Capítulo 11

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Cinco meses haviam se passado desde meu retorno ao Brasil. A mania que eu adquiri em Lyon, de marcar no calendário há quantos dias estava longe do Simon, eu mantive ao voltar para casa. Todos os dias à noite, assim que chegava em casa, eu ia até a cozinha e riscava mais um dia do calendário preso à geladeira. Naquela sexta-feira, não foi diferente. Cheguei do trabalho às sete horas e segui meu ritual. Entrei em casa, coloquei minha bolsa sobre a mesa e fui até a cozinha. Ali percebi que, naquele dia, completava cento e cinquenta e dois dias que eu estava longe dele. E a dor ainda era a mesma. Eu tinha conseguido me reerguer. Levou um tempo, mas consegui colocar minha vida nos eixos. Eu estava morando sozinha e estava satisfeita com isso. Depois de tudo que havia passado, me senti um pouco sufocada na presença de outras pessoas. Era natural que elas quisessem me mimar e me ajudar a superar o trauma, mas eu preferia ter um pouco mais de espaço. Mas, mesmo assim, eu estava mais próxima da minha família, conseguia ver meu sobrinho com mais frequência e, além disso, estava me dedicando como nunca ao trabalho. Mas constatar que já fazia tanto tempo que estávamos afastados e que, mesmo assim, eu continuava amando-o intensamente, jogou fora todo o investimento que fiz em me recuperar. Em questão de minutos, lá estava eu de novo. Naquele mesmo lugar. Desesperada para vê-lo e tê-lo em minha vida mais uma vez.

Durante aqueles cinco meses, eu senti culpa, raiva, tristeza, medo. Esses sentimentos se intercalavam. A única coisa que nunca saiu de mim foi a saudade. Nunca deixei de sentir falta de Simon. Todos os dias, eu desejava vê-lo, mesmo que o motivo para esse encontro mudasse. Às vezes eu queria vê-lo para me desculpar, outras para dizer o quanto eu o odiava e outras para dizer o quanto eu o amava. Mas eu sempre desejava vê-lo. Eu ainda era capaz de sentir o seu perfume. Ouvia sua voz sussurrando em meu ouvido. Com seu tom frio e ríspido. Mas que era capaz de incendiar todo meu corpo em segundos. Eu queria poder tocar suas cicatrizes mais uma vez, e dizer o quanto o achava lindo. Queria sentir sua barba arranhando minha pele. E suas mãos passeando pelo meu corpo com a brutalidade suave que só Simon saberia fazer. Ninguém jamais entenderia como um amor tão puro poderia surgir de algo tão ruim. Nem eu entendia como era possível sentir tanta falta de alguém que eu havia acabado de conhecer. Mas eu amava aquele homem com cada fibra do meu ser. E aceitar que nunca mais o veria ainda estava distante para mim.

Tomei um banho, sentei-me no sofá da sala e peguei um livro para ler. Não consegui me concentrar. Aquele tempo não saía da minha cabeça. Como pude viver tanto tempo sem ao menos ouvir sua voz? E pior, como pôde o meu amor por Simon resistir durante todo aquele tempo sem receber nada em troca? E nem ao menos diminuir. Fiz um chá para tentar relaxar, mas nada funcionava. Eu precisava fazer alguma coisa, precisava tentar mais uma vez. Depois de pensar por alguns minutos, decidi ligar para ele. Eu sabia que, ao ver a origem da chamada, Simon não atenderia. Ele, provavelmente, já teria decorado o código do Brasil, mas isso não era problema. Eu deixaria um recado. Só de colocar minhas mãos no telefone, senti meu corpo inteiro fraquejar. Tive a sensação de que se eu estivesse em pé, cairia. Disquei o número de seu celular. Tocou algumas vezes e, como eu havia previsto, caiu na caixa postal.

— Oi, Simon. É a Annie. Não sei se você está me ouvindo agora ou se, em algum momento, você vai me ouvir, mas eu precisava fazer isso. Eu só queria pedir desculpas por tudo o que te causei. Não faz sentido eu ficar enumerando meus erros agora, mas, enfim, eu sei que te fiz sofrer e quero que você saiba que essa nunca foi a minha intenção. Muito pelo contrário, apesar da forma bizarra como nos conhecemos, eu sempre quis o seu bem. Então, me perdoe por todo sofrimento que te causei. Eu também queria aproveitar para te agradecer. Nossa despedida foi um tanto quanto confusa e eu nunca tive a chance de dizer que sou muito grata por tudo o que você fez por mim. Muito obrigada por me proteger e por cuidar de mim enquanto estive longe de casa. Então, é isso. Eu espero que você esteja bem. Se quiser me ligar, vou ficar muito feliz. Gostaria de ter notícias suas, saber, ao menos, se você está vivo. Eu sempre pergunto ao Tom sobre você, mas ele diz que você sumiu. Eu não acredito, é claro, mas entendo o lado dele. Você pode ser bem convincente quando quer... Enfim, era isso. Se cuida.

Quando desliguei o telefone, senti-me um pouco mais calma, mas ainda havia tanta coisa dentro de mim. Quando pensei nelas, algumas lágrimas molharam meu rosto. Resolvi ligar de novo.

— Eu sempre ouvi que é melhor se arrepender daquilo que fez do que daquilo que deixou de fazer, então, lá vai... Eu ainda te amo, Simon. Eu te amo com todo o meu corpo e minha alma. Te amo como nunca amei ninguém, de um jeito que eu nem sabia ser possível. Não houve um dia sequer durante esses cinco meses em que estamos afastados que eu não tenha pensado em você, que eu não tenha sentido a sua falta. Eu choro todos os dias antes de dormir porque sei que no dia seguinte você não vai estar aqui. Por mais estranho que tenha sido, te conhecer foi a melhor coisa da minha vida. E eu não me arrependo, nem por um segundo, por ter confiado em você. Eu vou me lembrar para sempre de tudo o que vivemos juntos e mesmo que eu nunca mais te veja, ainda assim, vou te amar. E eu só te liguei hoje porque uma parte de mim ainda tem esperança de te ver novamente. Nem que seja só mais uma vez. Então, se, em algum momento, você pensou em me procurar e duvidou do meu sentimento por você... Nada mudou, Simon. Eu ainda sou completamente louca por você.

Achei que, ao desligar o telefone, me entregaria a um choro desesperado. Mas não foi o que aconteceu. Pelo contrário, eu me senti mais leve, como se tivesse tirado um peso dos meus ombros. Durante todo aquele tempo, Simon e eu não sabíamos o que tinha acontecido um com o outro. Eu não sabia se ele ainda me amava, se ele ainda pensava em mim ou se já tinha me esquecido. Talvez ele estivesse namorando alguém, mas eu não tinha a menor ideia. E o mesmo acontecia com ele. Simon até poderia saber de algumas coisas, através de Tom, mas eu não falava dos meus sentimentos para ele. Então, Simon não saberia se eu estivesse saindo com alguém. Entretanto, isso havia acabado de mudar. Agora Simon teria a certeza de que nada havia mudado para mim. E o destino da nossa relação só dependia dele.

Assisti a todos os filmes possíveis. Pulava de canal em canal, mas não conseguia parar em nenhum. A ansiedade me consumia. Algumas horas já haviam se passado desde minha ligação para Simon e eu ainda não havia recebido nenhuma resposta. Decidi ir para o quarto e tentar dormir. Em poucos minutos, eu já estava apagada. Meu corpo estava exausto por mais um dia de trabalho, mas estava tão ansiosa e agitada que acabei acordando no meio da noite.

Acordei um pouco assustada, com a imagem do Simon em minha cabeça. Eu sentia tanto a sua falta que podia sentir seu perfume em meu quarto. Estava enlouquecendo com aquela situação. Resolvi tomar um copo de água, me levantei e fiquei, por alguns segundos, sentada na beira da cama. Sentia-me um pouco fraca. Olhei para a janela que ficava do outro lado do quarto. Tinha o costume de dormir com a cortina aberta. Gostava de acordar vendo o dia. A noite estava linda, iluminada por um céu estrelado. Quando voltei meus olhos para a porta, percebi alguma coisa. Senti uma forte dor no peito e um calafrio no corpo. Fechei meus olhos porque o que eu tinha acabado de ver não poderia ser verdade. Não era possível. Respirei fundo, abri meus olhos e os levei até a poltrona que ficava num dos cantos do quarto, de frente para a cama e ao lado da janela. A dor no peito aumentou e eu tive a certeza do que era aquilo que meus olhos viam.

ANNIE [Português]Onde histórias criam vida. Descubra agora