— Eu não tenho mais idade para viver essas emoções. – Era a voz de Tom. – Você ainda vai me causar um enfarte – brincou.
Novamente acordei no hospital. Dessa vez, minhas mãos estavam presas à cama. Foi, então, que me lembrei de ter tentado tirar a minha vida. Obviamente, não fui bem-sucedida, mas uma tentativa de suicídio era levada a sério nos hospitais, por isso, minhas mãos estavam presas. Mais uma vez, podia ver o sol pela janela. Na cadeira, Tom. Procurei em vão. Simon não estava ali. Tentei manter a esperança, pensei que talvez ele estivesse comprando um café, mas estava prestes a descobrir a verdade.
— Onde ele está, Tom? – O choro já pressionava meu peito.
— Annie...
— Diz que ele está aqui em algum lugar, por favor...
— Eu sinto muito.
Dessa vez, não tentei me levantar. Só chorei. Tom se aproximou e me abraçou da maneira que pôde.
— Ele pediu para dizer que sente muito – disse enquanto secava meu rosto. –, mas ele não pode mais te causar tanto mal...
— Ele não me faz mal...
— Faz sim, Annie. – Tom tentava segurar o choro. – Ele sabe que sua vida era normal até ele entrar nela. Ele sabe que te transformou numa pessoa que você não é. O que você tentou fazer ontem foi a gota d'água. Simon não pode arriscar que isso aconteça novamente.
— Olha nos meus olhos e diz que você concorda com ele, Tom.
Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos.
— Annie, isso que você está sentindo agora vai passar. Com certeza vai superar isso tudo. Você vai conhecer alguém que leve uma vida normal...
Não consegui respondê-lo. Apenas desviei meus olhos dos dele e encarei a vista da janela. Não podia encará-lo.
— Você merece ser feliz, Annie. Simon quer que você leve uma vida tranquila e sabe que não pode te dar isso.
Permaneci encarando a janela e Tom prosseguiu.
— Ele disse que te perdoa. E pediu o seu perdão também. Ele me pediu que deixasse claro que nunca te achou insuportável.
— É claro que eu o perdoo...
— Ele te ama, Annie. – Tom me interrompeu. – E sempre vai te amar. Você é a mulher da vida dele. Ele nunca vai te esquecer.
Ele voltou a me abraçar e, mais uma vez, disse aquelas coisas que falamos para consolar o outro. Mesmo quando não acreditamos. E eu sabia que Tom não acreditava em nada daquilo que estava dizendo. Eu podia sentir seu tom de desaprovação ao dizer que ficar longe do Simon seria melhor para mim. Mas ele conhecia Simon há anos, não podia traí-lo. Simon havia tomado uma decisão e Tom precisava apoiá-lo, mesmo sendo contra. Tom me contou que o tiro não acertou ninguém. Antes que eu pudesse apertar o gatilho, Simon conseguiu desviar a arma e a bala acabou atingindo a parede. Fiquei dois dias no hospital e, então, fui liberada sob responsabilidade de Tom. E, enfim, segui para o Brasil.
~
Tom me acompanhou até o Brasil. Dava para perceber que ele não fazia apenas por Simon, mas também porque tinha carinho por mim. Ele achou melhor me preparar antes que eu voltasse para minha casa, por isso, seguimos para um hotel. Ele também achava mais seguro alertar a polícia antes de eu retomar minha rotina.
— Você já abriu o envelope com as provas, Annie? – Perguntou.
— Ainda não – respondi distraída.
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ANNIE [Português]
RomanceEm um apartamento no Rio de Janeiro, uma jovem médica está prestes a ver sua vida terminar nas mãos de um assassino de aluguel. Não há o que ser feito, a não ser se entregar ao seu destino. Os olhos de Annie estão presos aos olhos de seu algoz. E, a...