Simon estava ocupando um lugar em minha vida que por muitos anos esteve vazio. Eu contava com ele. Era nele que eu confiava e me apoiava para lidar com a loucura em que minha vida havia se transformado. Ele havia saído do lugar de causador dos meus problemas para o lugar de salvador. Eu o olhava de longe, o admirava. Ele vestia calça e camisa brancas. Sua roupa contrastava com a aspereza de sua expressão facial. Aquele rosto me acalmava. Só de olhar em seus olhos, me sentia segura. Simon sorria para mim. Com um sorriso de verdade, mas sem perder a sua essência. Podia senti-lo feliz por estar ao meu lado. Sentia que ele também confiava em mim e contava comigo. Estávamos em um campo de flores. Só nós dois. E, então, senti um peso no estômago, como se levasse um soco. Senti o ar faltar aos meus pulmões. Era a mesma dor que eu havia sentido quando Simon tentou me matar. Eu continuava olhando para aqueles olhos fundos, mas, aí, percebi que eles não sorriam mais para mim. E nós não estávamos num campo de flores. Nós estávamos no quarto. Aquilo era um sonho. Quando finalmente recuperei a consciência, vi que Simon estava sobre mim. O peso em meu estômago era real. Seus olhos estavam abertos, mas pareciam vazios. Era como se ele não estivesse ali. Suas mãos, mais uma vez, envolviam meu pescoço. Simon estava me enforcando e eu já estava quase sem ar. Não conseguia gritar. Também não conseguia mexer meu corpo. Não porque ele me segurava, mas porque eu estava congelada. Estática. De repente, Simon começou a gritar. Sua força em meu pescoço aumentou. Então, aquele seria meu fim. Pelo menos, eu morreria sabendo quem era meu algoz. Finalmente eu o conhecia. E não estava arrependida por ter me envolvido com ele. Simon era a pessoa mais intensa que eu havia conhecido e também a mais verdadeira. Nunca me pediu desculpas por ser quem ele era. Nunca me pediu para aceitá-lo ou amá-lo. E mesmo assim eu o fiz. Eu me apaixonei muito antes de saber que sua frieza era consequência de uma vida de tragédias. Não precisava de explicações. Morreria tranquila olhando os olhos que transformaram a minha vida de uma maneira que eu jamais havia imaginado.
Tudo isso durou menos de um minuto. Quando já estava me entregando, vi Simon se assustar. Ele arregalou os olhos e, em menos de um segundo, suas mãos estavam fora do meu pescoço. Ele continuou me encarando, mas por pouco tempo. Logo saiu de cima de mim e se ajoelhou ao meu lado.
— Annie! – gritou. – Você está me ouvindo? Responda, Annie! Responda.
Ele gritava e sacudia meu corpo, mas eu continuava em estado de choque. Eu podia ouvir sua voz me chamando, mas não conseguia responder-lhe.
— Vamos, Annie, diga alguma coisa. Diga alguma coisa!
Simon estava desesperado. Parecia não saber o que fazer. Eu já estava prestes a responder-lhe quando o vi se levantar da cama. Ele foi na direção de uma mesa que havia no quarto e começou a quebrar tudo o que via pela frente. Copo, vaso, relógio, celulares e até o notebook. Implorei para que ele parasse. Ao ouvir minha voz, Simon parou e me olhou. Mas não se aproximou de mim. Sua respiração estava bastante acelerada. Podia vê-lo contraindo o maxilar de raiva.
— Você está bem? – Perguntou, respirando fundo. – Está sentindo alguma coisa?
— O pescoço está dolorido – respondi. – O que foi isso? O que está acontecendo?
— Vou buscar um remédio.
Sem me responder, ele virou e saiu. Eu já estava acostumada a não entendê-lo, mas não podia aceitar sem ao menos tentar. Respirei fundo, levantei da cama e fui atrás dele. Antes de sair do quarto, ouvi um barulho. Apressei o passo e quando cheguei à sala, vi Simon em pé na cozinha. Ele apoiava os punhos fechados na pia. Vi sangue. Olhei para todos os lados e consegui achar a causa do seu machucado. Uma das portas do armário da cozinha estava quebrada. Provavelmente, ele havia socado aquela porta.
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ANNIE [Português]
RomanceEm um apartamento no Rio de Janeiro, uma jovem médica está prestes a ver sua vida terminar nas mãos de um assassino de aluguel. Não há o que ser feito, a não ser se entregar ao seu destino. Os olhos de Annie estão presos aos olhos de seu algoz. E, a...