que eu havia adormecido. Ele estava com a cabeça apoiada na cabeceira da cama assistindo televisão. Era um filme de comédia.
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ANNIE [Português]
RomanceEm um apartamento no Rio de Janeiro, uma jovem médica está prestes a ver sua vida terminar nas mãos de um assassino de aluguel. Não há o que ser feito, a não ser se entregar ao seu destino. Os olhos de Annie estão presos aos olhos de seu algoz. E, a...