Talvez

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O fogo lambia as portas do banheiro. A fumaça negra me cegava e enchia meus pulmões. Olhei para a pequena janela. Pequena demais para meu corpo passar. Puxei meus cabelos desesperado. Ouvi um barulho alto de algo quebrando e caindo.

- SKY! - Ouvi meu nome ser gritado, me aproximei da porta em chamas.

- EU ESTOU AQUI - gritei.

Logo ouvi o primeiro baque na porta.

- Se afasta da porta - A voz por trás da porta expressava cansaço e dor.

Mais um baque, as dobradiças rangeram enquanto a fechadura vibrava nas chamas.

Mais um baque, a porta se partiu e o corpo de Mathews caiu aos meus pés. Seu rosto estava vermelho escurecido pela fumaça escura e fedida.

Ele se levantou seu corpo envolveu o meu.

- Você está bem? - ele perguntou baixo. Assenti com a cabeça sentindo a fumaça rodopiarem em meus pulmões. - Eu vou te tirar daqui.

Sua mão esquerda agarrou meu pulso. Pulamos a porta destruída, o fogo ainda se alimentava da madeira, do mesmo jeito que meu quarto também era devorado pela mesma.

A porta do quarto também se encontrava arrombada. Corremos pelo corredor do segundo andar que era engolido. Minhas pernas tremiam, meu coração vibrava dentro do meu peito. Chegamos aos lances de escadas. Eu sentia a esperança de que iríamos sair dali vivos crescendo. Descemos as escadas, o vapor quente misturado com a fumaça, deixava minha visão turva e zonza.

Matthews apertou meu pulso quando vimos a porta de saída. Ele me olhou com um sorriso encorajador.

Foi quando um estouro se fez presente. Meu corpo foi empurrado para o lado, a tempo em que uma vidraça estourava. Minha cabeça rodopiava. Meu peito queimava como fogo e meus ouvidos vibravam pela explosão.

Meus olhos encontraram os de Matthews que estava jogado no chão. Meu olhar se desviou-se para a perna esquerda dele onde um pedaço enorme de vidro se projetava. Me rastejei para perto dele.

- Vai Sky - sua voz tava baixa e fraca.

- Não.

- Por que não? - seus olhos me interrogaram, cheios de dor.

- Pelo mesmo motivo pelo qual você entrou aqui para me salvar - respondi.

- Eu não estou conseguindo andar Sky... - ele disse em um fio de voz - Vai, por favor, eu te amo.

Sua voz perdeu a força enquanto seus olhos esverdeados se fechavam.

Um grito rouco saiu da minha garganta, quando outra vidraça explodiu, um pedaço dela se cravando em meu antebraço esquerdo. Olhei para a porta. Ela estava a 10 metros de distância. Me levantei com dificuldade. Meu braço parecia estar em chamas. Agarrei as mãos de Mathews, começando a puxa-lo, ele era pesado, mas eu não podia deixa-lo. Algo em meu peito doía e gritava enquanto em minha mente momentos nossos vinham, me dando cada vez mais força.

A primeira vez que o vi, seus cabelos ruivos brilhando e seu olhar curioso em mim. Senti as forças nos meus braços voltarem. 

9 metros.

Nós dois lutando contra gansos, um ao lado do outro. Minha coragem retornou como mágica.

8 metros.

Ele cortando uma parte do seu cabelo para fazer com que eu me sentisse bem e prometendo sempre ficar comigo. Eu não sentia mais dor no meu corpo.

7 metros.

O dia em que o avô dele morreu e ele me confiou sua parte mais frágil. Respirei fundo ignorando a fumaça.

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